sábado, 8 de julho de 2023

BATE-PAPO COM AUTORES- EVENTO PROMOVIDO PELO iNSTITUTO LETRÓFILO e Ed. ESSENCIAL




 


O Instituto Letrófilo e a Editora Essencial

com apoio da Livraria e Sebo Mania de Cultura - promovem:

 

BATE-PAPO COM AUTORES

 

que realizar-se-á no dia 22 de julho, sábado, a partir das 14h., na Livraria e Sebo Mania de Cultura,

localizada na R. Dr. Rodrigo Silva, 34 – Liberdade

 (junto à Pça João Mendes).

Os autores serão convidados a falar de suas obras, com debates entre os participantes.

Coordenação do escritor e advogado Elói Alves, com mediação do editor e jornalista Carlos Torres.

 

Apoio:




 

 

 


 








 

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Lançamento de Contos e Causos Notariais

 

No último dia 15 de maio, houve, na Faculdade de Direto da USP, no Largo São Francisco, SP, o lançamento do livro Contos e Causos Notariais, 3ª ed., com prefácios para 1ª e 3ª edições do advogado e escritor Elói Alves, que também foi revisor do livro. 

O autor, professor e tabelião Arthur Del Guércio Neto (na foto acima, com blazer vinho e sem gravata, ao lado do prefacista), é autor e coordenador de diversas obras jurídicas e professor de Direito Notarial e Registral. As obras jurídicas do autor também tiveram a revisão de Elói Alves.

Leia abaixo o prefácio para 3ª edição do livro.

O livro Contos e causos notariais, de autoria do Professor e Tabelião Arthur Del Guércio Neto, chega a sua aguardada terceira edição, enriquecido por novos textos cujas características narrativas, analisadas no prefácio à primeira publicação, estão ainda mais maturadas pelo talento e apuro do autor. A isso se somam, também, novos aspectos jurídicos, além de questões de cidadania, que se vão entrelaçando, por um típico ofício de escriba.

O escriba era, desde a antiguidade, um notável cidadão, que, antes da difusão social do letramento escolar, lia e escrevia, sobretudo textos sagrados e jurídicos, pontuando fatos, registrando pactos e redigindo documentos próprios à Administração, além de compor as crônicas da vida dos reis. Tinha, assim, uma auctoritas, detinha saber e técnica que o notabilizavam em uma sociedade ágrafa, gozando da confiança de todos e de, por assim dizer, fé pública.

O escriba, que também se fez presente na idade média como cronista régio, emprestava, ab manu, as características indeléveis da forma de sua escrita, ora nos hieróglifos dos textos sagrados, ora nos rolos de papiro dos documentos oficiais do Egito antigo; hoje, o tabelião, herdeiro dessa tradição,  empresta também seu olhar peculiar para qualificação dos títulos que se lhe apresentam e para se redigirem escrituras públicas, além de outros atos notariais, como a ata notarial, meio de prova consagrado pela lei processual civil em vigor,  cuja eficaz elaboração exige apuro técnico, narrativo e descritivo, ademais do saber jurídico imprescindível ao ofício e domínio da língua com a qual trabalha. Esse modo de ver aparece também em Machado de Assis, que pinta o olhar do tabelião, personagem do conto O EMPRÉSTIMO, como “cortante e agudo”, como se observou, juntamente à análise de seu peculiar antagonista em ensaio que compõe O olhar de Lanceta, que publiquei em 2015.

À presente edição se acresceram textos como “A fonte dos desejos”, em que ressurge o saboroso talento narrativo do autor destes Contos e Causos, características mais profundamente analisadas no prefácio à primeira edição, cujo texto o leitor tem à disposição nesta obra. Ainda mais: “As eleições e os cartórios, “A ilusão dos R$ 103.141,14 mil”, “Dia Nacional do Notário e do Registrador”, “O coronavírus e os cartórios”, além de “A nova lei dos registros públicos” ampliaram a publicação atual. Temas como nascimentos, casamentos, uniões estáveis, óbitos, negócios imobiliários, protestos são abordados pelo autor, destacando-se o papel cívico da atividade notarial e registral, denominada, no Registro Civil, como “ofícios da cidadania”.

A todos, boa leitura!

 

Elói Alves é advogado, atuante em SP, prof. formado em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos livros O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade e do romance As pílulas do santo Cristo; foi revisor de importantes obras jurídicas e literárias.

