Nesta semana,
o caso de um leão que fora atraído para fora do Parque Nacional do Zimbábue,
por um guia pago por um dentista estadunidense, que o assassinou de um modo
estúpido, espalhou-se nas redes sociais e os jornais pelo mundo desdobraram os
detalhes, inclusive os valores pagos pelo dentista aos comparsas, descobertos
agora. No Rio, uma outra barbárie: a empresa responsável pela circulação de
trens ordenou que uma composição prosseguisse o caminho, passando sobre um
corpo estendido nos trilhos e que fora atropelado pela composição anterior. As
imagens, gravadas num telefone móvel, também circularam na internet.
No Rio de
Janeiro, a empresa justificou-se com cálculos: o trem era mais alto que o corpo
e, por isso, não se justificaria atrasar o horário da viagem, deixando os
usuários esperar. Na verdade, o transporte de trens no Rio nunca respeitou
horários, nem se preocupou com as condições em que viajam os passageiros. Assaltos a faca no interior dos vagões, tiroteios, falhas sistêmicas são noticiadas diária ou semanalmente
pela imprensa, não só local, mas nacionalmente. A justificativa revela na
verdade o oposto: o flagrante desrespeito às pessoas, aos usuários pagantes, e
até mesmo morto nas dependências do sistema. Aliás, um outro crime constitucional,
o desrespeito aos mortos insepultos.
No caso
bárbaro da morte do leão pelo caçador amador norte-americano também houve
cálculo maléfico, esquematização e arregimentação de cúmplices pagos a altas
quantias de dólares. Interessante que o caso do animal comoveu mais;
ambientalistas entraram em cena e organizaram protestos, nas redes sociais o
assunto ganhou grandes proporções e foi muito mais longe do que o caso do
anônimo atropelado e vilipendiado depois de morto pela companhia que age em
nome do Estado. Ambos os crimes são inaceitáveis, ambos usam o cálculo humanamente
desumano: essa racionalização perversa que degrada a vida.
Elói Alves