quarta-feira, 1 de março de 2017

O CAMPEÃO BLOCO DO MIJÃO


O Bloco campeão do carnaval deste ano, no centro de São Paulo, é, disparadamente, o Bloco do Mijão. A prova fática de seu desempenho está no ar, já no início da tarde da quarta-feira de cinzas, mesmo em locais restritos como a área dos caixas do Banco do Brasil da Rua Xavier de Toledo, agência de banco público cujas portas já foram quebras e requebras por vândalos, ostentam sua passagem, ou melhor, seu cheiro, disputando altivamente os ares citadinos com os pobres produtos de limpeza, usados para retirá-los, levantando-se entre as narinas inquietas dos clientes.

Em ruas como a 24 de Maio percebe-se, entre a multidão de transeuntes, que o Bloco desfilou por essas paragens com longa energia, apesar das vassourinhas dos funcionários da Prefeitura mostrarem um chão aparentemente limpo. Como estive em São Paulo durantes esses dias, naturalmente já havia observado marcas indeléveis dos excessos da folia, mas nada como ser convencido pelo próprio cheiro da matéria bruta que se dispersa, principalmente no day after, quando as fantasias despedaçadas já não luzem mais o mesmo brilho e a cidade busca, ainda confusa, respirar seu ar rotineiro.

O Bloco do Mijão lembrou-me uma outra crônica que escrevi tempo atrás, Odores da Cidade, mas no caso do Mijão, a diversidade dos cheiros habitual é nula, pois não traz o grito democrático que aguça todos os sentidos. O Mijão, além de sua largueza, que se dispersa por todos cantos da cidade, não adota o lema da privacidade dos banheiros químicos, distribuídos por diversas partes. Talvez, no próximo desfile, incorpore até o grito contra o desperdício do dinheiro público usado para contratá-los, uma vez que não se vai mesmo usá-los. Aliás, seu grito principal na folia deve ser o da publicidade ampla e da transparência irrestrita, de quem não tem o que mostrar, e de optarem por um cheiro único, que é mais evidente.

Certamente, como imponte campeão, o Bloco do Mijão voltará no próximo fim de semana, se é que houve alguma pausa para recarregar as baterias, ou os tanques, sempre pautados pela alegria imensurável de um compartilhável cheiro só, porque, como disse o mestríssimo João Adolfo Hansen, lecionando Vieira, qual o critério de fedor onde todo mundo fede junto?
Elói Alves

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