Almoçando
no chinês barateiro – que referi em Sob o ceu da cidade –
observei um movimento de ir-e-vir de duplas policiais. Estranhei.
-Estão
policiando o calçadão da São João?
O
moço Faz-tudo do restaurante terminou de me servir e foi à
porta.
-Estão
procurando mercadorias de camelô para prender - disse-me com um
sorrizinho maroto.
Terminei
o almoço e desci o calçadão, cortando pelo Vale
do Anhangabaú. Nada de novo debaixo deste cinzento céu
paulistano. Forravam o imenso vale bêbados e drogados,
contorcendo-se pelo chão como minhocas urbanas. Lá e
cá, fumegavam o cheiro de droga mesclado a outras
excrementícies. Além dos assaltos aos passantes com que
já vou me habituando, aos vizinhos de prédio e
conhecidos, deparo-me com os pedintes de um real, “para a comida”,
que vão logo almoçar nos restaurantes gratuitos da
Prefeitura ou comer a sopa das ONGs, guardando devidamente o dinheiro
dos traficantes, que não gratuitizam seus produtos.
Em
casa, tomo meu café quando o Márcio bate à
porta. O carioca se diz ladrilheiro, mas está a reformar todo
meu apartamento, redefinindo espaços e modernizando tubos,
exceto a elétrica, que deixa para o gentil e culto sogro
acreano e me diz rindo:
-Com
fio eu me borro.
Pego
a marreta enquanto ele suga seu trigésimo cigarro com a cara
branca de pó da maquita. Quebro com o ponteiro, marreteando nas partes mais fáceis e deixo o concreto denso para ele.
-Aqui
no centro você não consegue ajudante - me diz, livrando-se da bituca.
Acham que lucram muito mais perambulando atoa pela ruas.
Eloi Alves
Leia o primeiro capítulo de As pílulas
do Santo Cristo romance de Eloi
Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html
Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
Adquirir o livro:http://realcomarte.blogspot.com.br/p/as-pilulas-do-santo-cristo-adquiri.html
Quisera esta sua narrativa fosse apenas obra de um aguçado autor de ficção! mas não! este é o retrato deprimente de nossos tempos.
ResponderExcluirAinda assim, dou-lhe todos os méritos pelo seu literalismo!
Verdade Ira
ExcluirQuem dera fosse apenas ficção.
Esta obra é a descrita completa de fatos que conhecemos bem...
Elis
Muitíssimo grato, queridas Ira e Elisabeth, abraços, amigas e atentíssimas leitoras
ExcluirMuitíssimo grato, querida Ira por sua preciosa leitura e atento comentário, amiga!
ExcluirEloi
ResponderExcluirParabéns pelo riquíssimo texto, sempre surpreendente.
É tão conhecida esta situação, não aceitar o trabalho por acreditar que o pagamento é baixo, comos e andar a nada fazer seja algo de maior lucro...
Elisabeth
Os cenários usados em suas narrativas são na maioria a cidade de São Paulo,uma cidade que exerce uma influência nacional e internacional,no entanto,os problemas acompanhados nos noticiários e os mencionados na sua narrativa,tornam-se comuns em outras cidades de estados bem menores.A falta de emprego é um problema que a maio
ResponderExcluirria das cidades enfrenta,mas a falta dos que não querem se ocupar tem crescido assustadoramente,ocupam sim as ruas fazendo delas palco de cenas degradantes que somos obrigados a presenciar a todo custo.Quem sabe não seria o caso
de importar uma mão-de-obra para o ramo,Elói!Abraços ,amigo!
Muito grato, MArilene, por sua leitura e lúcido comentário, amiga!
ExcluirA propósito Marilene Ribeiro, tem crescido assustadoramente os desocupado e em sua grande maioria jovens! Recentemente fui à Brasilândia para uma apresentação no CEU e deparei-me com centenas deles em plema tarde (14h00) preocupante
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