Passado
o impacto inicial das manifestações e protestos que se
espalharam pelo país, partido da rejeição
popular ao aumento dos preços do transporte público para a cobrança de mudanças na política brasileira, que se fortaleceu sobretudo a partir da repressão estatal ao Movimento Passe Livre em
São Paulo, o discurso conservador e reacionário se
articula contra os gritos das ruas. Essa articulação
tem se evidenciado em mensagens transmitidas pelas redes sociais e
pelo modo como importante parte da imprensa brasileira cobre as
manifestações e, importantíssimo, como vários
analistas e comentaristas comprometidos com o sistema em funcionamento têm se
posicionado sobre os movimentos nas ruas.
A
primeira medida dos conservadores contra os protestos ecoou ainda nos
primeiros momentos dos gritos contra o reajuste do preço do
transporte em São Paulo, quando o governador do Estado tentou
criminalizar os manifestantes, chamando-os todos de vândalos.
Tentativa parecida usou o Governo Federal na fala da presidente,
para qual tratava-se apenas de "uma manifestação comum a jovens”,
portanto sem relevância social e, ainda nesse plano, a oferta
do ministro da justiça, logo de início, que consistia
no fornecimento de mais força militar com a guarda
nacional para reprimir a manifestação popular.
A
estratégia seguinte, com inoperância da repressão
policial e com o crescimento da população nas ruas,
efetivou-se com a “racionalização” das críticas
ao movimento de ruas, caracterizando-o como fascista e
antidemocrático, pois o grito expandiu-se numa rejeição aos partidos políticos que constituem o governo. Na verdade, nada havia ou há de
antidemocrático no movimento e sim uma forte crítica
aos sistema político atual no país, abertamente corrompido e
corruptor e que, amarrada a sociedade, tenta agora amarrar as mãos de outras
instituições, como o Ministério Público,
através por exemplo do Projeto de Emenda Constitucional
número 37, a PEC 37 (Aprovada em comissões por políticos como Paulo Maluf e João Paulo Cunha do PT, condenado pelo STF , e a PEC 33 cujo objetivo e limitar o
Superior Tribunal Federal- STF, responsável pela condenação
de políticos corruptos que ainda mantêm mandatos no
Congresso.
Quanto
ao papel de parte relevante da imprensa, que consiste no interesse
em manter o atual estado de coisas no país dá-se pelo
modo como cobrem as manifestações, minimizando as
proporções das manifestações pacíficas
e destacando seu tempo à atuação de criminosos que
cometem crimes, que são obviamente em números
muitíssimos inferiores e que atuam por falta de adequada
estratégia do policiamento, existindo mesmo sem que haja
manifestações na s ruas. Por sua vez, os analistas
políticos que atuam contra o movimento o fazem de um modo
sutil, atribuindo-lhe um vazio de propostas, um caráter
juvenil ou destacando posturas de pessoas apartidárias
como se fossem antidemocrático, o que é uma tentativa
articulada para destruir a força do movimento.
Toda
essa reação dos opositores das manifestações
são fruto do medo de mudança, de perderem o que estão
levando do atual sistema. As mudanças sempre são
preocupantes para quem está por cima. A imprensa acomoda-se
com o governo, por mais injusto que seja para a maioria da
sociedade, pois lucra com ele de vários modos, como pelos
investimentos e anúncios estatais nessas empresas; os
analistas têm suas vantagens, como bolsas para pesquisas, cargos e outras vantagens e os partidários do governo ligam-se a ele pelo menos passionalmente.
Enfim, os reacionários rapidamente colocaram suas armas para
funcionar, mas não foram capazes de calar esse grito
autêntico das ruas, porque é tão legítimo,
tão vivo, soante nos ouvidos de todo o mundo, e sua energia o
precede, pois foi acumulada desde tempos, de anos nos quais o Estado
insensível lhes deu as costas e a política corrupta
lhe encheu de males. Mas a consciência também lhe soa claro: é preciso manter-se firme e atuante.
Elói Alves
O PRONUNCIAMENTO DE DILMA E A DECÊNCIA QUE AS RUAS PEDEM
Leia o prefácio do romance "As pílulas do Santo Cristo" de Elói Alves
Primeito capítulo:
Segundo Capítulo: