Numa andança peripatética pelo Centro Velho, com
meu parceiro de análises literárias, o psicanalista Maciel, interrompemos a
conversa para observar uma sui generis concentração de pessoas na Praça do
Patriarca, extensão do Viaduto do Chá, onde se instala, hoje, a sede da
Prefeitura paulistana.
Entre os moradores de rua, que habitualmente se
hospedam nesse espaço, havia um ajuntamento maior, destacando-se no meio um
grupo de japoneses com roupões pretos, a maneira de kimonos. Próximo a eles,
algumas mesas, de plástico branco, estavam justapostas, ainda vazias.
Pareceu-me alguma oficina de jogos orientais, mas logo percebi pela disposição
de uma fila ordeira tratar-se de alguma organização destas que distribuem
comida pelas praças do centro da cidade.
A fila, que era pequena há instantes, logo
triplicou-se, e ia aumentando ainda. Uma Reclamação brotou do meio para trás.
Desse burburinho gritou um dos reclamantes:
- A sopa, japonês!
Foi o suficiente para uma confusão fermentar, e,
sem que que se percebesse, três ou quatro rolaram pelo chão. Num instante, a
sopa foi esquecida e os contendores eram já incontáveis.
Outros observadores, que cruzavam a praça, se
juntaram a nós, fazendo crescer também a reunião de observadores curiosos. Um
homem que parou ao meu lado, abriu uma bolsa e me mostrou um notebook: “está
novo e barato”. Agradeci e me direcionei para a rua São Bento, em direção ao
Mosteiro, voltando-me um pouco para esperar Maciel. Nesse instante, entre nós
parou um homem que pedia dinheiro para comer.
-Qualquer trocado.
Realmente não levava dinheiro. Sai sem lhe dar
mais que essa negativa e só depois me ocorreu de lhe dizer que, logo que a
confusão esfriasse, provasse da sopa do japonês.
Elói Alves