quarta-feira, 13 de março de 2013

A BREVIDADE DOS PAPAS

       Nada contra, mas pensei que escolheriam um papa mais novo. Que Franscico I, o argentino, seja eterno, mas o que saiu não tinha sentido a idade, o coração, a falta de forças diante das tantas e intermináveis tarefas...?
     Estava convicto de que haveria mais sabedoria nesse chamamento divino para seu representante na Terra, sobretudo pensando na recente história dos pontificados, que contrasta o longo e bem sucedido governo do Estado do Vaticano, e de seus fieis pelo mundo, por João Paulo II e a - permitam-me - pífia e breve estadia de Bento XVI à frente do poder político religioso desse poderoso Estado-igreja, com sua renúncia.
      Que os brasileiros se deem bem nessa relação vicária e até idolatrem o papa argentino e que este seja bem sucedido independentemente do tempo que governe, apesar de que o rei em seu país, acredito, será ainda o popular e irreverente Maradona.
Elói Alves
 
Leia Prefácio do romance "As pílulas do Santo Cristo" de Elói Alves
Primeito capítulo:
Segundo Capítulo:
 
 

sábado, 9 de março de 2013

A COISA PRIVADA OU A ODISSEIA DE UMA PORTA

         Os apologistas da iniciativa privada me desculpem, mas os resultados desta nem sempre nos satisfazem, ou ao menos nos aliviam a nossa vida, quando não nos esgotam totalmente ao fim de um esforço e, revoltados, ficamos com o humor ressecado.
       Primeiramente foi a janela de alumínio preto: medida, comprada, paga e, depois de um mês, não a tendo ainda recebido, informaram-me que estava agora sendo pintada. Pela demora, imaginei que seria extraída de alguma prospecção em minas nos confins do norte da Escandinava.
     Depois, uma porta de madeira, igualmente comprada e paga com antecedência. Uma semana para montar e entregar, mas na data: nada. Chegou, finalmente, depois de alguns telefonemas e mais quinze dias.
    Olho-a e estranho o desenho na madeira entre os batentes. Os entregadores, da portaria do prédio, desapareceram rapidamente. O Márcio, depois que subimos pelo elevador de serviço, pergunta-me de novo sobre o lado para o qual abriria. Confirmo: “o direito”. Ele olha o lado do desenho, passa a mão sobre a porta e diz:
      -Está montada do lado errado.
     Ligo imediatamente para a loja. É sábado, o relógio marca uma hora da tarde; na loja me informam que o problema é com outro departamento. Faço a chamada, a pessoa que resolveria o problema já se foi.
     -Ligue na segunda feira. Bom fim de semana!
    Os entusiastas do mercado livre e da economia liberal não se cansam de apregoar que o Estado não deve intervir e a economia deve-se auto-regular, seguindo unilateralmente a lei da oferta e da procura.
    Huerta de Soto, um economista muito badalado na atualidade, ocupou horas e horas da televisão espanhola afirmando apaixonadamente que a intervenção do Estado era sempre prejudicial à economia e que o “mercado possui seus próprios mecanismos que detectam seus erros durante o período de crise e os saneia na etapa imediata”. Que “as quebras e o fechamento de vagas de emprego são já um sinal da recuperação”. No entanto, na própria Espanha, com o dia-a-dia desmentindo a teoria, a crise prolonga-se indefinidamente e os empresários e banqueiros socorreram-se com recursos públicos pedidos ao governo e o Estado, para evitar maiores danos, tratou de impor medidas restritivas, controles ficais entre outras medidas.
     Os desajustes da economia, a questão dos ciclos econômicos não está na intervenção do Estado, mas passa pelo modo como o seus agentes atuam. O controle e a fiscalização dos abusos do setor privado pelo poder público são indispensáveis e o problema está, entre outros, na “venda de facilidades”, na facilitação ilegal, na corrupção que favorece o funcionamento de empresas ineficientes e irresponsáveis.
     A coisa privada funcionando sem olhares vigilantes e atentos, que a fiscalizem seriamente e inibam seus abusos, começa a exalar odores que são, realmente, difíceis de se respirar.
Elói Alves

Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de Eloi Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html

Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
Adquirir o livro:http://realcomarte.blogspot.com.br/p/as-pilulas-do-santo-cristo-adquiri.html
 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O EU E A FLOR

1
     Perco-me na confusão do horizonte incerto
     Os tempos não me levam à distração
     Agito-me na agitação frenética que há em mim
 
