sábado, 11 de fevereiro de 2012

TIO GERBÚLIO E O EVANGELHO DE JUDAS ISCARIOTE

    Tio Gerbúlio tinha o raro privilégio de entrar, quando quisesse, na enorme biblioteca de padre Gelfrido, no subsolo da igreja. Um dia, em que fazia uns reparos nas prateleiras, a pedido do padre, achou um livro estranho. Na capa, trazia os dizeres latinos “Index librorum proibitorum” e sua tradução livre, abaixo: “livro excomungado”.
     Estava amarelecido pelo tempo, algumas folhas estavam soltas. Tio Gerbúlio ia abrindo-o, curioso, quando leu na contra-capa: “EVANGELHO DE JUDAS ISCARIOTE.”
    O prefácio, que ele passou rápido, trazia uma tese do ex-bispo de Laodicéia Germálio Charles Latao, que provava sua veracidade teológica. Depois, mais a frente, parou no título do capítulo 6, que dizia:“JESUS, O JOGO E O BÊBADO”, e foi lendo, ao seu modo, vagaroso:
   “E tendo os dicípulos ido comprar comida, logo começou uma chuvinha fina e triste. E o cheiro de pó subia da terra. Mas como o solo não era firme, o jumento de Tomé, onde Jesus ia montado, atolou no barro. E como não houve meio de desatolá-lo, Jesus foi a uma taverna próxima para pedir ajuda a uns homens que jogavam valendo.
     E eles lhe disseram:
    -Bom mestre, hoje não o seguiremos, pois jogamos a dinheiro.
E tendo Jesus voltado ao jumento atolado, viu um bêbado que vinha atrás para ajudá-lo.
    E como o homem pouco parava de pé, erguendo-se da água e caindo no barro, Jesus tentou inutilmente despedi-lo.
     -Mas eu posso ajudar, insistia o bêbado!
   Depois de muitas tentativas, o jumento saiu da lama e Jesus seguiu montado por um caminho mais firme. Agradecido, ele virou-se ainda para o bêbado e o abençoou com estas palvras:
     -A partir de hoje, maldito será o jogo, mas, a você, amigo, nunca faltará quem pague uma pinguinha.
      E assim se cumpre até o dia de hoje.”

Jão Gerbulius Sobrinho

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