domingo, 8 de setembro de 2019

Confusão na sopa do japonês

Numa andança peripatética pelo Centro Velho, com meu parceiro de análises literárias, o psicanalista Maciel, interrompemos a conversa para observar uma sui generis concentração de pessoas na Praça do Patriarca, extensão do Viaduto do Chá, onde se instala, hoje, a sede da Prefeitura paulistana.
Entre os moradores de rua, que habitualmente se hospedam nesse espaço, havia um ajuntamento maior, destacando-se no meio um grupo de japoneses com roupões pretos, a maneira de kimonos. Próximo a eles, algumas mesas, de plástico branco, estavam justapostas, ainda vazias. Pareceu-me alguma oficina de jogos orientais, mas logo percebi pela disposição de uma fila ordeira tratar-se de alguma organização destas que distribuem comida pelas praças do centro da cidade.
A fila, que era pequena há instantes, logo triplicou-se, e ia aumentando ainda. Uma Reclamação brotou do meio para trás. Desse burburinho gritou um dos reclamantes:
- A sopa, japonês!
Foi o suficiente para uma confusão fermentar, e, sem que que se percebesse, três ou quatro rolaram pelo chão. Num instante, a sopa foi esquecida e os contendores eram já incontáveis.

Outros observadores, que cruzavam a praça, se juntaram a nós, fazendo crescer também a reunião de observadores curiosos. Um homem que parou ao meu lado, abriu uma bolsa e me mostrou um notebook: “está novo e barato”. Agradeci e me direcionei para a rua São Bento, em direção ao Mosteiro, voltando-me um pouco para esperar Maciel. Nesse instante, entre nós parou um homem que pedia dinheiro para comer.
-Qualquer trocado.
Realmente não levava dinheiro. Sai sem lhe dar mais que essa negativa e só depois me ocorreu de lhe dizer que, logo que a confusão esfriasse, provasse da sopa do japonês.
Elói Alves






2 comentários:

  1. Elói...
    Amo textos que mostram os acontecimentos citadinos, principalmente quando se trata de minha Metrópole favorita... Realmente em Sampa tem dessas coisas fila, comida de graça e briga e, quase sempre ao mesmo tempo.
    Em tempo, fiquei com dó do faminto...

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    1. Muito grato, Preciosa Elisabeth, por sua gentil leitura e comentário

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