O prefácio à 1ª edição, em que analisei outras características do livro, pode ser lido por meio link:  REAL COM ARTE: O letrófilo: PREFÁCIO PARA O LIVRO "CONTOS E CAUSOS NOTARIAIS", DO JURISTA ARTHUR DEL GUÉRCIO

 


domingo, 11 de junho de 2023

Lançamento de CONTOS E CAUSOS NOTARIAIS, com prefácio exclusivo que redigi para 3ª edição

      O livro Contos e causos notariais, do prof., jurista e tabelião Arthur Del Guércio Neto, que traz novos textos nesta  3ª,  e novo prefácio redigido por mim, terá um coquetel de lançamento na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, centro de São Paulo, na próxima 5ª feira, 15 de junho. O evento terá início às 18h.

      Além de novos textos, o livro traz dois prefácios, enfocando aspectos diferentes, que redigi para a 1ª e 3ª edição.


Leia a seguir o prefácio escrito para a terceira edição

O livro Contos e causos notariais, de autoria do Professor e Tabelião Arthur Del Guércio Neto, chega a sua aguardada terceira edição, enriquecido por novos textos cujas características narrativas, analisadas no prefácio à primeira publicação, estão ainda mais maturadas pelo talento e apuro do autor. A isso se somam, também, novos aspectos jurídicos, além de questões de cidadania, que se vão entrelaçando, por um típico ofício de escriba.

O escriba era, desde a antiguidade, um notável cidadão, que, antes da difusão social do letramento escolar, lia e escrevia, sobretudo textos sagrados e jurídicos, pontuando fatos, registrando pactos e redigindo documentos próprios à Administração, além de compor as crônicas da vida dos reis. Tinha, assim, uma auctoritas, detinha saber e técnica que o notabilizavam em uma sociedade ágrafa, gozando da confiança de todos e de, por assim dizer, fé pública.

O escriba, que também se fez presente na idade média como cronista régio, emprestava, ab manu, as características indeléveis da forma de sua escrita, ora nos hieróglifos dos textos sagrados, ora nos rolos de papiro dos documentos oficiais do Egito antigo; hoje, o tabelião, herdeiro dessa tradição,  empresta também seu olhar peculiar para qualificação dos títulos que se lhe apresentam e para se redigirem escrituras públicas, além de outros atos notariais, como a ata notarial, meio de prova consagrado pela lei processual civil em vigor,  cuja eficaz elaboração exige apuro técnico, narrativo e descritivo, ademais do saber jurídico imprescindível ao ofício e domínio da língua com a qual trabalha. Esse modo de ver aparece também em Machado de Assis, que pinta o olhar do tabelião, personagem do conto O EMPRÉSTIMO, como “cortante e agudo”, como se observou, juntamente à análise de seu peculiar antagonista em ensaio que compõe O olhar de Lanceta, que publiquei em 2015.

À presente edição se acresceram textos como “A fonte dos desejos”, em que ressurge o saboroso talento narrativo do autor destes Contos e Causos, características mais profundamente analisadas no prefácio à primeira edição, cujo texto o leitor tem à disposição nesta obra. Ainda mais: “As eleições e os cartórios, “A ilusão dos R$ 103.141,14 mil”, “Dia Nacional do Notário e do Registrador”, “O coronavírus e os cartórios”, além de “A nova lei dos registros públicos” ampliaram a publicação atual. Temas como nascimentos, casamentos, uniões estáveis, óbitos, negócios imobiliários, protestos são abordados pelo autor, destacando-se o papel cívico da atividade notarial e registral, denominada, no Registro Civil, como “ofícios da cidadania”.

A todos, boa leitura!

 

Elói Alves é advogado, atuante em SP, prof. formado em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos livros O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade e do romance As pílulas do santo Cristo; foi revisor de importantes obras jurídicas e literárias.

O prefácio à 1ª edição, em que analisei outras características do livro, pode ser lido por meio link:  REAL COM ARTE: O letrófilo: PREFÁCIO PARA O LIVRO "CONTOS E CAUSOS NOTARIAIS", DO JURISTA ARTHUR DEL GUÉRCIO

O livro e outros textos do autor prefaciado podem ser conferidos em sua página: BLOG do DG

 

sábado, 27 de maio de 2023

NOTAS DE SUCESSÃO HEREDITÁRIA

 

ABERTURA DA SUCESSÃO E TRANSMISSÃO DA HERANÇA

 

Segundo o artigo 2º, do CC - Código Civil brasileiro em vigor (Lei 10.406. de 10/01, de 2002), a existência da pessoa natural termina com a morte, a partir da qual dá-se a sucessão hereditária.

