O Bloco
campeão do carnaval deste ano, no centro de São Paulo, é, disparadamente, o
Bloco do Mijão. A prova fática de seu desempenho está no ar, já no início da
tarde da quarta-feira de cinzas, mesmo em locais restritos como a área dos caixas
do Banco do Brasil da Rua Xavier de Toledo, agência de banco público cujas portas
já foram quebras e requebras por vândalos, ostentam sua passagem, ou melhor,
seu cheiro, disputando altivamente os ares citadinos com os pobres produtos de
limpeza, usados para retirá-los, levantando-se entre as narinas inquietas dos clientes.
Em ruas como a
24 de Maio percebe-se, entre a multidão de transeuntes, que o Bloco desfilou
por essas paragens com longa energia, apesar das vassourinhas dos funcionários da Prefeitura
mostrarem um chão aparentemente limpo. Como estive em São Paulo durantes esses
dias, naturalmente já havia observado marcas indeléveis dos excessos da folia,
mas nada como ser convencido pelo próprio cheiro da matéria bruta que se dispersa, principalmente
no day after, quando as fantasias
despedaçadas já não luzem mais o mesmo brilho e a cidade busca, ainda confusa,
respirar seu ar rotineiro.
O Bloco do
Mijão lembrou-me uma outra crônica que escrevi tempo atrás, Odores da Cidade, mas no caso do Mijão,
a diversidade dos cheiros habitual é nula, pois não traz o grito democrático
que aguça todos os sentidos. O Mijão, além de sua largueza, que se dispersa por
todos cantos da cidade, não adota o lema da privacidade dos banheiros químicos,
distribuídos por diversas partes. Talvez, no próximo desfile, incorpore até o
grito contra o desperdício do dinheiro público usado para contratá-los, uma vez
que não se vai mesmo usá-los. Aliás, seu grito principal na folia deve ser o da
publicidade ampla e da transparência irrestrita, de quem não tem o que mostrar, e de optarem por um cheiro único, que é mais
evidente.
Certamente,
como imponte campeão, o Bloco do Mijão voltará no próximo fim de semana, se é
que houve alguma pausa para recarregar as baterias, ou os tanques, sempre pautados
pela alegria imensurável de um compartilhável cheiro só, porque, como disse o
mestríssimo João Adolfo Hansen, lecionando Vieira, qual o critério de fedor onde todo mundo fede junto?
Elói Alves