A
ignorância e a má educação sistêmica no Brasil não é- e nunca foi- consequência
da ausência do Governo em sua gestão; pelo contrário, é exatamente o seu grande
projeto juntamente com os donos do poder cujo plano, infelizmente bem sucedido,
consiste em acumular para si toda a riqueza do país, mantendo as camadas
inferiores, que produzem essa riqueza com seu trabalho, afastadas dos benefícios
dele pela inconsciência de sua exploração e satisfeitas com migalhas que lhes
devolvem e iludidas com o circo montado para lhes entreter.
Esse
projeto nacional, prioritário para o governo e para a elite econômica a quem os
governantes servem, não é algo novo, apesar de todos os problemas que vemos
aparecer a cada dia; ele vem da dominação colonial escravocrata, do voto
restrito a minorias proprietárias dos latifúndios onde se produzia o açúcar e,
depois, o café para exportação. Com a industrialização, as lutas dos
trabalhadores por garantias de direitos, melhores salários, melhor saúde e
melhor educação, sempre foram tratadas como coisa a ser combatida com uso da
força, para cuja tarefa o primeiro instrumento sempre foi a polícia, como hoje,
equipada com balas de borracha e outros instrumentos para frear as lutas
sociais.
O grande
projeto do governo, e dos governos, para manter as classes oprimidas
"pacificadas", isto é em ordem e fazendo a ecomomia progredir, como
definia a máxima positivista "ordem e progresso", se dá de um modo
mais sutil, como se diz em diplomacia: "soft power", uma dominação
suave, um poder sutil ou "doce". Esse projeto histórico e perverso
aparece, aliás, como uma aparente ineficiência dos governos em educar o povo, em
gerir bem os programas essenciais da sociedade. No entanto, essa ineficiência é
algo enganoso; o projeto para manter a maioria dos trabalhadores que produzem a
riqueza dos país fora dos resultados dele é muito bem sucedido, ele se
concretiza na perpetuação da ignorância, do fornecimento de noções básicas para
a classe trabalhadora se inserir no sitema de produção, sem, entretanto,
entender bem os mecanismos de exploração de seu próprio trabalho.
A má
educação que se tem no Brasil não é, portanto, algo que surge de uma má
administração do sistema educacional, ela é um projeto meticuloso que consegue
manter milhões de pessoas afastadas da riqueza que ela mesma produz sem que se
aperceba de como de se dão as coisas. Tragicamente para a maioria da apopulação
e projeto tem sido algo contínuo, cruel e duradouro no Brasil.
Elói Alves
Elói Alves