Escrevi por ai abaixo, em uma destas minhas colunas perguntadoras, que os políticos não morriam, encarnavam, antes, em seus afilhados. E veja que o enviado do defunto Chávez, Nicolás Maduro, ainda que verde como presidente da Venezuela, surge agora com essa: criou o “vice ministério da suprema felicidade”, cuja função é cuidar dos sem-teto, dos desvalidos, dos idosos e das crianças. Não é magnífico um ministério de tamanho alcance, de tamanha pujança, um departamento político da suprema felicidade? Não será que esse país andino se tornará agora o destino de toda alma sensível e esperançosa?
Apesar de
ter sido eleito num pleito apertadíssimo e até
questionado na justiça, que promoveu recontagem de votos,
Maduro já tinha me encantado antes. Esse meu encantamento por
ele se deu quando disse em comício ter se comunicado com o
“comandante” Chaves através de uma passarinho. “O
passarinho assobiou para mim- disse ele, eu assobiei para ele e vi que era o
espírito do comandante”. Não digo que Chávez não
possa aparecer de algum modo; a mim me parece que ele está todo aí, na pobre Venezuela de rico petróleo; está
aí na figura de seu sucessor, não acham? Ou acham que Chávez não teria capacidade de criar um setor administrativo e burocrático com poder de propiciar a suprema felicidade?
Sabe-se
que a questão da felicidade da pessoa humana é algo
complexo, sobretudo hoje em dia, quando suas carências são
sucessivas e suas demandas contínuas, e uma suprema felicidade
parece mais algo superior ao poder do Estado e de sua política
que promove continuamente a infelicidade da pessoa humana por variados meios; no entanto, tudo agora será diferente.
Essa
criação canetiva da suprema felicidade me lembrou
imediatamente de um filhote de deus, que, havendo iniciado há
pouco no governo, dizia já ter feito mais que qualquer outro
em toda a história de seu país e que, no fim, acabou com o seu
governo atolado na infelicidade da sujeira da corrupção,
igual ou até pior a tantos outros contra os quais roucamente havia gritado até a hora em que chegou ao poder. Mas vamos ao país da suprema felicidade, ou não vamos?
Zé Nefasto Perguntero
contos humanos
próximo livro do autor será lançado em novembro
Leia o prefácio do livro Contos humanos, escrito por Jácomo Facio Neto: