Quando
o atual ministro da educação, o político
petista Mercadante, colocou suas mãos na pasta da educação
brasileira em substituição ao atual prefeito de São
Paulo, que saíra para se candidatar a chefe municipal sob
orientação de seu tutor político, o antecessor
da atual mandatária do Planalto, o governo do PT publicou
nota onde afirmava que o novo gestor educacional continuaria “a
revolução promovida por seu governo na educação
do país”. Mesma fala, mas em ministério diferente, se
deu na posse da política petista Marta Suplicy na chefia da
cultura nacional, que, segundo nota do governo, também assumia
para continuar a “revolução” na área
cultural.
Não
entendo o que os petistas conhecem por revolução, nem
sei exatamente o que eles entendem por revolução
educacional e cultural, mas o referido na nota era especificamente o
programa do PROUNI que só-mente em algumas cabeças
célebres poderia ser chamado de revolucionário, pois
nada há aí com força de mudar estruturas, rever
o tipo de educação oferecida à maioria da
população, redefinir modelos ou reverter rumos
equivocados da política nacional ou liberar a população
das opressões históricas, gerar hábitos de
reflexão filosóficas ou indicar a promoção
de uma cultura crítica e civicamente participativa, que é
o que indica algo revolucionário, sobretudo no panorama de
nossa história onde ao povo coube e cabe noções
grosseiras e utilitárias voltadas à produção
básica e não especializada e mesmo alguma qualificação
primária visa ao enquadramento às necessidades do
capital industrial; isto é, há em alguns poucos casos
um enquadramento de pessoas como peças para setores mais específicos do
mercado.
A propaganda rasa e rasteira pode gerar equívocos e até enganar, mas ela não esconde a evidência que mostra que a simples substituição de uma peça por
outra, ou de um partido por outro, de um coronel por outro de tipo
renovado, um neo-coronelismo, que é o que se deu com o
advento do PT ao Planalto, não proporciona um só
elemento revolucionário em hipótese alguma. Isto porque
não houve redefinição do modelo histórico
de exploração da ignorância popular ou
substituição das classes opressoras, mas sim- e somente-
deu-se a ascensão de um novo grupo de políticos,
aglutinando-se com os antigos, sem eliminá-los, mas compondo
com eles, com todos os antigos coroneis e donos do país, que -
os novos ocupantes do poder - trouxeram consigo seus ajudantes que
chamamos correligionários ou militantes, assumindo cargos de
confiança, espoliando ainda mais os recursos públicos
uma vez que, agora, é preciso sustentar uma estrutura
partidária muita mais inchada e muitíssimo mais sedenta
de recursos que os locupletem.
O
PROUNI e mesmo o FIES, anterior ao governo do PT, são
financiamentos de cursos em faculdades privadas que não trazem
qualquer índice revolucionário no que se refere à
qualidade da educação. Ao contrário, o ingresso
de amplo número de alunos nas faculdades particulares sem
qualquer rigor na qualidade do ensino, sem um vestibular criterioso
já aponta para a má qualidade dos cursos que fornecem
diplomas sem uma formação razoável. O diploma
por si só não é, obviamente, indicador de
oportunidades de melhorias de vida, de melhores empregos e formação
de uma sociedade mais preparada para decisões políticas
e cívicas. No limite, além da rentabilidade e
transferência de renda para as empresas educacionais privavas,
esses programas promovem números e estatísticas de
diplomados com a triste ampliação do analfabetismo
funcional entre os que concluíram o ensino superior.
A
menos que haja muita pressão popular, a educação
no Brasil nunca mudará efetivamente de rumo; ao revés disso,
o engodo se perpetua com propagandas, discursos e programas que visam
a gerar dependência e não liberar a sociedade rumo à
ampliação cultural e educacional, que geraria
independência política e aumento de controle do poder
público pela sociedade, muito diferente do que há hoje
no país.
Com
o governo do ex-ministro da educação petista na
prefeitura de São Paulo, diferentemente do que muitos
ingênuos achavam, a educação é tratada
exatamente como instrumento de manutenção da
ignorância, como ferramenta de promoção de
subserviência política e eleitoral. A diferença é
que o fazem com maior truculência e ironia que seus antigos
rivais políicos, hoje aliados - como Maluf -, mandando para câmara municipal, como
acabara de fazer, um projeto de reposição salarial de
0,01% para ser votado; desrespeito tamanho que os próprios
vereadores se negaram a encarar, oferecendo outro ridículo
aumento de 0,18% para votação. Isso gerou uma histórica
união de sindicatos na decretação de uma greve
que levou às ruas até mesmo muitos que ainda defendem o
partido que ocupa o poder federal e municipal e aos gritos de
milhares de pessoas que chamavam o prefeito do PT de malufista.
Outra
questão a verificar, e que os petistas não encaram, é
o problema estrutural da educação no Brasil. Este fato
a chamada revolução desses políticos não
pode mudar, porque é ineficiente, míope e
desinteressada. O Brasil tem importado engenheiros e agora o próprio
governo federal importará médicos em massa, exatamente
porque não consegue formá-los aqui, devido, entre
outras, à deficiência de seus programas como o PROUNI. A
educação e seus profissionais são ironizados e
avacalhados em todo o país e os postos de comando das pastas
educacionais são ocupadas por homens de partido e
apadrinhados políticos e não por profissionais
adequados e sensíveis à causa da educação.
Esta ideia de revolução, tão audaciosa quando risível, não pode sequer ser elevada à categoria de conceito. Ela traz em si o fantástico equívoco de formulação em sua direção pelo fato de estar apontada para o topo e não para base, para a saída e não para a porta de entrada, que é aducação básica. Por isso, esse tipo de ideia seria muito mais justa se a apelidássemos de "estética do telhado". Algo inócuo mais fácil de se mostrar por sua posição no alto, posta de cima para baixo.
Esta ideia de revolução, tão audaciosa quando risível, não pode sequer ser elevada à categoria de conceito. Ela traz em si o fantástico equívoco de formulação em sua direção pelo fato de estar apontada para o topo e não para base, para a saída e não para a porta de entrada, que é aducação básica. Por isso, esse tipo de ideia seria muito mais justa se a apelidássemos de "estética do telhado". Algo inócuo mais fácil de se mostrar por sua posição no alto, posta de cima para baixo.
Por
fim, o pensamento e modo de atuar dos políticos que se
denominam “revolucionários” ao chegarem ao poder
demonstram a mesma cultura das velhas classes políticas, das
eternas oligarquias, desde os barões do açúcar e
do café até os donos das concessões públicas
de rádio e televisão de todo o país, inclusive
com as práticas de corrupção que evidenciam que
o que chamam de revolução cultural é, a efeito,
um conjunto de práticas arcaicas e podres, algo tão
nefasto e corrosivo como todos os males mais vis e mais condenáveis
que, tragicamente, nunca conseguimos expelir do seio da sociedade brasileira.
Elói
Alves
Leia o prefácio do romance "As pílulas do Santo Cristo" de Elói Alves
Primeito
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