sexta-feira, 24 de junho de 2011

A ANISTIA DOS CRIMES DA DITADURA VALERÁ ATÉ O JUIZO FINAL? (Perguntero)

Neste feriadão passei para fazer só uma pergunta, sobre a questão dos sigilos, em discussão no congresso, das obras do PAC da copa e dos arquivos do governo que estão lacrados:
A anistia dos crimes do período da ditadura de 64 valerá até o juízo final?
Hoje é só isso, que estou sob sigilo
Zé Nefasto Perguntero

O SIGILO NAS CONTAS DA COPA DO MUNDO E DOS ARQUIVOS DA DITADURA

“...reconhecem-se os crimes, absolvem-se os criminosos e pune-se a sociedade”

A corrupção no Brasil tem sido um fato constante nas coisas públicas. Ministros, prefeitos, governadores, deputados já caíram recentemente. Agora, o que será se eles puderem fazer suas coisas com a cobertura de sigilo garantido pelo governo federal e pela aprovação de todo o congresso? É o que está para acontecer com as obras para a copa do mundo de 2014. O governo federal tem insistido em aprovar a construção de obras sob sigilo e já conseguiu dobrar senadores que eram contrários.
O futebol também está sob fétida suspeição. A FIFA e a CBF, entidades responsáveis pelo futebol estão denunciadas em tribunais pelo mundo por vários atos de corrupção, suborno, compra de votos etc. Sem dizer que a CBF de Ricardo Teixeira funciona como uma empresa particular e nada tem a ver com os interesses dos brasileiros que se matam de torcer, gastando suas energias com algo que não faz parte das coisas mais decisivas da vida, que aliás no Brasil são menos importantes muitas vezes por aqui.
Um outro aspecto do sigilo são os arquivos dos crimes praticados no período da ditadura militar no Brasil, que durou de abril de 1964 a meados da década de oitenta. Houve crimes praticados por civis e militares. Torturas, assassinatos, sequestros, roubos, são alguns dos crimes, sendo todos os criminosos beneficiados pela anistia eterna. Interessante no Brasil é a conta a ser paga. A sociedade que sofreu com o regime totalitário tem também que pagar indenização às vítimas com seus impostos e os criminosos ficam livres, alguns para exercer cargos públicos. Engraçado! Reconhecem-se os crimes, absolvem-se os criminosos e pune-se a sociedade. É o Brasil! Muito bom exemplo vem da vizinha Argentina, que acaba de mandar um ex-presidente ditador à cadeia perpétua. Viva o povo argentino!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O MUNDO DE HOJE PARECE PESADO DEMAIS PARA OS INDIVÍDUOS: Algumas palavras sobre a palavra longânimo

Eu estava a toa quando me veio essa palavra: longânimo. Anoitecia, eu havia saído do trabalho e vagueava como quem descansa a um só tempo o corpo e as ideias. Meio estranha a palavra longânimo. Há tempos que não a ouvia nem de mim mesmo. Não condiz com as palavras que tenho ouvido. Certamente está desatualizada, seja o que for o que queira dizer ser atualizado. Assim fui indo para outros tempos, retrocedendo. Em pequeno foi que ouvi esta palavra pela primeira vez, recordei-me.
Morei longe de tudo em minha primeira infância. Nem nada havia às vezes. Matos, cabras, gentes dali, bem dali. E uns poucos rapazes já avançados, se atualizando no que diziam moderno, nos bailes, nas roupas, nas bebidas e brigas de bailes, que chamavam de “tretas”. Foi ali que ouvi de uns velhos essa palavra. Eu sabia que não podia ouvir as conversas dos velhos, mas ficava por ali como quem não quer nada. Esticava os ouvidos e ia guardando as palavras. Muita coisa não entrava, outras entravam e saiam, algumas sumiam com o tempo dando-se por mortas, para ressuscitar em um dia longinquo ao fim de uma tarde: “longânimo”.
Certamente alguns velhos me influenciaram bem mais que os jovens modernos que “tretavam” nos bailes naquele tempo. Sendo assim devo a qualquer velhinho minhas leituras de ainda criança dos provérbios de Salomão. Se não foi este, deve ter sido um outro - Paulo, Pedro, Davi - que me deu o derivado longanimidade. Devo dizer, de passagem, que não havia gibi da Mônica ao alcance de meus olhos. Mesmo num vilarejo do antigo entorno de São Paulo havia uma bíblia. Não havia gibis, nem bibliotecas, mas havia uma bíblia, um Bradesco, um pouquinho mais para o centro, uma assembleia de Deus, a igrejinha católica no alto da praça e terras, muita terra com campos de futebol, onde corríamos descalços, contentes da vida. E havia principalmente todo o tempo infinito e possível para viver aquela vida nos momentos mágicos de sua inocência e daquela liberdade.
A palavra longânimo é antiquada hoje, é desusada e estranha. Sobretudo longanimidade é mais incomum. Essas palavras significam ter um ânimo longo, que não se esgota rapidamente, algo flexível e duradouro. Lembra paciência, que é numa frase conhecida de Cícero a capacidade de suportar, “corpus patiens".
Não é apenas em relação aos outros que não se tem paciência e longanimidade hoje. É também em relação a si próprio, com seus projetos, com suas tarefas, uma ausência de consciência de uma constante auto-mutação. Há sim um comprometimento da relação com os outros, no trabalho, em casa, na escola, na rua, nas redes sociais; mas sua origem está por vezes em si próprio, no elo mínimo do todo. É uma questão de saúde em boa medida, psicológica ou de outras patologias, porém é já ao mesmo tempo algo mais complexo: uma doença da sociedade atual.
Há forças positivas e negativas em todas as direções no mundo de hoje, o que mostra a complexidade dos fenômenos. E as coisas não são gratuitas, existem interesses poderosos envolvidos. Mas para além de uma dualidade, há também dialética. Como se essas coisas estivessem misturadas no mesmo pote. Assim, como distinguir o bem e o mal?
O mundo de hoje parece pesado demais para os indivíduos. Tanto maior o é quando a sociedade sucumbe toda ela diante de seus problemas. Quando as instituições são mais fortes que os indivíduos e seus interesses tomam rumos opostos. O indivíduo de início fraqueja, depois aceita apenas “empurrar com abarriga”, rejeitando os grandes embates e destratando a si e ao próximo. E torna-se um reflexo dessa sua vida em quase tudo que faz.
Mas quero esperar que haja arte, haja audível música, haja alguma inocência, sobretudo haja indivíduos que se façam distintos, que se façam melhores. Que a paciência, fruto do cuidado de si, da projeção de si para com os outros imediatamente a sua volta ainda se renove. E que o prazer para si não seja o mal para o outro. Que a estranha palavra longânimo traga sua irmã: a longevidade, ainda que estejam fora de moda.

domingo, 19 de junho de 2011

RETRATO DE MULHER

Verso a verso pintava o seu retrato,
Olhos e nariz com todos os contornos
Lábios vivos como chamas de um forno
Tanta beleza não cabia só em quatro

Os movimentos (que magia!), a cintura,
O vai e vem que a custo se descreve,
Divina imagem que ao homem enlouquece,
Mais um quarteto para pintar essa feitura.

Os sons singelos lembram os seus beijos
Rosto, riso, calor num só encanto
A pele, a mão, ternura e toques meigos,

Suprema arte, faz tremer mais que o medo
Cujo autor tem no ceu o seu recanto
E o poeta a retrata em seu soneto

(a Elizabeth Lorena e a todos leitores desses dois anos)

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