quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

TRAGÉDIA NO NATAL

        Era natal. A cidade reluzia na beleza de todos os seus enfeites. O principal viaduto da cidade fora adornado com luzes e flores natalinas. Do fundo do vale, sob o qual passavam os carros, eregiam-se enormes eucaliptos esplendidamente iluminados, indo competir, em seu ápice, com os postes do charmoso viaduto.
       À frente do moderno edifício da Prefeitura, papai noel agigantado recebia as crianças que subiam nos trenós, onde os pais as fotografavam com as renas. As moças faziam pose para as fotos e os namorados beijavam-se embebidos da paixão e da alegria. Do outro lado do viaduto, o enorme shopping, de frente para o enorme templo da música clássica em cujo lado estava o teatro, explendoroso em sua bela arquitetura barroca, enfeitava a cidade com suas cortinas vermelhas envoltas em fitas verdes, perfiladas em suas infindáveis janelas.
       De repente, ouviu-se um barulho estranho. Algumas pessoas olhavam para baixo do viaduto. Era um infeliz que dera cabo à sua vida. Havia pouco estava absorto, perto da enorme árvore de natal. Uma criança, que corria, tropeçou em suas pernas, frias e duras, sem que o homem desse com nada. Apenas continuou parado.
Estava ali há algum tempo e na verdade andava já em outro mundo.
        Havia saído de casa fazia dias, quando leu no celular da mulher as mensagens do amante. Pegou algumas vezes na faca, mas seu filho estava sempre por perto. Saiu, então, para rua e instalou-se em um hotel no centro. Nesses dias pouco comeu e nada trabalhou. Passara horas no quarto do hotel e às vezes saia à rua, como agora, olhando o nada.
         Da árvore de natal foi caminhando em direção ao shopping. Sempre lento, como se não houvesse se movido, olhando para o infinito de si mesmo. Estacou-se, de repente, no meio do viaduto. Apaupou a mureta e mirou o longe, como se olhasse ao alto, onde a bandeira, hasteada na escuridão, dizia-lhe: "ORDEM E PROGRESSO".
         Logo voltou de si, como se tivesse saído da amargura. Levou a mão direita à camisa amassada e tirou do bolso uma foto. Beijou-a com um beijo gélido: era um menino loiro. Depois subiu a mureta e saltou para encontrar o fundo do vale.
        No mesmo instante, das janelas do shopping, um coral de crianças órfãs encheu a cidade com seu lindo canto natalino
Elói Alves


Leia o primeiro capítulo de As pílulas do Santo Cristo romance de minha autoria:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html

Abaixo, pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e doutor em Literautra Comparada pela FFLCH-USP Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
Adquirir exemplar do livro:http://realcomarte.blogspot.com.br/p/as-pilulas-do-santo-cristo-adquiri.html

9 comentários:

  1. Olá meu amigo Eloi,você sempre do contra né kkkk
    tem que fazer do Natal uma tragédia né kkkk,Poxa eu gosto tanto da energia que o natal me passa,através da alegria das pessoas e principalmente das crianças,fico tão sensivel nessa época, tudo me emociona e me faz intensificar ainda mais os meus pensamentos de muita luz e paz ao mundo todo,principalmente para essas pessoas como o amigo do texto,eu sei que nem todos entra nessa magia e por algum problemas estão triste,mas eu acredito que o pensamento é tudo e que nessa época devemos pensar em coisas boas e com muita energia para o mundo,acho que se todos nós pensarmos assim,poderiamos mudar as energias de que estão tristes.
    Não vamos pensar em tragédias,porque atraimos ela,vamos pensar Na Paz e no Amor sempre!!!!
    Te curto muito meu amigo,estou com saudades,Mil Besos.

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  2. E mais um menino loiro e orfã irá se juntar ao coral ano que vem...
    A fantasia do momento mágico que buscamos no natal por vezes nos rouba a consciência de que nem tudo será luzes e flores na noite que abraçamos gloriosa! Mas a alma humana precisa de refrigério amigo e nesta confraternização universal, a quem for permitido vivenciar a alegria, a paz e a fantasia...não é pecado sonhar! Sei que este espírito, por vezes, acentua a dor dos desfavorecidos, mas no interstício da dor, a eles também caberá a sensação de paz!
    Você é excelente escritor porque sempre consegue tocar... mesmo às avessas!Este texto mostra também que o autor, incomoda-se com as ações frenéticas das pessoas nesta época!

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  3. Sugestão de leitora... não seja assim tão fiel, como tem sido, ao intitular, para que nossa mente tão produtiva não de cabo ao seu personagem antes dele mesmo!

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  4. Gratíssimo, amigas letrófilas; ótimas reflexões, muito apropriadas;abraço e grande beijo,amigas Ira e Rosi.

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  5. Querido, li a crônica do natal e a do inglês... gostei mais da do natal, há um lirismo nela. Duas coisas me chamaram a atenção, o menino tropeçou na perna dura e gelada, mas o cara não tinha acabado de se jogar? e acho que o narrador da crônica se comportar como onisciente parece-me inverossímil (já que se trata do gênero crônica), acho que "supor que o homem isso e aquilo" seria mais instigante, não sei, gostei dos textos... eu tiraria as traduções do texto do inglês. . e adorei o "elevador da vida capitalista" rs, abraços do amigo e irmão Edu.

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  6. Gtato Edu Moreira, irmão de letras e da vida; há um flash back através do narrador, que volta no tempo como narrador onisciente; muito grato pela apreciação, abração!

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  7. Caro Edu, sobre o menino que tropeçou... o fato se deu antes da morte física do personagem, quando o mesmo entregava-se emocionalmente à morte! por isto a colocação que o mesmo não se dera conta pois andava já em outro mundo...
    Abraços.

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  8. .
    Leonice Rocha (pelo facebook) Belo texto Elói Alves Do Nascimento,retrata exatamente o que é o natal,um dia como todos os outros uns felizes,outros tristes,nada a acrescentar de diferente,pois a diferença vinda deste dia penso que deveria ser a de todos os dias,pessoas se abraçam,se amam,etc so esse momento e os demais dias do ano ....amar,presentear,viver ,ser feliz e consequencia de fatos diarios...parabens meu querido amigo !!!

    há 8 minutos · Editado · Não gosto ·

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  9. Ahhh!! eu vejo essa história de vez em quando ao vivo e em cores! Sempre digo que "chifre" deveria ter CID(Código de Identificação de doenças) por que quando não mata, enlouquece, deprime ou leva a sequelas irreversíveis no plano psicológico do individuo. Além da impotência de ter sido enganado alia-se ao fracasso, o fracasso de não ter sido suficiente, apesar de que isso tudo é balela a gente sabe mas não admite. O fato de ser natal dá mais impacto ao cenário, as pessoas prestam mais atenção nos eventos que acontecem nestas datas, o ímpeto de transformar o espírito natalino em coisas boas não permite que alguém marque tragédia justamente quando o ser humano quer ser de fato humano uma vez ao ano. Amei a crônica, cheia de realismo e bem próxima do que eu vejo diariamente diante meus olhos de socorrista. bjsss

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