A bela narrativa de Ana Prôa, no livro
PLUMA, leva o leitor à experiência da personagem narradora no local de seu
refúgio depois de seus insucessos empresarial e familiar. No entanto essa existência num
paraíso idílico é, num instante da luz de um raio, transformado na desesperada e
velha luta do homem pela vida, onde suas forças, em absoluto isolamento, faz vigorar as primitivas energias do “homem é o lobo do homem”
hobbesiano. Resta-lhe, no entanto, uma meiga e entranhável companhia: o seu cachorro.
O belo livro nos lembra a desesperada
luta da civilização pelo domínio das forças da natureza; por segurança, medo,
desejo de poder e acúmulo de riquezas; domínio do próprio homem. Seja como for,
o controle parece sempre enganoso, quando o homem se encontra, então, às avessas,
vendo-se como nada além de um pigmeu ante o revés da Natureza.
O personagem central, Edu,
repentinamente se vê “enterrado vivo”.
“As chuvas torrenciais, como lâminas, cortaram em fatias as costas.
Desceram árvores, pedras[...]. Desceram as casas. Muitas delas, por mais luxuosas
que fossem, foram para debaixo do lamaçal que se formou.”
Talvez mais que o encontro da
personagem com seu passado de insucessos, dos quais fugia e aos quais as forças
das águas o levam - como se refere em epígrafe - a narrativa vislumbre ao leitor
a necessidade do retorno a si mesmo.
Essa narrativa leva-nos ao homem, que se fragmenta e se reconstrói, que mira o futuro num espelho que lhe leva ao passado, lembrando, de algum modo, o Eterno retorno, do "Engenho Novo à casa antiga de Matacavalos", de Dom Casmurro, do Eclesiastes, dos Estoicos e do próprio Nietzch.