Zeraio sentiu que ia fraquejando. As pernas fortes como os velhos
troncos de árvores à sombra das quais os avós contavam histórias antigas
pareciam que iam afinando. Havia dois sóis que não se levantava. Suava gelado
como as águas do sinistro Tejucano que não tinha fim nem começo nem deixava
conhecer suas profundezas. Bebia o caldo que Tumbeia cozia com plantas amargas.
- É pra espantar Anhancã- dizia a vó.
Zeraio não viu o sol no terceiro dia. Mas queimava.
O velho Tijuano, magricela de pés pequeninos e ligeiros, entrou com seu cajado
de árvore zeicana, que só os anciãos sabiam onde colher.
-Traz-me saúde, paizinho?
-Trago-te a paz da vida que nunca se acaba.
- Como vens de tão longe, nunca topaste com a mosca matadeira?
- Nunca, disse o velho. Sempre é preciso espantá-la. A purgação é necessária,
e tem seu prazer. Mas é preciso se livrar do purgado que engorda a mosca, até
olhar é uma tentação perigosa. Com o tempo o mal vai subindo e logo a mosca aparece.
Quando não mata, deixa suas crias que entram por tudo. É preciso aprender a
lição da natureza, como ligeiro felino.
...
- Ainda me ouves?
- Longe.
-E que vês?
-Uma linda porta.
-Abre-a e entra por ela.
Elói
Alves
Que saudade de ler você! É por demais Maravilhoso o contato com sua escrita multifacetada,digo sempre,esta nos remete a vida simples, humilde ,de um povo humilde,de um cidadezinha do interior,a sabedoria raiz,aquela oriunda da vida.Zeraio sorveu tudo que a vida ofereceu, talvez,tenha se distraído e esquecido de espantar alguma mosca matadeira,no entanto,no momento da atravessia,parece tranquilo,parece conhecer a paz da vida que nunca acaba, também conhecida do velho Tijuana,e parte tranquilo.
ResponderExcluirAbraços, Elói!
Obrigado Querida Amiga Marilene, por sua preciosa leitura e por compartilhar suas interpretação, sempre rica e analítica. Abraços gratos
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