Com o falecimento do autor da herança, até a partilha, o direito dos herdeiros sobre a propriedade e posse da herança é indivisível, sendo os herdeiros condôminos dos bens sob partilha, regra do Livro V, do CC, art. 1.791.

Sobre o momento em que se abre a sucessão hereditária, o entendimento jurídico é pacífico, não havendo discussão interpretativa sobre o tema. Falecido o autor da herança, transmite-se ela, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

O jurista e professor Carlos Alberto Gonçalves, a propósito da ausência do autor da herança, lembra a instantaneidade da transmissão da herança diante da ocorrência do falecimento. Segundo o Prof. Gonçalves, não pode haver direito subjetivo sem autor:

“Como não se concebe direito subjetivo sem titular, no mesmo instante em que aquela acontece (morte), abre-se a sucessão, transmitindo-se automaticamente a Herança aos herdeiros” (Direito das Sucessões, 2011, v. 4, p. 13).

A redação da lei civil é clara neste sentido, determinando que a herança se transmite desde logo, tendo sido aberta a sucessão (art. 1784).

Desse modo, tanto o entendimento dos doutrinadores, especialistas no tema, como a prescrição legal não deixam dúvida sobre o momento da transmissão da herança, que se dá no momento da passagem do de cujus, não sendo concebível a existência de vacância na titularidade da herança.

Elói Alves atua como advogado em São Paulo, é professor, formado em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos livros O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade, do romance As pílulas do santo Cristo, do livro de poesias Sob um céu cinzento e de Contos humanos; foi revisor de importantes obras literárias e jurídicas. Email: eloialves75@hotmail.com

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Resenha crítica de MEDOS LETIVOS, livro do escritor Osmar S Júnior

 



Por Elói Alves

 

Medos Letivos, segundo livro do escritor e professor Osmar S. Júnior, lançado pela editora Scortecci, no início de 2023, reúne dez extraordinárias histórias que bem se encaixam no gênero narrativo dos contos e concentram, todas elas, elementos típicos das narrativas de terror, mistério e suspense, como já apareciam no belo livro do autor, publicado em 2020, 21 Passos no escuro, mas, ao contrário de sua primeira publicação, Medos Letivos concentra-se em ambientes escolares, espaço em que o medo, a tensão, a ansiedade entre outros dramas humanos se potencializam pelo foco narrativo, colocando o leitor no centro dessas ações que o captam do início ao fim.

Medos Letivos já de início atrai a atenção do leitor nos dois contos da primeira subdivisão do livro (primeiro bimestre), e segue prendendo-o por todo o livro; são histórias para se ler de uma só vez, pois o leitor se vê intrigado com o desenrolar das ações e quer, a todo preço, desbravar o mundo de acontecimentos sombrios que se lhe vai apresentando a cada momento. Um mundo de fenômenos psíquicos inquietos vai se abrindo diante do olhar do leitor, dramas, enigmas e pavores, muito verossímeis, para não dizer logo: muito reais.

O inconcebível perpassa todas as histórias; no entanto, não há nesses enigmas o mesmo fundo que o sustenta ou lhe dá origem. As narrativas vão escorrendo diante do olhar muitas vezes assustado do leitor que contempla a loucura e a insanidade se apresentarem de modos diversos e com peculiaridades bem específicas, seja pelos tormentos psíquicos de um ser humano fragilizado por situações conflitivas inerentes à profissão ou ao ambiente de trabalho, seja pela situação de uma personagem incapaz de reagir, devido suas limitações físicas e psíquicas, além de torturas vindas de alguém que teria tudo, inclusive o dever legal e jurídico, para ser seu anjo e que, ao fim, mostra-se tão insana, como se vê em A Dona Aranha.

Em Medos Letivos o foco narrativo está delineado por um olhar superior, que comunica com o leitor de uma posição que lhe permite mostrar os meandros psíquicos que muitas vezes levam as personagens à loucura; é uma posição muito adequada às narrativas do livro, onde o irracional e o inconcebível não surgem de ações aparente ou inicialmente perceptíveis pelas personagens, como ocorre em algumas histórias do primeiro livro do escritor Osmar Júnior.

