Às
vezes a ficha demora a cair, mas isso não impede que haja
pressa na resposta, daí que muita gente seguiu o bonde da
grande mídia e o raciocínio conservador que tachou todo
mundo de “vândalos” no protesto contra o aumento das
passagens do transporte público em São Paulo. No
entanto, a energia do movimento mostra algo mais profundo, mostra um
incômodo muito maior.
Vi
da minha janela os primeiros passos desse movimento no centro da
cidade. Os primeiros gritos pareceram-me coisa Futebolística,
mas num segundo vi que havia coisa diferente, o espírito não
era o mesmo, nem dos que protestavam nem o do lado que os queriam
sufocar.
Desde
muitos anos não vejo no Brasil um movimento como este, onde o povo não
luta simplesmente guiado por um grande partido ou por suas
organizações sindicais, por uma grande figura que
pretenda a presidência da República, com discurseria pretensiosa e salvadora. Por outro lado, a força do movimento não
está apenas na perda de vinte centavos do aumento das passagens, como
pensam ainda muitos que não entenderam o espírito do
movimento. Este aumento foi apenas o estopim de um descontentamento
maior que se acumula escorrendo de outras injustiças.
A
força que eclodiu nesses protestos está em camadas
subjacentes que engrossam e fortalece o sentimento de indignação. A
indignação contra o dramático roubo da esperança que
muitos depositaram no partido e no governo que hoje comanda o país.
Indignação dos que nunca votaram neles, mas que se
surpreenderam com a fome e a sede com que foram ao pote do tesouro
público, levando atrás de si toda a “companheirada”
para os novos cargos de confiança. Indignação
dos impostos que nos custam meio ano de trabalho e que não nos
são devolvidos nos serviços públicos de péssima
qualidade de que dispomos: como o próprio transporte público- caro, lotado, lento e deficiente-,
a saúde, a educação, cujos alunos e
profissionais são tratados como sub-gente etc.
Há
também a indignação com as mentiras da copa. A
roubalheira para se fazerem os estádios, como já fora
no Panamericano. A falsa pacificação das comunidades do
Rio, onde os bandidos continuam atuantes sob um Estado curvado ou
permissivo devido a corrupção. A indignação com os mensaleiros que, mesmo condenados, continuam paparicados legislando
e zombando de todos os brasileiros ou gozando em suas fazendas.
Depois,
o rápido crescimento do movimento se dá também
pelo modo fascista como o Estado trata os manifestantes. O governador
manda bater, o prefeito se recusa a ouvir e dialogar, a imprensa- conservadora e reacionária- se apressa a
desmoralizar e diminuir o movimento e o Governo Federal se dispõe
a “ajudar” com mais tropas.
Ainda
é cedo para se dizer qual será o fim, se será
derrotado pelas estratégias dos políticos, sejam quais
forem, mas o movimento já nos deixou uma esperançosa
lição que é esta: o povo pode, e se acordar,
como leão que foi amansado, ele muda de fato o país, e é o único que pode fazê-lo!
Elói Alves
Leia tabém:
A mentira do direito de ir e vir ca Constituição Federal
Coluna do perguntero:
Leiam, no link abaixo, o primeiro capítulo de "As pílulas do Santo Cristo", romance de Elói Alves,Linear B Editora
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-
cristo-1-capitulo.html
cristo-1-capitulo.html