sábado, 28 de julho de 2012

O GALO E O FESTIM DOS HOMENS

Há um festim lá fora, borbulhando
Ouço os homens a esboçar contentamento
Entoam glórias e adornam o exterior
À minha porta, canta um galo desorientado

-Acalme-se, galináceo- digo baixinho
Amanhã tudo estará como sempre
A celebração é uma festa exígua que não dura
Sua fuga não desvia-nos do nada

-Durma tranqüilo esta noite
E volte a me despertar amanhã
Seu canto será sempre o marcador dos tempos
Entre os quais os homens vacilam e se negam

Elói Alves

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O HOMEM E OS DIAS

Hoje cedo protegi-me da chuva à porta de uma igreja
E uma voz rouca e cansada soava tristonha:
-Senhor, ponho esta semana nas tuas mãos...
Fiz muita fé com ela e fui desejando ao meu modo
Que os meses e os anos também estivessem seguros
E as décadas de quem as alcançar
Porque os dias são lisos como o azeite
Escapam pelas brechas de minhas mãos
Sem que haja força de homem que os sustenha

Elói Alves

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O ENIGMA DAS PALAVRAS

Quem penetra o mundo das palavras
Que se concentre e desconfie, prevendo o perigo
A cada canto fervilham segredos e armadilhas
Paragens abismais, ocultas por águas mornas

Há garras feias que assustam e nada fazem
E outras que ferem ao fundo e mortalmente
Que diluem a dor e deixam a ferida intacta
E escondem-se com maneiras discretas

Depois, os recantos onde pairam os bálsamos
Em que se banha quem conhece seus caminhos
E aprecia as formas sutis de seus deleites
Mas seus acessos não são francos ou sem riscos

Seus enigmas buscam a entrega, de corpo e alma
Eles não se revelam a quem não traz disposição
Ou guarda empatia com a pressa e a insensibilidade
Querem seres despidos e dispostos a mergulhos profundos
Elói Alves

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domingo, 22 de julho de 2012

INSTANTE DE ETERNIDADE

Meu oceano é um fiapo d'água intermitente
Lá e cá ondulam e desfazem-se pequenas bolhas
Quando sol o aquece, sinto uma leve ternura
Mas logo passa, levando os raios que me distraem

Queria o sol aqui por mais um tempo
Temperando a minha vida gelada
Despertando meus olhos com suas cores
Afugentando o clima indolente

Não é certo que retorne pela manhã
Mas esperarei, embora a noite seja longa e fria
E se a suportar, darei a esse instante a eternidade

Elói Alves

CARLA ZANETH: ACROBACIAS AÉREAS



Carla Zaneth é uma atriz cuja dedicação à arte não tem limite. É realmente impressionante vê-la atuando. Seu desempenho aparentemente tranqüilo e feliz exige dela um apuro técnico de nível elevadíssimo e- acho eu- muita coragem. Conheci-a em uma de minhas andanças pela cidade de São Paulo e ela, extremamente gentil, se dispôs falar e apresentar-se para fotos do blog. Carla estudou no Rio de Janeiro e é acrobata, bailarina e já atuou em teatros e circos. Nas fotos, ela aparece em acrobacias aéreas com tecido.
Veja outras imagens dela em IMAGENS DA CIDADE, no link na parte superior da página.

Elói Alves

TIO GERBÚLIO ATACA DE ROMÂNTICO

No domingo, depois da missa, tio Gerbúlio disse para a mulher, à porta da igreja:
-Vai aprontando o almoço, que vou dar uma volta com o menino.
Dona Prudência rumou para casa com os vizinhos, que iam descendo, e o marido entrou pela rua da feira com o Gerbulinho.
O menino, aos seis anos, já dava mostras que seria bom de garfo como o pai. Na barraca do japonês, comeram cada um dois pasteis e tomaram caldo de cana. Quando tio Gerbúlio o chamou para ir andando, ele falou, decidido:
-Espera, pai, agora quero mais um de carne.
-Vai comer mesmo? Olha que em casa vai ter que almoçar, senão sua mãe me mata.
-Almoço sim, pai. Não almocei no domingo passado?
E era verdade. Na semana anterior, a mesma cena já havia se passado.
Os dois caminharam ainda olhando as barracas. Tio Gerbúlio tinha comprado algumas frutas, que gostava de ter em casa. Já no fim da feira, lembrou-se da barraca de doces. Foi até lá e comprou um pote de marmelada. Era um mimo para agradar a mulher.
Na entrada de casa, separou a marmelada das frutas e disse:
-Trouxe um docinho da feira pra você, meu bem. Tá uma delícia, quase igual a doçura do teu beijo!
Dona Prudência, que não gostava muito das prosas do marido, respondeu de dentro:
-Traz logo esse doce pra eu comer um pedaço, homem! E vê se larga de bestagem!

Jão Gerbulius Sobrinho
(Este texto faz parte das histórias do tio Gerbúlio)

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