Riem-se
de mim por ser um velho corcunda e que rasteja-se
Poderiam
até chorar se não alcançassem senão o
resultado imediato das coisas
A
verdade é que estou cansado
Mas
como explicarei este meu cansaço
Se
nada fiz e já se põe este meu sol?
Não
construí pontes nem estradas
Não
plantei árvores, não escrevi livros
Não
fiz discursos como os políticos e outros oradores
Não
galanteei as mulheres
Nem
as amei como poetas submissos às musas
Não
vi os oceanos como os marinheiros
Nem
a ressaca dos mares revoltos invadindo as praias
Não
escalei as montanhas como os alpinistas
Nem
vi as geleiras como os pinguins
Não
tive filhos nem deixarei herança
Não
fui órfão nem enviuvei
Não
fiz voto de castidade ou de pobreza
Não
cruzei as cidades com os pés descalços
Não
lutei pelas ideias de liberdade
Pela
fraternidade universal
Nem
pela igualdade de todos os homens
Não
me fiz protestante contra os tiranos
Não
lancei pedras contra as vidraças dos opressores
Não
blasfemei contra Deus
Nem
maldisse o diabo ou lancei pragas contra os infernos
Não
padeci as chagas nem as paixões
Não
corri o mundo nas procissões
Nem
jurei fidelidade a ninguém
Não
pestanejei, debruçando-me sobre livros
Não
guerreei pela pátria nem lutei por um governo
Não
jurei acabar com a fome nem pregar a paz aos fratricidas
Não
passei as noites em claro
Não
velei ninguém na tenebrosa escuridão
Não
me dediquei à caridade
Nem
à contemplação do azul do céu
Não
firmei os olhos para ver o poente
Nem
saí a ver as cores do arco-íris
Não
corri as matas perseguindo caças
Não
enfrentei os lobos que infestam as cidades
Não
jejuei nem comi o pão da dor
Não
usei gravatas apertadas
Não
embriaguei-me sob a ufania
Não
corri às portas dos banqueiros
Nem
roguei perdão aos céus e ao bispo
Não
me enojei, não esbravejei
Não
me indignei
Não
transpirei
Não
fumei senão essa fumaça intragável
Não
torrei meus tostões de noite
Não
persegui a noite em longos devaneios
Não
devolvi à terra o que dela tirei sem precisão
Não
esbravejei inutilmente
Não
distingui o cheiro que vem da essência das coisas
.....
Mas
estou cansado
Estou
extremamente cansado
Estou
cansado dos homens
Cansado
das vozes dos homens
Estou
cansado das obras dos homens
Do
ir e vir dos homens
Do
que dizem os homens
Do
que dizem fazer os homens
Estou
cansado da justiça dos homens
Estou
cansado da ciência dos homens
Cansado
do grito dos homens
Cansado
das letras dos homens
Do
parlatório dos homens
Estou
cansado das virtudes dos homens
Estou
cansado da honestidade dos homens
Cansado
de seu comércio
Cansado
de sua virilidade
Da
bondade e das boas intenções dos homens
Da
força, do poder dos homens
Da
repetição dos homens
Da
publicidade dos homens
Cansado
das leis dos homens
Da
suntuosidade dos homens
Dos
templos dos homens
Da
pequenez dos homens
Cansado
da loucura dos homens
De
homens e mais homens
Estou
cansado de mim,
Homem
Elói Alves
Da preciosa amiga Adriana Rodrigues (pela Face...)"Estamos todos cansados de muitas coisas meu amigo. ... Tentando manter um pouco da sanidade que ainda me resta neste mundo insano. ... Muitas coisas estão me cansando caro amigo Eloi Alves Autor De Contos Humanos.... A Falta de caráter de muitos. .. falsidade. .. egoísmo. .. individualidade. .. governos. ... corrupção e mais corrupção. ... enfim ainda não sou uma senhora de idade tenra mas estou cansada de.muitas coisas... Como sempre seus textos arrasam..."
ResponderExcluirA condição, digamos de todos,um cansaço inexplicável ,ou teria uma explicação? A verdade é que,quando se chega a tais conclusões, como as do texto, acaba-se por encontrar o caminho ,outras oportunidades e certamente de forma mais madura,pensada,repensada ,a ressuscitação do homem está em suas próprias mãos.Gosto muito!!! Abs!
ResponderExcluirMuitíssimo grato, Marilene, por sua preciosa leitura e por seu comentário, sempre dialógico e interpretativo; abraços, gentil amiga.
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