sábado, 28 de janeiro de 2017

POLÍTICOS ANALFABETOS E ANALFABETOS POLÍTICOS



              O título acima lembra, por um lado, uma singela brincadeira de jogo de palavras - em que mudando-se a posição das mesmas, muda-se seu significado - e revela, de outro modo, a horripilante maneira como as questões políticas, que mexem profundamente com o modo de vida das pessoas, são levadas sem a mínima seriedade necessária, por ampla parcela dos políticos e por considerável parte sociedade brasileira.

                  A propósito disso, viralizou nas redes sociais um vídeo de curtíssima duração, em que um político mineiro, ex-vereador, e agora deputado, ao tomar posse, tentava ler o juramento à Constituição, condição para que fosse empossado. No vídeo, cujo link ponho abaixo, ele troca a palavra Constituição e, sem ler integralmente três ou quatro palavras, desiste do juramento, afirmando “não ter importância”.

                  A Constituição da República Federativa do Brasil, Lei maior que se impõe a todo ato público e privado no território nacional,  afirma que “São inelegíveis os analfabetos” (CF, Art. 14, $ 4º) e voto facultativo para os analfabetos (CF, art. 14, $ 1º, II a). O que espanta, no entanto, é que reiteradamente pessoas em tais condições são eleitas para uma função pública cujo ofício principal é exatamente fazer leis que impactam obrigatoriamente toda a vida das pessoas, além da função de fiscalizar a máquina administrativa sob o Poder Executivo, sem os instrumentos de uma formação básica, rudimentar e fundamental para o bom exercício das atividades legislativas, em afrontoso desrespeito à Lei Maior do país.

                  A culpa não é apenas dos políticos iletrados, individualmente – políticos que apesar de analfabetos têm, no entanto, suficiente capacidade de convencer pessoas sem consciência de suas responsabilidades cívicas. O erro é, antes, das organizações partidárias, que no Brasil gozam de larga proteção legal e, quando se emporcalham, basta trocar a sigla, ou nome do partido, para estar limpa.

                  A lei deveria ser rígida a ponto de banir as siglas partidárias e seus líderes da vida pública quando não agem de acordo com a decência e o bem público. No caso, é muito simples, no momento da filiação partidária, que deve, por Lei, vir muito antes da escolha de seus candidatos, objetar a pretensão à candidatura se o pretenso filiado não for alfabetizado. Seria simples, também, ensiná-lo a escrever, ler e interpretar minimamente, e a fazer  algumas continhas no papel, nas próprias dependências do escritório partidário, contratando-se, para isso, infelizmente por quase algumas moedas, algum professor de português. No entanto, isso não interessa, para eles, e, tristemente, para muito mais gente.

                  Por último, deve-se dizer, a conta é também da sociedade, no que toca ao analfabetismo político, que se verifica na ausência de consciência política, no desinteresse pelas questões fundamentais da vida pública. Na verdade, o político analfabeto e o analfabeto político se complementam, se retroalimentam. Ambos sofrem do mesmo mal e a diferença cruel está no aproveitamento por aquele da situação pela via, digamos, de certa malandragem ou, ainda e também, de sua instrumentalização pela organização partidária como puxador de votos para a legenda. (Não custa lembrar que pior que tá não fica)

                  Lamentavelmente os índices de analfabetismo funcional (os que leem, mas não entendem o que leem) e político são, segundo o IBGE, altíssimos no país. São uma grande mazela de fazer chorar, e não de rir, como faz o político ao não conseguir ler três palavras de seu próprio juramento de posse, que um medíocre assessor o faria decorar em casa. Aliás, fico mesmo sem saber se ele ri, então, de si ou dos outros analfabetos políticos de seu estado e do país.

Elói Alves

Vejam o vídeo pelo link abaixo

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