 Ao contrário disso, mesmo em narrativas em que o trágico ou o terror, que se dará em breve, é conhecido de certa personagem, como ocorre no horripilante conto Tato, o Gato Gaiato, a personagem é tão vítima como todos os demais; ela é conduzida a um fim terrivelmente dramático a aterrador do qual vai tomando consciência a cada passo de etapas menos maléficas e das quais, embora tente, não vê como possa escapar, e cujo controlador e mentor é tão enigmático e assustador como o próprio terror que planeja. Numa síntese, poder-se-ia dizer que está tudo perturbadoramente controlado.

Curiosa é essa personagem materializada no Gato, mas seu uso pode ser apenas simbólico, pois todos ficamos no escuro, não só a personagem vítima que tem conhecimento aparente dele. O mistério abarca tudo, até mesmo o desfecho trágico que pulveriza a existência no conto. Esse mistério é bem peculiar da construção que o autor reserva para esses contos que compõem Medos Letivos, pois em 21 passos no escuro, muitas vezes, os maquinadores ou controladores do terror, inclusive criadores e alimentadores de monstros, são personagens que representam seres humanos, penalmente enquadráveis nas normas legais incriminadoras de tais condutas.

O enigma esparrama-se pelo livro; aparece, a seu modo, também em Coração de pelúcia, O quarto do pânico, A coisa no meu quarto, em O destemido Dennis, entre outros, e até mesmo no já referido Dona Aranha, embora aí a insanidade de um ser humano e a conduta humana delituosa seja bastante perceptível. Em todos eles, a loucura e a insanidade têm seu tom acentuado; o fantástico e o enigmático surgem muito a propósito da insanidade da mente humana, cujas razões para sua origem podem ser em alguma medida reconhecíveis ou sondáveis pela agudeza interpretativa do leitor.

O quarto do pânico será certamente um conto apreciado positivamente ou saboreado pelo leitor, sobretudo os amantes dos contos de terror. Ali há um dinamismo nas ações; não se faz uso nesse conto das técnicas de interrupção da linearidade narrativa, como aparece em outras composições do mesmo autor. Há um início de mal-estar para logo jorrarem as cenas de terror, pavor e medo que se espalham amplamente de modo dinâmico e totalmente incontrolável, formando um mundo fantasmagórico.

Por fim, é preciso destacar um outro conto em que aparece “uma avalanche de loucuras”, como diz o narrador, em Coração de pelúcia; destaco como parte dessa insanidade tópicos das narrativas em que surgem ações de tortura de tipos vários contra pequenas crianças indefesas; crueldades muitas vezes domésticas e por isso mesmo ainda mais terríveis e inesperadas. Sobre esse tema o autor já havia se referido no primeiro livro, tema que destaquei na resenha que fiz para 21 passos no escuro, cujo link para leitura segue abaixo.

Medos Letivos certamente agradará aos leitores que já conhecem o autor e agradará ainda outros, além do mais pelo enfoque do espaço narrativo em que se dão as ações que se passam nas histórias do presente livro; espaços comuns a tantos profissionais e a outras pessoas que passam por eles. O livro, como o primeiro, foi publicado pela Editora Scortecci, tem 151 páginas, nas  quais se dividem os dez contos, e podem ser encontrado pelo leitores no links abaixo.

Ao autor, felicitações pela obra;

Aos leitores, ótima leitura!

 

Elói Alves é advogado e professor, formado em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos livros O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade, do romance As pílulas do santo Cristo, do livro de poesias Sob um céu cinzento e de Contos humanos; foi revisor de importantes obras literárias e jurídicas. Email: eloialves75@hotmail.com

 

Resenha crítica de 21 passos no escuro: REAL COM ARTE: O letrófilo: RESENHA CRÍTICA DE "21 PASSOS NO ESCURO", DO AUTOR OSMAR S. JÚNIOR

 

Links para aquisição do livro:

Medos Letivos | Amazon.com.br

Medos Letivos - Scortecci - Outros Livros - Magazine Luiza

Medos Letivos - Livraria do Mercado | Estante Virtual

MEDOS LETIVOS | Livraria Martins Fontes Paulista

Livraria e Loja Virtual Scortecci - Ficção - MEDOS LETIVOS / Osmar S. Junior (livrariascortecci.com.br)

Medos letivos, Osmar S. Junior : Categorias - Contos (livrariadomercado.com.br)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Prefácio do livro Pãosia, da escritora Vanda Felix

 



Pãoesia, livro com que a poeta Vanda Felix presenteia seus leitores, é um desses livros pelos quais os amantes da leitura se apaixonam rapidamente.

Traz o pão pela palavra: esse rico elemento alimentar que nos sacia o corpo e simbolicamente é o elemento de saciedade do espírito, da alma que se sacia do saber, da arte, da cultura.

