sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

QUEM TIRIRICOU EM 2O10?

A democracia garante e deve garantir o direito a tiriricar.
E também o de não o fazer; como eu, que não tiririquei e, pelo que imagino, em questão de preparo e adequação ao cargo, deva ser o meu escolhido a posto político, jamais tiriricarei.
Mas no Brasil não se vota pela capacidade e preparo nem por princípios morais e administrativos, geralmente. Severino Cavalcante sempre deu péssimas entrevistas, mostras de toda arrogância e preconceitos contras as diferenças, gaguejava ao ler diante das câmaras e ao mesmo tempo foi forte rei do “baixo clero no congresso federal até o “grande dia” em que foi levado ao topo para presidi-lo. Foi derrubado pelo “mensalinho”, já pelo nome uma corrupção considerada menor. Na verdade havia perdido a sustentação política. O primeiro governo do PT havia batido cabeça, apoiou mais de um candidato à presidência do congresso e, frente ao seio enfermado pela bagunça, teve de beijar a face de Severino, de quem já se dizia seria sempre “governista”, como o foi de fato.”. Obrigado a renunciar, Severino teve espaço e posto políticos garantidos, sendo eleito prefeito de sua cidade, com o apoio do presidente Lula.
O já diplomado deputado Tiririca não é ingênuo. Não tem grande preparo em questões de ciência política nem muito contato com a cultura letrada, o que é necessário em quaisquer altos cargos na complexidade do mundo atual. No entanto, ele sabe o que quer e não é ingênuo; sabe cativar, sobretudo nas camadas sociais em cujo mundo a complexidade do raciocínio cartesiano é estranha e até repelível. Ademais, a simplicidade é atributo fundamental a qualquer orador, seja a um Marco Túlio Cícero, com De oratore, seja a um Tiririca.
O que poderia ser chamado estranho é que no Brasil a irresponsabilidade da brincadeira, do protesto inócuo, da inconseqüência, a descrença nas instituições e na classe política e até a indignação são misturadas no mesmo lugar; o que leva a uma confusão até gente com alguma maior capacidade e certa formação acadêmica. No limite há aí também a ideia de que a política não é séria. E esta questão não é simplista e esteve presente na campanha de Tiririca .
Além do mais, os grandes campeões de voto no período da abertura política tem sido os candidatos que apelam a estratégias que passam longe do preparo para com as coisas republicanas. Coisas que por serem públicas exigiriam mais rigor de todos, mas não no Brasil. O dr Eneas apelou muito mais ao aspecto fantástico e extraordinário que ao seu preparo intelectual. Tornou-se campeão de votos literalmente no grito. Não ia às ruas, dizia seu nome a partir da tv e o povo votava. Quase foi presidente; como deputado, elegeu a si e a outros que não tinham votos. Quando teve mais tempo, não elaborou o discurso pela via da coisa pública, mas preferiu apenas referir-se a barba que havia retirado, por motivo de doença. A final, “com barba ou sem barba” o seu nome era “Eneas”. Por certo ângulo elaborou um perfil que lembrava o fascismo.
Nos últimos anos, um grande equívoco de percepção política tomou conta do país. Na verdade isto é do antigo jogo do “faz de conta”. A mudança de pessoas, como a chegada de Lula ao poder no Brasil, bem como a de Obama nos EUA, de Cristina na Argentina ou de Evo na Bolívia, de Zapatero, do partido socialista obrero, na Espanha e ainda Lugo no Paraguai não produz mudanças estruturais no mundo. O controle econômico, o controle institucional, o controle das áreas estratégicas, como o decisivo monopólio das redes de comunicação, o acesso à complexa jurisprudência, das carreiras mais importantes nas primeiras universidades do mundo está reservado a uma classe restrita. À classe média em suas subdivisões sobram conformadamente coisas menos importantes e a outros as migalhas permitidas pelo incontestável crescimento econômico e científico-tecnológico do mundo moderno.
Algumas coisas referentes a macro e micro estruturas do Brasil são fáceis de se verificarem. Nas questões econômicas, basta ver em que áreas o pais domina e quem são as pessoas ou famílias que dominam essas áreas. Ainda na primeira, veja-se o controle dos meios de comunicação. Na outra ponta, o povo brasileiro é frágil e alegre e ingenuamente aberto ao conducionismo político e religioso. Não é a toa que o país é grande produtor de ideologias de tipo teológico, de magias e curandeirirsmo e ao culto das faclilidades mais adaptáveis que lembram As Raizes do Brasil, de Buarque de Olanda. E os paises que importam esses produtos são os menos desenvolvidos, sobretudo da África. Na maioria das universidades se ensinam conteúdos como ortografia e regência. Na administração de Paulo Renato, um analfabeto foi aprovado em vestibular para direito no Rio de Janeiro, o que o obrigou a baixar uma portaria específica que exigia redação. O atual ministério não foi ainda capaz de organizar com eficiência uma prova como o ENEM. Bom, dizem que o Brasil está de mudança, para onde será que vai, além da UNASUL?

