Numa
universidade, cujos números colocam, hoje, como a primeira da
América Latina, um professor doutor já próximo
da aposentadoria
compulsória intercalou às historietas com que
preenchia suas aulas noturnas de Fonética a explicação
de que “não trabalhava em cima dos dados, e sim com estes à
sua frente. Isso mostra um pouco da nossa idolatria pelos dados
estatísticos.
A
esse modo, os políticos e seus tecnocratas afirmam
todos os dias que o “número de homicídios caiu”,
que o índices de mortos nas estradas tendem a reduzir-se” e
que ''os cálculos mostram que a economia tem crescido e a
curva no gráfico evidenciam a tendência de melhorias para o
setor X ou Y.
Independentemente
dos critérios e interpretações que cada um tem
em relação aos dados que utiliza - além dos interesses intrínsecos - esses instrumentos
não podem medir a realidade da vida das pessoas, porque não
podem penetrá-la. Os Governos e seus técnicos não
podem ainda medir sua própria incapacidade e ignorância
e mesmo sua irresponsabilidade, pois estas são já
imensuráveis e restam-lhes apenas o recurso da força
retórica dos dados, que impressiona profundamente uma
sociedade fragilizada, ingênua e romanticamente incapaz
de quaisquer tipos de reflexão sobre seus problemas históricos
e culturais que lhe faça enxergar e superar seus vícios
estruturais e suas fragilidades sistêmicas.
Os dados
colocam hoje este país entre as economias mais prósperas
do planeta e é, ao mesmo tempo, incapaz de quantificar e
iluminar nossa profunda miséria real: a ignorância
cultural da classe política, da perigosa fragilidade das
instituições do Estado e o estado mórbido
do organismo social impossibilitado de reagir ao seu coma cultural e
cívico, sua morbidez racional.
Os
dados jogados na mesa dos intelectuais e dos tecnocratas
políticos, à frente ou em cima dos quais trabalham,
fazem-me apenas lembrar dos dados jogados pelos videntes da sorte
alheia que espalham-se pelo Viaduto do Chá ou atendem em
lugares mais cultuados pelo grande número de freqüentadores.
Elói Alves
Leia o primeiro capítulo de As pílulas
do Santo Cristo romance de Eloi
Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html
Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo
escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
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