Há o pão da alegria e há o pão umedecido no cálice da dor; um é o pão das festas e outro, o pão do silêncio; mas ambos nutrem.

 Um e outro não deixam seu tom poético, ainda que marcados pelo contraste de almas reconhecidas pela larga distância de sua antítese- da alegria e da tristeza.

A milenar arte do padeiro aguça os sentidos como uma poesia cheia de sensações e sinestesias: capta-se pelos olhos a sua forma, convida pelo aroma e satisfaz pela substância.

Também assim é a poesia de Vanda: aparência e essência; compõe-se pela sonoridade hábil, levemente construída por seus versos aliterantes; alimenta pela palavra a mente e o coração do leitor sequioso de sua arte.

A poesia, o pão, o peixe – este sabiamente traçado na arte desenhada por Gaby Braun- são metáforas alimentares que não se separam da cultura humana, portanto, nutrem a vida em comunidade.

O poeta-padeiro, na arte despretensiosa de seus versos, traduz exatamente a riqueza e o segredo da existência humana: panes et circenses, a alimentação do corpo pelo pão e do espírito pela arte


Elói Alves é escritor e advogado, inscrito na OAB/SP; formou-se em Letras pela USP e Direito pela FMU; é autor, entre outros, do romance As pílulas do santo Cristo, de O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade e Histórias do tio Gerbúlio, pela Ed. Essencial; revisor de obras jurídicas e literárias.

 

domingo, 27 de novembro de 2022

Prefácio do livro 'Olhares silenciosos- PoÉtica da Diferença', de Guga Dorea

 

Elói Alves

O belíssimo livro do poeta Guga Dorea, Olhares silenciosos- PoÉtica da Diferença, que agora se faz chegar às mãos do leitor, é, antes de tudo, um estandarte que se ergue como símbolo de uma sensibilidade poética que sacraliza o olhar humanístico, um olhar que, no dizer do poeta “percorre os múltiplos labirintos” e “difíceis travessias” para ressignificar a condição humana, desnudando-a naquilo que a insensibilidade de nosso tempo petrificou.

O poeta vê como caos originário o vazio; não há aí, ainda, como no Gênises, um fiat lux, a palavra estabilizadora que ordena, que organiza e ilumina; há, via reversa, o medo, ou “os medos”, que, afirma, “podem anteceder aos atos”; ante o vazio, o olhar silencioso observa, enquanto o coração palpita. Essa palpitação, sob um olhar espectador, talvez gélido, dá-se às desconexões “rodeadas pela liquidez da existência desumana”, num perfeito diálogo de sua poesia com a modernidade líquida que se observa na filosofia de Zygmunt Bauman.

O medo, o vazio e o silêncio talvez suponham os “homens egóicos”, expressão que aparece no poema PULSAÇÔES. Aí, objetivamente, surge a ideia de progresso, diante da qual há “vidas perdidas em uma ardente amargura” e a injustiça que se esparrama. Semelhante constatação encontra-se em O MUNDO CHORA, com “Rostos colados em injustiça”. Nesse passo, o poeta enxerga uma “humanização disfarçada” e, “no asfalto nu da realidade” a ameaça aparece como “vírus humano”. As amarguras e injustiças que figuram ali talvez caibam, em exata medida, na cruenta cama de “Procustro”, mito grego cujo ensino o autor retoma, e o faz muito a propósito da formatação de nossa racionalidade quantas vezes insana.

No entanto, mesmo diante da apatia extensa em que mergulham os sentidos, o poeta não restringe seu olhar a um só ângulo, pois o atravessar sereno e vigilante de sua análise exige contrapontos. Assim, aponta para aquele que “Desbloqueia filtros que bloqueiam o enxergar/ Olha e segue perguntando/ São olhos caminhando livre pelo ar”. Esse mesmo tom esperançoso aparece em “inclusão, onde a alteridade permite “olhar as cores e as bordas da multiplicidade” e ainda a ternura em “Receber com abraços sentidos e afetos/percorrer os múltiplos labirintos/jorram belezas e desejos”, e seu planalto poético surge em “alcançar a potência/ e o lirismo das montanhas” e no entusiasmo em que “O riso ressurge”, em O fechar os olhos.