domingo, 14 de novembro de 2010

BRASIL DE MUDANÇA!!! (de volta o Pergumtero)

Segundo a propaganda política das últimas eleições, "o Brasil está mudando".
Daí minha dúvida: Seus políticos vão com ele? E todos no mesmo voo!? Uma beleza!
Alías, qual é mesmo o destino??
Como já é de senso comum, o Brasil é o País do futuro. E, para o escritor Gore Vidal, ele " sempre será!" Assim, estariam todos se adiantando??
Bom, eu me recuso a ir; fico por aqui, numa digna volta econômica.
Zé Nefasto Perguntero

sábado, 6 de novembro de 2010

Dilemas do limão

Estou mal e preciso de um limão.
Um bom limão faria bem contra minha gripre;
Mas veja a situação!
Que a tal preço, faria mal para meu bolso.
Um limão é sempre amargo,
(Como tenaz oposição)
Mas a preço largo
faz um azedume do diabo.

RÉPLICA E TRÉPLICA

__Quem fez este mundo não tinha um projeto mais agradável?
__Éstá óbvio! Não fez as maravilhas de que os são os ceus?
__Ah, muitíssimo claro, e do lado superior, e com intervalo no meio; para que o homo sapiens não lhe defecasse a cabeça, nem o cheiro lhe chegasse tão fácil.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

DO QUE MAIS GOSTO EM VOCÊ?

Do que mais gosto em você:
De seu olhar, sereno e calmo,
De suas palavras soando como salmo,
No seu singelo jeito de dizer?

Como se pode, então, priorizar,
Se se divide, diversa, sua beleza,
Numa amplitude de toda natureza,
Afastando-se e juntando-se de para em par?

Se seus pés são belos,
Seus olhos são singelos,
Formando tudo uma mesma inteireza.

Come se poderá assim escolher,
Se a parte eleita é a própria incerteza?
Porque a certeza é inteira: é você!

Lançamento do livro Contos humanos, de Elói Alves, dia 27 de novembro:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2013/11/lancamento-do-livro-contos-humanos-de.html

sábado, 5 de junho de 2010

O BISPO MACEDO, A SAÚDE DOS RINS E A CAIXA DE ÁGUA

       O bispo Macedo, o grande líder neo-pentecostal brasileiro, soube usar em sua liturgia, antes mesmo de se fazer bispo, algo maravilhosamente saudável que é a água, fazendo os fieis tomá-la imediatamente após suas rezas e orações. Não obstante aos protestos de muitas igrejas co-irmãs que julgam este ato diabólico, a água opera maravilhas. E, ainda que para muitos as curas religiosas sejam fruto de efeitos psicológicos, ou reações positivas às técnicas retóricas fantásticas e às excelentes oratórias de cujo uso nosso bispo é grande mestre, mesmo incomensurável, a introdução litúrgica da água é um ganho nunca antes tão bem utilizado neste país, sobretudo devido sua tropicalidade e ao nosso gosto de nos expormos ao sol.
       Essa prática é uma grande bênção de cuja graça deve haver amplo testemunho, inclusive por meio da mídia e da propaganda. Mais ainda: é medicinalmente recomendada uma boa ingestão de água ao longo do dia. Alguns recomendam sete ou oito copos por dia. Isso no entanto não é matemático, como não é unânime a crença e a fé. Com as mudanças climáticas, ou "el cambio climático", como dizia All Gore, ou com a prática de esportes isso pode variar para mais. Para o bom funcionamento dos rins, da circulação do sangue, do equilíbrio da temperatura do corpo etc, a água é vital, e seu uso contínuo pelos fieis (pelos infieis também) deve ser mesmo recomendado, até mesmo porque, no caso de o milagre não acontecer, a água ajudará na saúde do amigo fiel e pio, para que ele não pereça.
        Apenas um cuidado. Num pais, cujo saneamento básico ainda é precário, e cujos inúmeros esgotos não são tratados, mesmo em "regiões nobres", é sempre preciso tomar cuidado para não ingerir água contaminada por vírus, por bactérias e por outros organismos microscópicos, mesmo sabendo que a fé não costuma falhar, que a nossa reza é forte e que o “companhero Lula” acabará com a miséria e os esgotos “desse país”.
        No entanto, só acordei para essa maravilhosa maneira de se promover o saudável uso da água depois de um certo acontecimento com um amigo meu. Sendo ele ateu obstinado,daqueles que têm carteirinha para entrar no inferno, foi chamado, numa tarde chuvosa em que lia Swift sob os cobertores, pela vizinha crente para explicar a ela o que dizia um pastor gringo que lhe lia uma bíblia diferente. Era um mormo. Meu amigo, vendo o lugar em que se metia, piorou logo o seu inglês aprendido na Austrália, misturando-o com espanhol de sotaque argentino. Antes de sair, traduziu ainda o pedido da vizinha que vinha da cozinha com um galão de água nos braços “para ser orado”, e emendou à tradução também o seu pedido: “o senhor não podia orar logo pela caixa de água?”
Elói Alves

Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de Eloi Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html


Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html


Adquirir o livro:http://realcomarte.blogspot.com.br/p/as-pilulas-do-santo-cristo-adquiri.html 


 

terça-feira, 23 de março de 2010

TREVAS EM BRASÍLIA, 3º apagão em dez dias na capital deste país

Herculano era contra o iluminismo, mas eu nada entendo de filosofias, sei apenas que é necessário haver luz. Mas Brasília, a capital deste país, está em trevas nesta terça feira. É o terceiro apagão em dez dias. Baiano Velho, personagem cego de Alcântara Machado, diz no velho e apagado trem de Maguari que "viver nas trevas é cuspir no progresso da humanidade" Olha, quero convocá-lo ou convidá-lo, cego Baiano Velho, para gritar comigo, pois como haverá progresso e ordem se não há luz? Como poderão trabalhar nossos brasileiros de Brasília? Como poderão trabalhar nossos deputados? Como poderão assisnar seus importantes documentos, mesmo aqueles que são assinados sem ler, assinados em confiança aos colegas de partido? Como poderão viver tranquilos na Câmara, no Senado e no Planalto todos seus habitantes, mesmo que confiem uns nos outros de olhos fechados. O ex-governador Arruda está seguro, é certo, mas viverá tranquilo sem luz, mesmo na carceragem da polícia federal onde está? Não me lembro, mas será que Brasília esteve em trevas outras vezes? Seria seguro viver em trevas em Brasília, seria mais econômico para os contribuintes? No conto de Alcântara Machado,"Apólogo Brasileiro Sem Véu de Alegoria", houve uma revolução, mas em Brasília não será preciso. Será preciso apenas ter luz, sobretudo para que ninguém ponha por engano as mãos nas meias alheias, e tenham mais cuidado na hora de guardar o dinheiro. E olha, isso pode valer até um mandato.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Perguntero: O "companhero Lula", a paz no mundo, a guerra dos Estados brasileiros e o Anti-Cristo

O " companhero presidente" Lula foi ao oriente médio assumindo a posição unilateral de portador da paz no mundo, pretendendo a união fraterna dos povos que guerreiam a milênios, para cujo conflito o Apocalipse prevê uma grande união momentânea com governo único.
Ao mesmo tempo, diante do conflito entre os Estados da República Brasileira, que tem de um lado o Rio de Janeiro e o Espírito Santo e os demais Estados do outro, envolvidos no conflito político-econômico dos royalties do petróleo brasileiro, o presidente disse que nada tem a fazer, e que o problema é do Senado, ainda que tudo tenha começado com um projeto do governo federal para arrecadar mais que os Estados produtores de petróleo.
Só resta perguntar, será que o presidente Lula se esqueceu que numa República Federativa, como a brasileira, cabe ao presidente a mediação dos conflitos interestaduais e que a paz entre as nações fraticidas, por sua vez, caberá, segundo o Apocalipse de São João Batista, ao Anti-Cristo???
Por hoje é tudo, amanhã acho que volto não.
Zé Nefasto Perguntero (colunista)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Coluna do Perguntero: Dilma x Zé Dirceu (estréia da coluna)