2
 
     Sossego diante de uma flor - tão tênue
     Que exala-se, desmanchando-se no mundo como eu
 
        Elói Alves



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O GOVERNO E OS VICIADOS

     
       Um homem que alugou meus ouvidos em uma fila em que aguardava para pagar conta, hoje à tarde, disse-me, interrompendo minha leitura, "que dar dinheiro aos políticos na forma de impostos ou em quaisquer outras formas é como dar uma farmácia para um viciado tomar conta".
       Não quis concordar com ele, mas também não iria discordar; achei que tão-somente bastava fazer uns grunhidos ininteligíveis e olhá-lo de soslaio e concentrar-me na minha leitura bocageana.
         Mas achei muito injusta a danada da comparação, pois seriam mesmo os políticos um bando de viciados em dinheiro? E, como se doesse pouco, viciados em dinheiro alheio? Fruto de suor  derramado de gente, de  humanos?
       Acho também que este maluco não terá o apoio do povo nesse seu pensamento insano nem achará, nestas terras a nenhuma outra igualáveis, alguém que apoiará tão injusto raciocínio.
       O povo, embora reclame aqui e acolá, com seu charme de quem acorda maldormido, não tem sempre estado com o governo e com os governos? Desde sempre não está ele até mesmo louvando seus pais magnânimos e os construtores de sua verdadeira felicidade nacional? O futuro grandioso que ninguém nunca antes lhe dera? Não é o governo o único regedor das maravilhosas alegrias cantadas em todos seus discursos heroicos? Não há mesmo quem nos seja capaz de esmurrar-nos se ao menos ousarmos tocar levemente no sagrado nome de seus paizinhos políticos?
       Pois bem, deixe-me, seu louco, com o meu Bocage porque eu e nem povo lhe daremos quaisquer ouvidos.

Zé Nesfasto Perguntero


 


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O RÍDICULO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

       Os escandalosos tumultos que estão marcando a passagem da blogueira cubana,Yoani Sánchez, pelo Brasil é típico de nossa estrutura política desorganizada e pueril e de nossa formação cultural e educacional tão problemática, mas não é só isso, infelizmente.
      No Brasil ainda se confunde liberdade de expressão com a intolerância ao direto de pensar diferente, de caminhar por caminho alternativo. A tentativa de impedir a cubana, que se opõe ao regime que vigora em Cuba a cerca de meio século, de visitar este país mostra exatamente as tendências totalitárias que ainda permanecem em nossa sociedade e no comportamento político de suas organizações partidárias e do sectarismo político cego, aderente somente a interesses de grupos.
       Agitações dessa estirpe mostram ainda a incapacidade de se conviver com ideias diferentes e a face ditatorial de quem se fecha à crítica, como na frase histórica do "ame-o ou deixe-o" que se pode traduzir em cale-se ou mude-se de país. Este comportamento insensato apenas dá à blogueira um espaço na mídia que sem alarde ela não conseguiria e sua visita seria bem mais discreta.
       Quanto ao regime dos irmãos Castro, não se trata de negar suas grandes conquistas, em relação aos desmandos de Fulgêncio Batista, quando a Ilha era apenas "um parque de diversão para os turistas e para os interesses norte-americano. A questão primordial é - e isto diminui seus acertos - que o regime de Fidel e Raul tornou-se cruel para todo cidadão cubano que pretenda pensar diferente, a quem, se o fizer, terá certamente como inimigo todo o aparato daquele Estado.
Elói Alves
 


 
 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O POLÍTICO E SEUS FÃS NA INTERNET

       Um amigo de facebook, que não conheço pessoalmente, mas que parce-me inteligente e de ideias sensatas, enviou-me um convite naquela rede social para adicionar um perfil de um político que está hoje em princípio de carreira, vindo a público pela mão de um velho combatente das lidas discursivas.
       Na página do político apadrinhado registra-se uma observação de que aquela é apenas para seus fãs e destina-se aos admiradores de seus trabalhos.
       Fico na dúvida! Apesar de não me sentir bem com a amizade de políticos, porque na Roma Antiga eles mesmos se apunhalavam pelas costas, devo ser um amigo-fã deste noviciado político? Se sim, de que ato seu devo me admirar? Da independência apadrinhada ou de trabalhos ocultos anteriores a seu afilhamento político?
       Devo dar a mão a outros para subir as escadinhas? Como já caí muitas vezes por esta minha pobre vida, sempre levantando rápido para não ser atropelado pelas multidões de passantes que correm atrás do pão nosso de todo dia, já estou com as pernas um pouco resitentes e também com as mãos um pouco àsperas e até calejadas para ir dando-as assim aos outros para subir as rampinhas. Desta forma, fico agradecido a esse companheiro facebookiano; e que passe bem e deixe-me ir ali correndo fazer umas coisinhas que não posso delegar a outrem.
Zé Nesfato Perguntero
Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de Eloi Alves:

