sábado, 27 de outubro de 2012

AS MÚSICAS ELEITORAIS, A LAVAGEM CEREBRAL E A LOUCURA (Perguntero)

     
       Até a última noite, eu guardava a inflexível convicção de que votaria nulo. No entanto, pelo meio desta madrugada acordei- ou fui acordado- sacudindo-me sem parar, cantando uma música eleitoral e dizendo que eu era o número XY, que é o número do partido e de seu candidato.
      Depois de uma pausa no sacudimento, fui ao banheiro e tomei um banho e consegui dormi um pouco, mas, ainda assim, sonhei que minha família toda era XY, meus vizinhos, os cachorros e os mendigos que vejo de minha janela, dançando ao som da música XY.
      Pela manhã, quando minhã mãe me ligou, ao invés de dizer “Alô”, cantei, inesperadamente: “Minha mãe é XY, minha mãe é XY, minhã é XY”, mas ela me interrompeu de lá com um grito:
     -Passa, Satanás!
Neste instante, música XY deixou os meus lábios e eu perguntei assustado a minha mãe, tão pia:
     -Que isso, mãe, sua excelência o candidato é um Satanás?
     Aí ela explicou-me que estava expulsando o Satanás, que é nome do gato de sua vizinha e que tinha acabado de entrar pela janela e ia lhe roubando a carne que deixara sobre a pia.
     Bem, contudo isso, tentei ainda me reposicionar para a nulidade eleitoral, no entanto, confesso que estou com muito receio de que continue com XY na cabeça, ou talvez mesmo que eu seja o próprio "Pintinho Piu" da música plagiada ou copiada autorizadamente, que segundo me informou uma professora de educação infantil, foi composta para os bebês pequenos e não, para os grandes.
    Do jeito que estou, será que, quando eu apertar o 'NULO” na urna eletrônica, ele saltará à minha frente cantando: “eu também sou XY, o nulo é XY, o nulo é XY, o nulo é XY? Ou será que estou é ficando ensandecido, doido com tudo isso e com essa capanha que nunca acaba?
Zé Nesfasto Pwrguntero
Leiam, no link abaixo, o primeiro capítulo de "As pílulas do Santo Cristo", romance de Elói Alves, cujo lançamento será no final de novembro.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

OS FILHOS DA POLÍTICA (Perguntero desvairado)

      
      Entre os conhecidos protestos que os espanhois vêm fazendo nos últimos tempos contra a crise político-econômica, achei diferente e interessante o que ia na camisa de algumas manifestantes: " las putas insistimos que los políticos no son nuestros hijos".
       Votei muito justo que essas moças repilam com veemência a suposta maternidade, negando com toda ênfase que esses seres sejam fruto de seu ventre.
        Porém, veio-me logo a pergunta: será que não seria o contrário, sendo muitas delas filhas dos políticos e da política?
Na verdade, estou com dúvidas entranháveis: a paternidade será de quem gera ou de quem assume?
        Ora, a bíblia reza que o “diabo é o pai da mentira” (ainda que Lúcifer negue), mas são os políticos quem mais a nutrem e não largam dela, confessando o que convêm ou não sabendo de nada conforme a ocasião, negando, muitas vezes, que eles são eles próprios.
        É corrente também se auto-denominarem “o pai do povo”, "a mãe dos pobres". Nesse caso, quem é que gera a pobreza? E quando um determinado político enriquece sem trabalho que o justifique, quem será o pai de sua riqueza?
        Se são pai dos pobres, não são também mantenedores e perpetuadores da pobreza? Ou são pai dos pobres, mas o pobre que se vire pelas ruas e pelas esquinas e em outros lugares inumanos?
A última dúvida (prometo! Não, não prometo!): os políticos gostam de dar o leite e outros mantimentos em porções diárias, que é para o amamentado ter força para vo(l)tar sempre no próximo dia, para próxima dosagem, racionada perpetuamente. Porém, no caso de quem “mama nas tetas do governo”, será que a dose é apenas em pequeninas porções diárias? Basta por hoje!
Zé Nefasto Perguntero
       Leiam, no link abaixo, o primeiro capítulo de "As pílulas do Santo Cristo", romance de Elói Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html

 POESIA CINZA - Análise do livro Sob um céu cinzento
 http://realcomarte.blogspot.com.br/2014/09/poesia-cinza-analise-de-sob-um-ceu.html

domingo, 21 de outubro de 2012

AS PÍLULAS DO SANTO CRISTO (1º capítulo)

     As páginas seguintes formam o primeiro capítulo do romance de minha autoria lançado pela Linear B Editora em novembro.



As pílulas do Santo Cristo





     Elói Alves





     Linear B editora









  



© Elói Alves






1ª edição: novembro de 2012





Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP





Doutores na delegacia
     Quando ingressei na universidade, eu tinha apenas dezessete anos e estava totalmente perdido. Ainda nos primeiros dias, travei amizade com um grupo de veteranos do curso de medicina, de quem me acerquei por longo tempo. Era o meu sonho ser médico, mas como não obtive nota suficiente nos exames vestibulares, conformei-me com o curso de Direito, que, àquela época, exigia nota inferior.
     Andei muito apegado a esses meus colegas. Era de causar estranheza ao pessoal do meu curso, que, provavelmente, sentia-se preterido ou discriminado. Por longo tempo, acompanhei-os nos cafés e nas festas. Gostava também de vê-los vestidos de branco. Estavam entre esses os melhores amigos que reuni durante os anos que passei na universidade.
     Um dia, sem o mínimo aviso, alguns deles sumiram. Era comum que um ou outro desaparecesse por uns dias, ocupado em quaisquer afazeres; no entanto, desta vez, houve um grupo que resolveu ausentar-se ao mesmo tempo, sem que eu tivesse noção alguma de onde andavam.
     Alguns meses depois, numa manhã antes das aulas, sendo aquele o quarto ano de minha graduação, vieram me trazer, no saguão de entrada, os jornais do dia, com uma notícia estarrecedora.

