A
expressão “Mobilidade Urbana” eclodiu na mídia durante os protestos de 2013 contra o
aumento no preço da tarifa do ônibus em São Paulo, que, nesta cidade, está
atrelado ao valor cobrado nos trens do Metrô e da Fepasa, protesto que
reapareceu no início deste ano. Sem entrar no mérito da “tarifa zero”,
defendida pelo Movimento Passe Livre, a iniciativa do movimento teve o poder
de realçar em toda a mídia a questão do caos no transporte público nas grandes
cidades; o próprio Governo Federal, depois de um silêncio eloquente à época da
explosão dos protestos, incorporou a expressão ao discurso oficial, prometendo “bilhões”
pela causa, até que esta esfriasse. Mas o problema persistiu e se ampliou.
O motivo do
caos na mobilidade urbana, evidente, é de natureza econômica e, mais ainda, de política
econômica, pois passa por uma escolha do Governo de privilegiar um modelo de
transporte dominado por gigantes do setor: o transporte por automóvel individual,
em detrimento do coletivo. Essa escolha do Governo foi implementada pelo
favorecimento de tal indústria por meio de subsídios, redução de impostos que
vieram a prejudicar a economia do país e aumentar a dívida pública além de
causar desempregos quando se chegou à desaceleração do setor devido ao fim dos
privilégios do Governo, felizmente incapaz de sustentar por mais tempo seus graves erros na política
administrativa e econômica.
Há nisso uma lógica
perversa cujos caminhos não se percebem facilmente. Para que essa política dê “certo”,
isto é, chegue a seu fim, é preciso que a produção se intensifique nas
fábricas sem redução dos preços, por meio das descritas ajudas do Governo, e que uma boa parte das pessoas sem
renda suficiente também possam adquirir um automóvel, que para isso também
devem ter acesso a crédito fácil e, principalmente, que algo de força maior as impulsionem
para à loucura das dívidas, que, ao cabo, é o transporte coletivo caro e de péssima qualidade.
O caos na
mobilidade das pessoas nas grandes cidades passa por essa filosofia política
que privilegia o transporte motorizado individual; é, pois, uma escolha, como é
todo ato administrativo; uma escolha infeliz para a maioria, mas também para
quem é beneficiado por ela, enlatado nos congestionamentos das cidades mal
planejadas. Mas é também, além dos equívocos administrativos, uma questão
criminal: o favorecimento a tal indústria passa pelo interesse no financiamento
por ela dos partidos e enriquecimento pessoal dos políticos e mediadores; crime que envolve inclusive a venda de
votos parlamentares no Congresso e de Medidas Provisórias do Governo Federal,
como hoje se investiga.
Elói Alves é escritor, ensaísta e
professor
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