 

Bem sugestivo é harmonia poética que se apresenta nos poemas, o trabalho artístico se constrói em forma livre e versos assimétricos, sem nos privar, todavia, de sua embalante musicalidade, como se dá na construção de Nhanderu ou na cadência de “Vai e vem do ser”, em que a disposição dos versos breves se alia à sonoridade sugestiva de algumas consoantes aliterantes;

A isso se soma a sinestesia, que levemente vai sugerindo sensações simultâneas, as quais se notam, num olhar panorâmico e espaçoso, em “Ver a si mesmo e o outro”, com “fotografar...”/ “com ouvidos aguçados”/”abraços...”/ e “olhares que se bifurcam”, que reaparece em “enigmático olfato/ Da visão...”, no poema Fechar os olhos, além do aspecto antitético de que se pode depreender de “O dentro e o fora”, substantivados pela construção frásica do autor.

Fundamental característica que no presente livro se pode notar é a importância marcadamente humanística a que se têm alçado os poetas e literatos desde as mais longínquas eras como expoentes dos direitos humanos em todas as épocas, evocando a justiça na sua acepção mais profunda e menos institucional ou formal, em labor de resistência e emancipação, que neste livro aparece em seus “gritos de liberdade”.  

Os direitos essenciais inerentes a toda pessoa humana, constituintes do núcleo substancial de sua dignidade, estão amplamente presentes nas obras literárias,  que com frequência retratam a aspiração das personagens a uma vida livre de opressão; tais direitos, sejam conceituados como Direito natural, pertencentes universalmente à condição humana como tal, independentes do legislador, ou como direito positivo, constitucionalizados tardiamente pelos estados ocidentais, são invocados toda vez que o poeta retrata os dramas da existência de um ser sob opressão ou sua impotência ante condições que lhe provocam angústia.

 De fato, agindo contra a corrente, poetas e escritores, desde Homero,  ou ainda antes, erguem seu grito de socorro e alerta, grito tantas vezes sufocado pelo poder dos mais fortes; poder ora encarnado por grupos organizados, institucionalizados ou bandos armados, alheios ou tolerados pela força oficial, ora pelo próprio poder estatal por cuja diminuição os direitos fundamentais lutam diariamente, como garantia da preservação de um mínimo razoável à existência da vida humana, sobretudo em uma época de banalização do mal, como expressou Hannah Arendt.

Para Sartre, o ofício do escritor é desvendar, isto é, iluminar as consciências; já o poeta, no dizer de Drummond, luta com palavras “mal rompe a manhã. Mas o poeta e o escritor não são super-heróis. Dessa “tarefa de tirar vendas, o escritor não pode dar conta apenas com o recurso de suas palavras, com o alcance limitado de sua escrita. Porque ele trabalha sozinho diante de um mundo complexo que se refaz constantemente, que não cessa de produzir engodo, capaz de petrificar as mentes antes de sua chegada” (citação de O olhar de lanceta, p. 39).

O poeta tem a consciência disso, isto é, de que “É difícil viver poeticamente”. Mas afirma em seguida: “a poesia está em nós/ entre o imaginário/ E o real/ Entre corpos navegantes/ Jorrando tempos/ Inalcançáveis”. Por fim, Guga Dorea nos convida a “Olhar além do invisível” e a exercitar a sensibilidade: “São visionários os que sentem/ A interioridade complexa/ Sentir os ares externos/ Que te atravessam o corpo mutante/ Invisibilidades vivas/ Metamorfoses da vida”. Esse convite, para que se agucem os sentidos, iniciando-se já pelo olhar, parece-me o motor maior, a força iluminadora de sua obra.

A todos, ótima leitura.

 

Elói Alves, advogado e professor, formado em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos livros O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade, do romance As pílulas do santo Cristo, de Sob um céu cinzento (poesia), Histórias do tio Gerbúlio (pela Ed. Essencial),

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

RESENHA CRÍTICA DE "21 PASSOS NO ESCURO", DO AUTOR OSMAR S. JÚNIOR

 


Resenha crítica do livro 21 Passos no escuro, de Osmar S. Júnior

Por Elói Alves

O livro 21 PASSOS NO ESCURO, do escritor Osmar S. Júnior, publicado pela editora Scortecci, em 2020, reúne vinte e uma narrativas, do gênero conto, que se filiam à literatura gótica, de terror e suspense. Na obra, o autor, habilmente, constrói as histórias efetuando quebras na linearidade narrativa, com efeito de câmeras binárias, bem como rupturas de tempo e espaço, ampliando ainda mais o suspense e aumentando o clima de terror em que o leitor se vê imerso todo o tempo, como se estivesse vivendo essas histórias inexplicáveis e sombrias em que, à realidade, se impõe a excitação psicológica, transpondo-se, logo, para o mundo fantástico, avançando os limites entre o real e o sobrenatural em ambiente de horrores, de escuridão, medo e pânico.