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O CHINÊS, O CARIOCA E UM ACREANO NA PAULICEIA DEGRADADA

       Almoçando no chinês barateiro – que referi em Sob o ceu da cidade – observei um movimento de ir-e-vir de duplas policiais. Estranhei.
       -Estão policiando o calçadão da São João?
       O moço Faz-tudo do restaurante terminou de me servir e foi à porta.
       -Estão procurando mercadorias de camelô para prender - disse-me com um sorrizinho maroto.
       Terminei o almoço e desci o calçadão, cortando pelo Vale do Anhangabaú. Nada de novo debaixo deste cinzento céu paulistano. Forravam o imenso vale bêbados e drogados, contorcendo-se pelo chão como minhocas urbanas. Lá e cá, fumegavam o cheiro de droga mesclado a outras excrementícies. Além dos assaltos aos passantes com que já vou me habituando, aos vizinhos de prédio e conhecidos, deparo-me com os pedintes de um real, “para a comida”, que vão logo almoçar nos restaurantes gratuitos da Prefeitura ou comer a sopa das ONGs, guardando devidamente o dinheiro dos traficantes, que não gratuitizam seus produtos.
       Em casa, tomo meu café quando o Márcio bate à porta. O carioca se diz ladrilheiro, mas está a reformar todo meu apartamento, redefinindo espaços e modernizando tubos, exceto a elétrica, que deixa para o gentil e culto sogro acreano e me diz rindo:
       -Com fio eu me borro.
       Pego a marreta enquanto ele suga seu trigésimo cigarro com a cara branca de pó da maquita. Quebro com o ponteiro, marreteando nas partes mais fáceis e deixo o concreto denso para ele.
        -Aqui no centro você não consegue ajudante - me diz, livrando-se da bituca. Acham que lucram muito mais perambulando atoa pela ruas.
Eloi Alves
 
Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de Eloi Alves:
 
 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

SOBRE O ENGANO DOS DADOS

         Numa universidade, cujos números colocam, hoje, como a primeira da América Latina, um professor doutor já próximo da aposentadoria compulsória intercalou às historietas com que preenchia suas aulas noturnas de Fonética a explicação de que “não trabalhava em cima dos dados, e sim com estes à sua frente. Isso mostra um pouco da nossa idolatria pelos dados estatísticos.
        A esse modo, os políticos e seus tecnocratas afirmam todos os dias que o “número de homicídios caiu”, que o índices de mortos nas estradas tendem a reduzir-se” e que ''os cálculos mostram que a economia tem crescido e a curva no gráfico evidenciam a tendência de melhorias para o setor X ou Y.
       Independentemente dos critérios e interpretações que cada um tem em relação aos dados que utiliza - além dos interesses intrínsecos - esses instrumentos não podem medir a realidade da vida das pessoas, porque não podem penetrá-la. Os Governos e seus técnicos não podem ainda medir sua própria incapacidade e ignorância e mesmo sua irresponsabilidade, pois estas são já imensuráveis e restam-lhes apenas o recurso da força retórica dos dados, que impressiona profundamente uma sociedade fragilizada, ingênua e romanticamente incapaz de quaisquer tipos de reflexão sobre seus problemas históricos e culturais que lhe faça enxergar e superar seus vícios estruturais e suas fragilidades sistêmicas.
       Os dados colocam hoje este país entre as economias mais prósperas do planeta e é, ao mesmo tempo, incapaz de quantificar e iluminar nossa profunda miséria real: a ignorância cultural da classe política, da perigosa fragilidade das instituições do Estado e o estado mórbido do organismo social impossibilitado de reagir ao seu coma cultural e cívico, sua morbidez racional.
      Os dados jogados na mesa dos intelectuais e dos tecnocratas políticos, à frente ou em cima dos quais trabalham, fazem-me apenas lembrar dos dados jogados pelos videntes da sorte alheia que espalham-se pelo Viaduto do Chá ou atendem em lugares mais cultuados pelo grande número de freqüentadores.
Elói Alves
 
Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de Eloi Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html

Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
 

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