Segundo Roberto Jéferson, que desvelou o chamado mensalão, Dilma Rousseff é o "Zé Dirceu de saia". Pergunto: Por essa logica, o Zé Dirceu seria a Dilma de calças?
E diante da declaração da então ministra Marta Suplicy, onde dizia que os passageiros que ocupavam os aeroportos brasileiros com vôos atrasados deviam "relaxar e gozar", um preocupado ouvinte de uma rádio de São Paulo escreveu à emissora o seguinte: "Gozá, nóis goza, ministra, mas pra relaxar não tá dando". A propósito, na hora da turbulência, como a do citado caos aéreo, a ministra relaxa e goza ao mesmo tempo?
Hoje é tudo, volto amanhã não.
Zé Nefasto Perguntero

domingo, 28 de fevereiro de 2010

IMORTAL JOSÉ MIDLIN MORRE EM SÃO PAULO

José Midlin, imortal pela Academia Brasileira de Letras, cuja cadeira de sua propriedade como imortal era a de número 29, morreu hoje em São Paulo por falência múltiplas de órgãos aos 94 anos. Segundo o blog de notícias Folha do Seu Paulo (blogspot), o imortal que também fora diretor da Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP) tinha bibliofilia desde os treze anos e um acervo com quarenta mil volumes. Antes de morrer, o imortal Mindlin doou sua biblioteca para a USP.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A SOBRIEDADE DA EMBRIAGUEZ E A RAZÃO NA LOUCURA

É sabido que já se foi longe e ao fundo, sob todos os aspectos, no sentido de apontar os males de todas as loucuras, de todos os vícios, de toda embriaguez irrefletida e o excesso de zelo a Baco. Já se tem cantado e decantado todas as loucuras dos fanatismos políticos, do ufanismo egoísta e inconseqüente, do fundamentalismo cultural e religioso, do absolutismo teológico e doutrinário, da burocracia da corrupção do Estado e do sectarismo partidário e político, da confiança no capital, no cientificismo e no academicismo. Desde os filósofos mais antigos, antes mesmo dos peripatéticos, desde os oradores romanos, desde a escolástica, se tem condenado os excessos e a ausência de humanidade no homem, bem como, na era cristã, a distância do “Cristo histórico”, ou da humanidade do homem.
Mas se tem, no entanto, esquecido, a função humana e social de toda embriaguez, mesmo sua flagrante razão e, (por que não?,) sua sobriedade. Explicarei isso com a narração de um fato:
Certa feita, durante um dos mais rigorosos invernos que já viu a nossa importante Moscou, em pleno stalinismo, bebiam juntos, já a altas horas da noite, três colegas de copo, ou de garrafa, que apreciavam sempre uma boa vodika. Tendo sido, devido à hora, expulsos da venda pelo vendedor, colocaram-se trambos_desculpe o português na tradução_ trambos os três em marcha ébria para casa. Viram-se de repente frente a uma casinha já quase coberta pela neve e resolveram apertar a campanhia. Nada demorou e veio ao exterior da casa uma senhora entrada nos quarenta, danada nos nervos e já furibunda, falando aos berros:
___Sem vergonha, além do adiantado da hora, chega bêbado e acompanhado. Aposto que vem também sem dinheiro. Hoje...
Antes de mais nada, um dos bêbados, certamente o mais lúcido, cheio de filosofia de garrafa, no auge de toda e calculável razão que pode ajuntar ali, naquele instante decisivo para sociedade stalinista, num passo estratégico e militar, pôs-se adiante, interrompendo e fazendo calar, num instante, sua oponente com as seguintes palavras:
___ Que diabos, minha senhora, fala logo qual dos três é seu marido, que os outros dois querem ir embora.
Com o alento da existência dessa “verdade histórica”, talvez encontre-se também alguma razão ou sobriedade em meio à loucura e à embriaguez do mundo contemporâneo, que na verdade é a loucura do homem.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amabilidade

A amabilidade é uma propriedade aberta. Mesmo em casos de especificidade ela não pode ser fechada. Ela varia, permita-se comparar, com os indíces estatísticos, em rolagem acima ou abaixo. No seu caso, o específico se vê na unilateralidade da curva sempre ascendente, isto é, no seu jeito peculiar de ser sempre, e cada vez, mais amável; mais amável que o instante doce de há pouco atrás, querida e linda.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O PERÍODO EM QUE TODOS OS BRASILEIROS ERAM MILHONÁRIOS: O 15º aniversário do REAL e a nossa língua

