domingo, 25 de fevereiro de 2018

OS HOMENS, A LÍNGUA E O CACHORRO– Tio Gerbúlio

A rua do bar tinha passado à rua de lazer e esportes nos feriados; nesses dias, muitas pessoas vinham de lugares vizinhos caminhar e passear. Numa manhã, dois rapazes incomuns por ali pararam no bar para tomar água. Vinham, pelo aspecto, já de uma boa caminhada. Um deles, que parecia o mais jovem, perguntou ao companheiro, olhando para rua:
                - Que têm essas pessoas que andam com pescoço duro e olhando para cima?
                - Nada.- disse o outro- Apenas andam olhando para o céu.
                - Só? - Retornou ainda inconformado.
                - Sim- continuou o que respondia- e também, às vezes, esquecem de olhar onde pisam.
                Os dois rapazes, que saíram logo, não iam longe quando, à porta do bar, um homem que puxava um cachorro pela corrente, escorregou numa casca de banana, esparramando-se pelo chão. O cachorro, que escapara com a corrente, solta pelo dono na hora da queda, ao invés de gozar a liberdade agora adquirida, correu a lamber o sangue que escorria dos braços do homem, ralados pelo asfalto.
                Do fundo do bar, um freguês que bebia atrás de umas caixas de bebida e cuja caninha parece ter-lhe afinado mais alguns dos sentidos, disse, devolvendo com força o copo vazio à mesa:
                - Que língua!
Tio Gerbúlio: Outras histórias

Elói Alves

Postagens populares (letrófilo 2 anos 22/6)