No quintal do velho padeiro jaz sua velha bicicleta
Ela aposentou-se com ele, ou ainda antes...
Na verdade, fizeram horas extras, o quanto puderam
Ele senta-se adiante dela, olhando, vago, a rua
O moço traz agora o pão, montado à motocicleta
É mais ligeiro que o velho e há menos pães à garupa
Mas não assobia nem cantarola e o pão esfria-se depressa
E também não tem pão de milho
Minha mãe não me deixava acordar sem o pão, e dizia:
-Faz tempão que tem pão_ sempre ao pé da manhã
E hoje tenho pizza adormecida
Trago o paladar estranho e acidez à boca
Esquece-me a cabeça, vagando em outros tempos...
O relógio de mamãe fazia um tic tac mais sonoro
O computador dá-me as horas tristemente, enfadonho...
E minha voz dilui-se em dizeres que não reconheço
Quero pão-de-leite com com a maciez de outrora
Com assobio e canto que adentrem a janela
E quero as sensações sem a estranheza de mim mesmo
E que seja eu do outro lado do espelho...
Não quero o cinza das tardes, mas o azul de antigamente
Elói Alves
do livro:
Leia o primeiro
capítulo de As pílulas
do Santo Cristo romance de minha autoria cujo lançamento será dia 27/11,
no Restaurante Rose Velt, pça Roosevelt, 124, das 19:00 às 21:30
h.:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html
Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo
escritor e mestre em Literautra Comparada pela FFLCH-USP Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
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Tão confortável a leitura de seus versos que sinto-me em bela carruagem a percorrer neste poema! Sua capacidade de narrar nos faz viajar em cada detalhe. Parabéns... mais uma vez.
ResponderExcluirDe minha experiência pessoal revivi a mercearia, o pão comprado a caderneta, chamado filão ou bengala. E a bendita mão de minha mãe o dividia por 6, em fatias milimetricamente idênticas. Eu levantava até mais cedo, descobria o guardanapo que o abrigava e olhava, olhava. Não conseguia vantagem, eles eram todos iguais!
Um grande abraço e muito grata por me oferecer esse deleite.
Oi, Ira, obrigado, querida! Sabe que esse poema e me faz lembrar um monte de coisas, das vilas... das idas à padaria...também acho muito simbólico, do pão, do trigo...das cilvilzações antigas com o dilema dos viveres. Bijos gratos, amiga!
ResponderExcluirPoxa Eloi...
ResponderExcluirQue cenas descortinas em minha memória cansada. Memória que criei através de outras leituras e observações, mas que me me pertencem.
A cena da Ira me fez lembrar a casa de uma pessoa querida, que me ajudou muito na infância, a iemã Socorro, nós também mediamos os pães para ver quem ia ganhar a maior parte, mas eramde fato cortados iguais!
O teu personagem sentado em frente a bicicleta me fez lembrar algo que lia nos primeiros anos da escola. Deve ser ele o padeiro de Rubem Braga. Que me diz?
Elisabeth Lorena Alves
Ah, que lindas suas recordações, Elisabeth Lorena Alves! Este poema evoca mesmo outros tempo, a saudade é muito forte nele, os tempos estão bem opostos ali; nada como o padeiro, e velho; pão e tempo acho que acaba sendo uma síntese da vida dos que sofrem mais, Beth, (não sei se é essa, mas há uma crônica onde o padeiro deixava o pão e dizia: " não é ninguém é o padeiro", linda também! beijos gratos!
ExcluirSe temos lembranças parecidas com as do velho,somos bem-aventurados,tempos bons, onde a escassez não era sinônimo de tristezas e lamúrias, em contrapartida as coisas parecem melhores,alguns dizem,gostamos da pizza fria,o tic tac do relógio era como nota musical, mas o computador,a motocicleta e outras invenções traz-nos sensações e prazeres nunca vividos,mas jamais substituirão as doces lembranças de quem as viveu!!
ResponderExcluirMuitíssimo grato, Marilene, por sua leitura e comentário, que sempre auxilia a interpretação literária; grande abraço, preciosa amiga.
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