Neste aniversário do plano real, quero propor um ponto de confluência da estabilidade da economia com uma outra, a estabilidade na língua, ambas com origem naquele plano econômico. Entrando aqui no campo econômico, não irei longe, no entanto, ao ponto de discutir questões de inflação ou deflação, tampouco dissertar sobre a atual e gravíssima crise econômica mundial, que teve origem no sistema de financiamento de crédito dos Estados Unidos, em meados de setembro de 2008.
Ao contrário de minha proposta acima, sabe-se na verdade que a língua não se estabiliza, nem poderia. A língua é um elemento dinâmico, vivo, em constante desenvolvimento e como tal não pode estagnar-se, mesmo com a estagnação da economia, isto seja, não há como pará-la no tempo. Todo o dinamismo de nossa atualidade confirma e corrobora isto, e mesmo setores mais conservadores ou fechados são sensíveis a novas influências que se refletem no modo como lidam com a língua. Agora, um sistema econômico frágil, como era o do Brasil antes do plano real, desencadeia outros tipos de problemas, bastante prejudiciais à sociedade, e as questões lingüísticas não poderiam ficar à margem disso.
No período anterior a esse plano da economia brasileira, a inflação era “normalmente” denominada de “galopante”, caractrizando um período de “hiper-inflação”. Os preços mudavam diariamente, quando não mudavam mais de uma vez por dia, sem quaisquer exageros aqui, diga-se. Havia filas enormes nos postos de gasolina, supermercados, implementando a “cultura do estoque”, dando origem, inclusive, a expressões lingüísticos como “a compra mês”.
Esta cultura era de fato o meio como as pessoas reagiam às constantes e repentinas mudanças nos preços. E os preços subiam indefinidadamente. Os salário dos trabalhadores tinha que ser reajustado sempre na tentativa de acompanhar a subida dos preços dos produtos. No entanto, como o trabalhador recebia por mês e os produtos tinham seus preços reajustados diariamente, aqueles ficavam sempre no prejuízo.
Com essa deflagrada “cultura inflacionária”, os sucessivos governos brasileiros iam implantando novos planos econômicos na tentativa de remediar ou solucionar efetivamente o problema do descontrole inflacionário . Um problema técnico e matemático muito comum à época era a quantidade de zeros à direita, que precisavam ser constantemente cortados, pois faltava espaço até nas calculadoras. Assim, surgiam os respectivos planos econômicos, típicos de economias vulneráveis e “moedas frágeis” ou pouco duradouras. Esses planos naturalmente tinham nomes diferentes e traziam novas mudanças à língua, inclusive com novas funções de termos da língua e mudanças gramaticais, como a substantivação do adjetivo real, neológico nesta acepção, sendo seus novos nomes impingidos à face da moeda nacional. Chamavam-se, por exemplo, “cruzeiro”, “cruzado”, “cruzado novo”, “real”; os mais antigos falavam em “mil reis” , “um tostão” e o parâmetro para ganhos e perdas era quase sempre uma moeda estrangeira, o dólar. Em fim, os brasileiros tinham que se adaptar.
No entanto, a adaptação nem sempre foi fácil. Alguém poderia perguntar, até mesmo num concurso: “Qual é o nome da moeda corrente no Brasil?” Diante dessa pergunta, até um intelectual, um economista, poderia ter dúvidas na hora. E mais: “quanto valem hoje dez centavos?” “Com a nova moeda, como o povo fará o plural de real?” “Quanto era hoje cedo o preço do pãozinho?” “Você sabe se essa nova moeda é nova?” Agora uma pergunta jornalística: “Senhor economista, qual é, realmente, o valor real do Real, tendo em vista a realidade do momento?” “E como seria uma projeção realista do real?” Hoje é fácil, não? De todo modo, para certos efeitos, o trabalhador recebia o seu pagamento num cheque com infinitos zeros à direita, sendo, assim, também um milionário. E dependendo do dia, de seu salário e da inflação viria a ser também um bilionário, um Bill Gates.
Acabando com aquela endemia inflacionária, o Plano Real, tendo à frente o então ministro da fazendo do governo de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, extinguiu também a chance de muitos pobres, como eu, serem “milionários”, sem cultivar milhos. É verdade também que ao final do governo de FHC, como presidente, se dizia que ele “gostava tanto de pobre que deixou todo mundo pobre

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