O clima de mistério, de suspense, terror e medo atravessa todas as histórias do livro, como um pequeno e persistente inseto roedor que cava de um lado ao outro do livro. Ao leitor não é permitido qualquer sossego, se quiser respirar, terá que fechar o livro, se conseguir frear a volúpia que o tecer das tramas vai provocando a cada instante, instigando a continuar a leitura. Já de início a narrativa apresenta cenários sombrios, personagens que frequentam ambientes sinistros e que são devoradas pelo racionalmente inconcebível que deixam o próprio leitor em suspense, sem chão, sem respostas, que não se pode encontrar pelos caminhos labirínticos da trama narrativa.

Hipérboles como “um oceano de pânico”, que aparece no conto “Minha querida irmã” (p. 255), podem ser usadas aqui para descrever o que se narra ao longo do livro. Monstros horripilantes, diante dos quais se veem certas personagens para logo serem devoradas, surgem inexplicavelmente em certas narrativas ambientadas na zona rural, para onde as personagens haviam ido em busca de prazer ou tranquilidade. Objetos inexplicáveis aparecem no céu tranquilo e escuro de pequenas cidades interioranas para logo causar espanto, horror e mortes obscuras. A isso se somam os enigmas da insondável alma humana, que, em algumas narrativas, são eles os causadores do inexplicável que enlaça e devora as personagens, inclusive algumas das quais poderiam ser evitadas e salvariam vidas, como crianças indefesas, como mencionarei abaixo.

 

A técnica narrativa é diversa e permite ao leitor acesso a nuances diferentes das histórias. Na maior parte dos contos, o ponto de vista do narrador é dado em terceira pessoa, mas o foco narrativo aparece também numa autodiegese, como em “Rabo de arraia”, com personagens que narram, elas próprias, a história em que seus dramas se desenrolam, dando por esse meio pistas para que o leitor vislumbre caminhos que se vão enredando. As narrativas projetam seu tempo em planos distintos; há um ir e vir que rompe bruscamente com a linearidade, subvertendo o domínio da temporalidade pelo leitor, como ocorre, por exemplo, em “Alguma coisa ali no fundo...” (p. 164).

A coerência, na ampla maioria das tramas, só é possível internamente e não cabe a velha técnica de verossimilhança. Nesse sentido, cabe a diferenciação entre os substratos que dão origem material a cada história. Nem sempre se utiliza em 21 passos no escuro do sobrenatural, e este, quando aparece no livro, nem sempre tem a mesma base de formação, surgindo ora na experimentação científica de uma personagem desvairada, ora no sobrenatural de extraterrestres, ou ainda nos elementos de vampirismo presentes em algumas histórias.

 O elemento fantástico aparece também no absurdo da metamorfose em que o humano se transforma ou, antes, é transformado em monstro. Não se trata aqui da metamorfose kafkiana, em que, ao leitor, Gregor Samsa é apresentado lentamente sem o elemento de pavor; o enigma, em Kafka, passa pelo elemento de reconhecimento, nem sempre tranquilo à compreensão daquele “inseto monstruoso” cuja transformação o narrador oculta.

Além disso, o horror aparece também em construções em que Osmar S. Júnior dispensa o recurso ao sobrenatural, aparecendo aí o, por assim dizer, absurdo verossímil pertencente à própria existência humana. Assim, o que há de absurdo e insano na conduta humana aparece em crimes para os quais não se tem respostas ou no ocultismo e em rituais macabros.

Ao contrário, no conto “As obras de Deus” (p. 309), o desvendamento e a solução internos à narrativa resultam de uma investigação oculta, que se conduz de modo privado, quase que num exercício não convencional do que poderia chamar o ato de apuração, dentro de um clima obscuro que deixa o leitor no mesmo escuro em que estão as personagens, sem garantia alguma de legalidade e respeito ao que seja razoável, cujo ponto mais alto se dá com acontecimentos tão pavorosos como nos outros contos em que o elemento fantástico é o causador do terror.

