terça-feira, 30 de julho de 2013

A NAVE BRASIL - Perguntero

      

     A pergunta parece óbvia, mas ela cabe: quem se arriscaria a embarcar num avião cujo piloto nunca sabe das coisas e, além  dele, essa característica degenerativa se espalhasse para  seu copiloto e demais tripulantes?
      Talvez o perigo fosse menor num navio do qual os passageiros - como é tradição nos naufrágios- pudessem sair antes que a tripulação, escapando nos botes ou salvos por barcos vizinhos.
      O problema se torna complexo quando se sai da ficção e se vê que o navio pode ser o país e todos seus passageiros-cidadãos veem-se sob desgovernos vários, que não sabem o que o povo realmente sofre, quem verdadeiramente o rouba, que a justiça realmente não anda. Pelo menos não anda em certa direção, porque para não punir, para não repatriar recursos desviados, ela é orgânica e estruturalmente veloz.
      Quando se trata de imunizar corruptos, fraudadores dos cofres públicos, as leis e seu cumprimento são céleres e ágeis como um fórmula 1, nada tendo por aí de moroso.
      O que se vê na realidade, na imensa Nave Brasil, é que o piloto e seus serviçais não sofrem qualquer escoriação, mesmo que as turbulências sejam fatais para a maioria. Para aqueles, sempre há uma saída especial cuja alcunha é conhecida como imunidade, foro privilegiado, jurisprudência, recursos incontáveis e, em último caso, um habeas corpus preventivo que lhe reafirma o direito de permanecer calado para não ter o dissabor de se explicar nem confessar improbidades.
      - Você aí, trouxe o passaporte ou o bilhete único do transporte público?
Zé Nefasto Perguntero

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