domingo, 2 de agosto de 2015

O LEÃO E HOMEM: DOIS CÁLCULOS, DUAS BARBÁRIES


Nesta semana, o caso de um leão que fora atraído para fora do Parque Nacional do Zimbábue, por um guia pago por um dentista estadunidense, que o assassinou de um modo estúpido, espalhou-se nas redes sociais e os jornais pelo mundo desdobraram os detalhes, inclusive os valores pagos pelo dentista aos comparsas, descobertos agora. No Rio, uma outra barbárie: a empresa responsável pela circulação de trens ordenou que uma composição prosseguisse o caminho, passando sobre um corpo estendido nos trilhos e que fora atropelado pela composição anterior. As imagens, gravadas num telefone móvel, também circularam na internet.
No Rio de Janeiro, a empresa justificou-se com cálculos: o trem era mais alto que o corpo e, por isso, não se justificaria atrasar o horário da viagem, deixando os usuários esperar. Na verdade, o transporte de trens no Rio nunca respeitou horários, nem se preocupou com as condições em que viajam os passageiros. Assaltos a faca no interior dos vagões, tiroteios, falhas sistêmicas são noticiadas diária ou semanalmente pela imprensa, não só local, mas nacionalmente. A justificativa revela na verdade o oposto: o flagrante desrespeito às pessoas, aos usuários pagantes, e até mesmo morto nas dependências do sistema. Aliás, um outro crime constitucional, o desrespeito aos mortos insepultos.

No caso bárbaro da morte do leão pelo caçador amador norte-americano também houve cálculo maléfico, esquematização e arregimentação de cúmplices pagos a altas quantias de dólares. Interessante que o caso do animal comoveu mais; ambientalistas entraram em cena e organizaram protestos, nas redes sociais o assunto ganhou grandes proporções e foi muito mais longe do que o caso do anônimo atropelado e vilipendiado depois de morto pela companhia que age em nome do Estado. Ambos os crimes são inaceitáveis, ambos usam o cálculo humanamente desumano: essa racionalização perversa que degrada a vida.
Elói Alves

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