sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

OS MONÓLOGOS DA VAGINA E O CAOS DO BIXIGA NA "BELA VISTA PAULISTANA"*

      No Bixiga - bairro central de São Paulo -, o Teatro Brigadeiro apresenta “Os monólogos da vagina”, em alguns horários; em seu entorno, a todas as horas, espalham-se o cheiro intragável de todos os tipos de imundície: sujeiras na calçada, lixos pela rua, assaltos à faca e a revolver, pessoas decompondo-se, entre trapos de cobertores ao pé do   imponente Tribunal Eleitoral – TRE – na rua Maria Marcolina, nas imediações do Bibi Ferreira e à frente da Câmara Municipal, essa irretocável casa de leis, de cujas calçadas os cheiros arrepiantes de todos os dejetos, humanos e inumanos, não exalam menos fétidos, basta se aproximar.
       Em meu livro, As pílulas do Santo Cristo, uma pequena parte do centro paulistano, em que se dá o espaço físico da narrativa, esta situação já havia sido deflagrada, entreposta às peculiaridades artísticas do gênero do texto. No entanto, esta profunda “merdização” do espaço paulistano vai-se ampliando indefinidamente, como se vê - e já se via anteriormente nas proximidades da Luz, e agora, nos bairros da Liberdade, do Bixiga - pertencente "à chamada Bela Vista" -, da Consolação, já a ponto de infiltrar-se no centro financeiro da Avenida Paulista, que por sua vez ladeia-se dos poderosos políticos e seus amigos ricaços dos Jardins, onde a segurança particular é visível pelas cabines de guardas particulares à beira das ruas, no espaço público.
       Darci Ribeiro achava, empolgado, que o destino do Brasil era tornar-se “uma grande Roma”. Na verdade, querido autor de “O povo brasileiro”, sempre o fomos; mas a Roma do império corrupto decadente, no qual os chefes das elites se matavam a punhaladas traiçoeiras para ocupar o posto máximo do poder, corrompendo soldados, senadores e entretendo o povo com trigo e os combates dos gladiadores morrituri, “os que iam para a morte”, sob aplausos dos frequentadores do Coliseu .
       Mas jamais seremos – digo como observador de nossas instituições e de toda a escatologia mais fétida do quotidiano – a Roma da República alicerçada no direito, em que se fundamentou o sistema jurídico ocidental posterior, e à qual prestavam conta os generais como cidadãos sem armas e deixando suas legiões fora da cidade, antes de adentrá-la; tampouco, o império para o qual todo o mundo pagou tributo.
        Na realidade o que há, evidente por nossos heranças históricas, pelo espírito nada voltado a superação de nossas limitações arraigadas no âmago, pelo menos em parte, de nossa cultura, de nossa sociedade, pela deficiência de nossas organização estatal e de nossa cultura política de vantagens pessoais e partidárias, do apego mesquinho ao poder, do desprezo absoluto às leis confiante no dinheiro e na jurisprudência dos criminalistas, o que se mostra evidente é uma romização (no sentido de sua etapa última) no desaparecimento inevitável de suas rudimentares e frágeis estruturas e, enfim, o estabelecimento crescente da selva na cidade.
Elói Alves
(* Repostei este texto com uma mudança para torná-lo mais claro, publicando os gentis comentários anteriores .)

Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de Eloi Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html

Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html

Adquirir o livro:http://realcomarte.blogspot.com.br/p/as-pilulas-do-santo-cristo-adquiri.html

Postagens populares (letrófilo 2 anos 22/6)