10 . As Pílulas do Santo Cristo

     − Olha quem está preso!- disseram-me.
Eram três dos meus amigos mais próximos, todos do curso de medicina. Peguei os jornais e os li rapidamente, ali mesmo de pé.
     − Mas não será engano? − perguntei, sem convicção.
     − Que nada !− disse-me um companheiro de turma. Aí diz tudo. Estão numa geladeira! Foram presos em uma delegacia próximo da Sé. Estelionato, curandeirismo, falsificação de remédios. Enfim, pegam pelo menos uns dez anos cada um. Se já estivessem formados, teriam subterfúgio jurídico. Mas ainda precisam de uns seis meses para colar grau.
     Desisti imediatamente das aulas e me dispus a ir à delegacia. Provavelmente, nem suas famílias, que eram do interior, estivessem já informadas. Na saída, peguei ainda uma gravata com um amigo e coloquei-a no pescoço. Era preciso que me apresentasse adequadamente.
     Durante o caminho, fui montando uma defesa possível. Não me parecia haver necessidade de um pedido de habeas corpus, todavia, fui conjecturando algumas ideias básicas, assentes no Direito e que vinham à ocasião. Tinham residência fixa, sem antecedentes criminais, não eram delinquentes que apresentassem periculosidade, eram estudantes de uma universidade pública, em um curso de alta relevância social. Porém, o problema maior era se ficassem detidos. Como não tinham terminado o curso, seriam postos em uma cela comum, com dezenas de presos por metro quadrado.
     Não sei como me lembrei naquele instante de que a universidade dava um documento com status de provável bacharel ao aluno de último ano. Aferrei-me a esta nomenclatura e me preparei para enfrentar o delegado.
     Quando cheguei à delegacia, os três tinham sido levados a uma cela, onde havia também outros presos. Apresentei-me e pedi para ver meus clientes.
     − No momento será impossível, doutor!- disse-me o delegado.
     − Como, doutor? − devolvi-lhe, mas sem desafiá-lo. Meus clientes não se negam a responder à justiça nem pretendem obstar o trabalho do Ministério Público, mas devem ter o benefício que a lei lhes outorga. Ademais, são prováveis bacharéis de uma universidade pública.
     Fiz, propositadamente, mais sonoros os termos bacharéis e universidade pública, no entanto, o delegado interrompeu-me.
     − Seja como for, doutor. Veja o barulho que o caso está fazendo, os jornais da cidade e até os protestos da Igreja.
     − Não nego, doutor! − retruquei, retomando a palavra. Apenas lhe digo, com a devida vênia, que observe o fato de que meus clientes não possuem antecedentes, têm origem em famílias de cidadãos decentes e uma formação que será útil à sociedade. Além disso, todos têm residência fixa e responderão aos chamados que lhes fizer a justiça. Com a máxima licença, doutor, não havendo decisão judicial em contrário, o que se impõe no momento é impetrar a fiança e dar-lhes a saída, para que aguardem em liberdade a tramitação do inquérito, que, além do mais, meus clientes não podem permanecer em prisão comum.
      Nesse instante, o delegado recebeu a notícia de que haviam roubado um banco praticamente contiguo ao estabelecimento policial, onde havia reféns e um soldado, seu subordinado, tinha sido ferido. Em questão de segundos, ele colocou o paletó, pegou a arma e correu a uma sala adjacente. Depois voltou às pressas, chamando os policiais que o acompanhavam:
     − Rápido! Rápido! Vamos!
     Já fora, aparecendo à porta, gritou a seu auxiliar para que providenciasse a soltura dos estudantes, de acordo com a lei e pagando a fiança.
     Na rua, a confusão era grande. Por todas as partes, viam-se policiais com fuzis nas mãos e viaturas estacionadas, além de outras que chegavam com sirenes ligadas. O trânsito, totalmente parado, ia sendo desviado para ruas paralelas por policiais e por agentes da Companhia de Tráfego. Ao redor, o povo, apesar dos cordões de isolamento que bloqueavam a passagem, ia enchendo as ruas e as calçadas para conhecer o que acontecia.
     Caminhando com os três, pelas vias do centro da cidade, agora mais solto e aliviado, atendi o organismo que me lembrava de verificar as horas. Olhei no pulso esquerdo, os ponteiros abraçavam-se afetuosamente no meio do dia ao som rítmico dos eternos tic-tac. A propósito, convoquei os amigos com uma pitada de malícia:
     − O almoço fica por conta dos meus clientes!

Adquirir exemplar do livro:


Ler o segundo capítulo de As pílulas do Santo Cristo no link: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-2-capitulo.html








Postagens populares (letrófilo 2 anos 22/6)