O
livro Contos e causos notariais, de autoria do Professor e
Tabelião Arthur Del Guércio Neto, chega a sua aguardada terceira edição,
enriquecido por novos textos cujas características narrativas, analisadas no
prefácio à primeira publicação, estão ainda mais maturadas pelo talento e apuro
do autor. A isso se somam, também, novos aspectos jurídicos, além de questões
de cidadania, que se vão entrelaçando, por um típico ofício de escriba.
O
escriba era, desde a antiguidade, um notável cidadão, que, antes da difusão
social do letramento escolar, lia e escrevia, sobretudo textos sagrados e
jurídicos, pontuando fatos, registrando pactos e redigindo documentos próprios
à Administração, além de compor as crônicas da vida dos reis. Tinha, assim, uma
auctoritas, detinha saber e técnica que o notabilizavam em uma sociedade
ágrafa, gozando da confiança de todos e de, por assim dizer, fé pública.
O
escriba, que também se fez presente na idade média como cronista régio,
emprestava, ab manu, as características indeléveis da forma de sua
escrita, ora nos hieróglifos dos textos sagrados, ora nos rolos de papiro dos
documentos oficiais do Egito antigo; hoje, o tabelião, herdeiro dessa
tradição, empresta também seu olhar
peculiar para qualificação dos títulos que se lhe apresentam e para se
redigirem escrituras públicas, além de outros atos notariais, como a ata
notarial, meio de prova consagrado pela lei processual civil em vigor, cuja eficaz elaboração exige apuro técnico,
narrativo e descritivo, ademais do saber jurídico imprescindível ao ofício e
domínio da língua com a qual trabalha. Esse modo de ver aparece também em
Machado de Assis, que pinta o olhar do tabelião, personagem do conto O
EMPRÉSTIMO, como “cortante e agudo”, como se observou, juntamente à análise de
seu peculiar antagonista em ensaio que compõe O olhar de Lanceta,
que publiquei em 2015.
À
presente edição se acresceram textos como “A fonte dos desejos”, em que
ressurge o saboroso talento narrativo do autor destes Contos e Causos,
características mais profundamente analisadas no prefácio à primeira edição,
cujo texto o leitor tem à disposição nesta obra. Ainda mais: “As eleições e os
cartórios, “A ilusão dos R$ 103.141,14 mil”, “Dia Nacional do Notário e do
Registrador”, “O coronavírus e os cartórios”, além de “A nova lei dos registros
públicos” ampliaram a publicação atual. Temas como nascimentos, casamentos,
uniões estáveis, óbitos, negócios imobiliários, protestos são abordados pelo
autor, destacando-se o papel cívico da atividade notarial e registral,
denominada, no Registro Civil, como “ofícios da cidadania”.
A
todos, boa leitura!
Por Elói Alves, professor e advogado, formado em Letras pela
Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos
livros O olhar de lanceta: ensaios
críticos sobre literatura e sociedade e do romance As pílulas do santo
Cristo.
O prefácio à 1ª edição, em que analisei outras características do livro, pode ser lido por meio link: REAL COM ARTE: O letrófilo: PREFÁCIO PARA O LIVRO "CONTOS E CAUSOS NOTARIAIS", DO JURISTA ARTHUR DEL GUÉRCIO
O livro e outros textos do autor prefaciado podem ser conferidos em sua página: BLOG do DG