Aliás, aí, tudo se passa dentro de um plano obscuro, como ignorados detalhes sobre a vida das personagens e a organização criminosa e secreta a que pertenceriam as pessoas. O efeito da narrativa que lança o leitor para “o meio dos acontecimentos” ou in media res, traz a sensação de que se está diante de mais um caso de horror, suspense e medo na escuridão que se faz, onde as personagens teriam sido escolhidas ao acaso, como simples ocasião para se espalhar o terror. Contudo, verifica-se, ao final, se tratar de caso e solução bem estudados. Aí está um importante elemento de distinção entre as tramas que se narram no livro.

O elemento artístico denominado de grotesco, muito presente na arte ocidental, como na pintura, escultura, na prosa e notadamente na literatura do romantismo nacional, aparece de modo destacado em 21 passos no escuro como elemento do fantástico e do inexplicável. O horripilante e disforme de certas criaturas, que surgem diante das personagens humanas, produz de imediato o estranhamento e, logo, uma sensação angustiosa e sinistra que vai culminar no terror. Aí está bem delineada essa categoria da literatura fantástica, em que nada se pode querer medir pela racionalidade e pela lógica. Toda coerência que se pode desejar aí está na própria narrativa que se vai desenrolando a cada instante de acordo com uma razão interna.

Exemplos disso estão em contos como “A sua dona” e “Alguma coisa ali no fundo...” (pp.137 e. 164). Apesar da similaridade da categoria artística desses dois contos, essas narrativas são diversas na forma em que o elemento fantástico se apresenta. No primeiro, tanto a personagem, posta diante do elemento de terror, como o leitor são surpreendidos pela metamorfose do frágil antagonista daquela vítima; o sobrenatural, nessa narrativa, está na própria metamorfose, limitando-se a ela aos efeitos a que ela mesma da origem. De outro modo, no segundo conto indicado, o monstro está ali antes mesmo da chegada das personagens, atraídas por outras razões de natureza lícita.

Um deles é produto da especulação científica exercida de modo arbitrário e ilegal, desviado do laboratório científico-acadêmico onde as pesquisas deveriam ser corretamente realizadas. O outro é uma aberração tresloucada que vai surgindo pouco a pouco diante dos olhos da indefesa personagem que estava ali para oferecer seus serviços ao jovem que a contratara, e se vê, logo, diante de um monstro horripilante. Diferentemente de outros seres em que humanos são transformados, como no caso que ocorre no conto “Rabo de arraia” (p. 215), a metamorfose do conto “Sua dona” se reverte constantemente, num efeito complexo da trama

O eixo temporal abarcado pelas narrativas se estende por um período de alguns anos, mais ou menos duas décadas, podendo-se notar por algumas marcas narrativas, como as gírias “quer tc”, usadas em salas de bate papo quando a internet começou a se popularizar, à época do Orkut e MSN, redes sociais pouco conhecidas por pessoas mais jovens. O texto mais recente pode ser notado por sua situação no período da pandemia. Nota-se que esses registros de época em nada prejudicam o fluxo da leitura ou a compressão do que é narrado; aliás, eles têm o condão de ampliar o vocabulário e o saber histórico.

Para concluir, importante relatar que o livro de Osmar Júnior não se alheia a questões de violência e crimes imediatos e particularmente sensíveis; muito ao contrário. Para se notar isso não será preciso um olhar interpretativo aguçado. O horror que alcança a personagem indefesa Carla, no conto “A vizinha” (p. 91) é um problema que a sociedade brasileira tem jogado para o subterfúgio do problema particular ou familiar, tendo como consequência a destruição trágica de vidas que não podem proteger a si mesmas. Esse mal é de responsabilidade extramuro; isto é, uma questão de violência e crime de que a culpa, em boa medida, é de todos que poderiam evitá-la e silenciam-se. Nisso se vê uma contribuição social e humana fundamental da obra.

O livro, apesar de haver um gosto muito assíduo de leitores jovens pela temática do seu gênero, pode ser lido com proveito e prazer por quaisquer leitores. Como sugeri na análise acima, o sabor de uma obra literária não está apenas no gênero escolhido pelo autor para nele construir sua ficção. Vai muito além disso e nem sempre sondamos toda a sua profundidade. A fantasia e o sabor literário passam por diversos caminhos e labirintos que, não à toa, aguçam e encantam leitores de todos os tempos, inundando a sua imaginação.

Aos de leitores 21 passos no escuro desejo:

Ótima leitura!

 

Elói Alves é advogado e professor, formado em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e em Direito pela FMU, autor, entre outros, dos livros O olhar de lanceta: ensaios críticos sobre literatura e sociedade, do romance As pílulas do santo Cristo e do livro de poesias Sob um céu cinzento. Email: eloialves75@hotmail.com

 

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