Abaixo postei a análise do livro Sob um céu cinzento feita pela professora de literatura brasileira e escritora Paula Nogueira
A
propósito de seus textos, em Sob um céu cinzento: haveria palavras para mensurar a
sensibilidade neles? Diante dessa pergunta, serei bem simplória
em relação ao que eu não consigo expressar.
Adoro a forma como você trabalha o cotidiano urbano, cheio de
lirismo, cheio de poesia. Poderia classificar, se me permite, como
poesia cinza, poesia de pedra, pois embora sendo plenamente sensível,
sua poesia traz o cotidiano pesado a que nos submetemos sem
alternativa. O resultado para nós, obviamente, é como
essa voz grita: “Perdido, disforme, no contra-fluxo / Sem arranjo
possível” (Enigma e angústias).
Aliás,
não poderia deixar de compartilhar o que leio: a poesia nasce
em suas palavras, pois já nasceu antes em você, em mim,
ao redor, no deixar-se sentir, no que esparge “do sangue que cai da
pena da vida” (Onde se faz a poesia). Dói como se fosse
física, nascendo como flores delicadas na paisagem feita de
cimento, rompendo pele e quebrando pedra vão colorindo com
cores que não podemos ver; sua composição nos
invade, florescendo no preto e branco aos olhos de dentro e de fora,
conforme visita-nos – admito que seu texto foi quem me visitou e
não o contrário – a obra composta por 68 poemas que
integram esse sentimento urbano impresso. Dói. E é na
linguagem ora impregnada de formalismo, sem pedantismo, ora
desconsolada informalidade que confirmamos esses aspectos
conflitantes que só quem está sob o céu cinzento
poderia compreender.
Há
de se considerar que as vozes transeuntes desses poemas, não
deixam de nos caracterizar enquanto indivíduos citadinos
petrificados nas ruas geladas, confundidos com os espaços. São
vozes que guardam a denúncia da nossa metamorfose que ainda
não podemos, nem sabemos nomear. Eu lírico é uma
denominação limitada e corajosa pra tais vozes, vai
além. Afirmo que é a representação de
todas as vozes ocas, da periferia ao centro, misturadas murmurando
perdidas no tempo e no espaço. É por meio dessa – ou
dessas vozes - que respiramos impregnado de uma fumaça densa
o lirismo a que nos leva seu texto, acabamos por mergulhar nessa
imensa petrificação, sentindo o peso das antíteses
que emerge dos conflitos da nossa era.
Muitos
mereceriam, mas necessito destacar aqui Nômade,
de uma subjetividade acentuada, mas representante do coletivo
abrigado nas tendas frágeis da geada e do vento frio. No
tocante ao deslocamento, asseguro que somos todos nômades em
nós mesmos. Em A
Morte da Vidente,
a banalidade da morte, que assombra cotidianamente escondida em cada
esquina das perspectivas que carregamos. Enigma
e Angústias, Pães e Tempos, Casa de Relógios e
Música Monótona
– o tempo. Cada indivíduo busca, inventa, aumenta,
seleciona, perde-se em função do tempo. Facetas do
tempo de correr atrás do tempo que continua nos escapando,
perdido neste exato instante e que continuamos a perder. E perdemos
para o tempo sob o manto invisível do vazio – Vazio
oposto.
Não poderia deixar de citar, ainda, Coragem
de Menino
e o medo de não saber o que é a cidade sem tristeza. Um
eu lírico com tal inocência que não conhece outra
paisagem, apenas a da cidade com o seu sofrimento. Estas suas
pinceladas poéticas estão entre muitas outras
belíssimas e únicas integrantes do cenário que
você remata com sucesso memorável.
Para
selar, diante da imensidão dessa questão urbana, eu
deixo uma pergunta ao leitor mais questionador: Estamos nos
transformando em homens feitos de cimento ou o ambiente está
tomando a forma que alimentamos dentro de nós? Após Sob
um céu cinzento,
não consegui ainda respondê-la.
Paula
Nogueira
O autor Elói Alves com a professora de literatura e escritora Paula Nogueira em noite de autógrafo do livro Sob um céu cinzento, em São Paulo
Obrigada pelo carinho e pela poesia, amigo Elói. Abraços
ResponderExcluirMuitíssimo grato, Paula Nogueira. Fico feliz por dedicar a sua tão eficiente e bela escrita à análise de meu livro, amiga querida! Seu texto tem um olhar diferenciado, iluminador, olhar de uma intérprete literária capaz de imersão, de ver longe e ver bem; pena somente que não chegou a tempo de sair como prefácio, teria certamente ajudado a muitos leitores, num diálogo com eles sobre as nuances poéticas, com a subjetividade em suas matizes que permeiam os textos; espero saia numa segunda edição, entanto. Eternamente grato, amiga preciosa e muitíssimo distinta colega!
ExcluirFantástica análise destes preciosos versos! Amo a poesia de Eloi, ela nos toca no âmago causa enlevo e por vezes labirintos de emoções. Quanto a pergunta, acredito que exterioriza nossos sentimentos e portanto vem de dentro!
ResponderExcluirIra, amiga querida, muito grato por seu lindo comentário ao texto da Paula; suas palavras, seus gestos são estímulos, são tocantes; bjos gratos, minha muito especial amiga.
ExcluirOrgulho de ser sua leitora assídua e de ter ,como a Paula, sensibilidade para senti-lo de maneira profunda!
ResponderExcluirGratíssimo sempre, Ira; bjos, amiga!
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