terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Pequenas notas sobre PLUMA, de Ana Prôa


A bela narrativa de Ana Prôa, no livro PLUMA, leva o leitor à experiência da personagem narradora no local de seu refúgio depois de seus insucessos empresarial e familiar. No entanto essa existência num paraíso idílico é, num instante da luz de um raio, transformado na desesperada e velha luta do homem pela vida, onde suas forças, em absoluto isolamento, faz vigorar as primitivas energias do “homem é o lobo do homem” hobbesiano. Resta-lhe, no entanto, uma meiga e entranhável companhia: o seu cachorro.
O belo livro nos lembra a desesperada luta da civilização pelo domínio das forças da natureza; por segurança, medo, desejo de poder e acúmulo de riquezas; domínio do próprio homem. Seja como for, o controle parece sempre enganoso, quando o homem se encontra, então, às avessas, vendo-se como nada além de um pigmeu ante o revés da Natureza.
O personagem central, Edu, repentinamente se vê “enterrado vivo”.  “As chuvas torrenciais, como lâminas, cortaram em fatias as costas. Desceram árvores, pedras[...]. Desceram as casas. Muitas delas, por mais luxuosas que fossem, foram para debaixo do lamaçal que se formou.”
Talvez mais que o encontro da personagem com seu passado de insucessos, dos quais fugia e aos quais as forças das águas o levam - como se refere em epígrafe - a narrativa vislumbre ao leitor a necessidade do retorno a si mesmo.
Essa narrativa leva-nos ao homem, que se fragmenta e se reconstrói, que mira o futuro num espelho que lhe leva ao passado, lembrando, de algum modo, o Eterno retorno, do "Engenho Novo à casa antiga de Matacavalos", de Dom Casmurro, do Eclesiastes, dos Estoicos e do próprio Nietzch.


 Elói Alves


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