segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O ASSALTO AO DEPUTADO

      Teresa e o namorado tinham ido ao cinema assistir Tudo vai bem na República de Eldorado. Quando saíram do estacionamento do shopping perceberam o tumulto entre os carros parados no congestionamento e a moça definiu o cheiro insuportável que enchia o ar:
        -Nossa, que cheiro de enxofre!- disse ela.
      Quando desceram, se juntando aos populares, viram uma fumaça preta saindo do pneu traseiro do carro importado que os bandidos pararam à bala. Mesmo blindado e com o motorista tendo curso de direção defensiva, o carro foi interceptado.
     Os bandidos, que estavam mais à frente, todos mascarados, exigiam mais dinheiro de um homem engravatado, que lhes passara uma mala de dinheiro que trazia na mão. Os populares, antes que os bandidos, reconheceram a vítima. Tratava-se do deputado Gerdebaldo de Albuquerque Liso e Silva Raposo do Bom Fim Neto.
     Como os meliantes achavam insuficiente, para recompensar seus esforços, apenas uma mala recheada de dinheiro, o deputado, que jurava às pistolas não trazer mais nenhum nos bolsos, nem nas meias nem na cueca ou nos forros da gravata, pediu ao bandido, que lhe apertava a goela pelo colarinho branco, uma “licencinha” e fez um breve e empolado discurso ao povo para que este contribuísse com qualquer coisa de que dispusesse, para solução daquela situação tão grave pela qual passava um representante deste mesmo povo, defensor incansável da sociedade, das sagradas Instituições republicanas e da intocável democracia. Não havia ainda terminado com "conto com vossas gentilezas" quando foi interrompido.
      -Gasolina! Gasolina! Gasolina!- gritaram os populares em um som uníssono cada vez mais forte, formando um coro em que parecia só haver tenores.
      O deputado, vendo que alguns, com pressa de colaborar, já, efetivamente, se dispunham a buscar galões e mangueiras e outros corriam a um posto adjacente, deu ordens aos ladrões que o detinham:
      -Vamos sair daqui rapidamente e resolvemos isso entre nós mesmos.
      Algum tempo depois chegou a polícia, que nada ao certo pode apurar senão a informação de um bêbado, segundo quem o deputado chefiava uma gangue de bandidos mascarados e que tinham sequestrado o dono do carro importado.
Elói Alves

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domingo, 26 de janeiro de 2014

A METAMORFOSE

Peno com o corpo em um mundo sem alma
Não há limite para Estupidez
Qual será a doença que desalma o mundo?
Estava no pacto tudo transformar em pedras?
O que restará ao final da metamorfose
que há muito dos gestos gentis fizera estes sons metálicos,
frios e corrosivos como uma peste silenciosa?
Como se chamará esta coisa disforme e rude
Quando não mais se lembrar de que um dia foi homem?
Elói Alves
 
Lançament Contos humanos, imagens

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