Em
poucos dias, a movimentação que se viu em São
Paulo, provocada pelas manifestações contra o reajuste
das passagens dos meios de transporte público, conquistou um
enorme espaço que é difícil de se calcular
ainda. Por alguns momentos, o movimento conseguiu notabilidade
superior a todas as demais notícias, inclusive econômicas,
como as preocupantes altas do dólar e da inflação,
que ressurge, e do grande evento esportivo internacional realizado
aqui: a Copa das Confederações. O enorme ajuntamento de
pessoas pelas ruas com consciência dos problemas sociais
assustou os governantes, acostumados às reuniões
festivas devotadas ao futebol e a festas populares, como o carnaval,
além de outras comemorações como as marchas para
Jesus e da parada gay.
Em
várias grandes cidades, para as quais o movimento se alastrou,
houve uma resposta rápida, com a redução das
passagens e discursos de reconhecimento da força do movimento.
Em São Paulo, ao contrário, houve truculência dos
agentes Estado, seja do prefeito ou do governador, recusando-se a
aceitar como legítimas as manifestações e a
opção pela repressão indiscriminada, inclusive
com violação evidente de direitos fundamentais ao
Estado Democrático de Direitos, como a liberdade de imprensa,
a prisão arbitrária de cidadãos, reconhecidas
posteriormente pelo governo, como a prisão por porte de
vinagre, o disparo indiscriminado da polícia contra as pessoas
e profissionais da imprensa como tentativas óbvias de causar a
dispersão de manifestações democráticas,
com acirramento de ânimos. Mas a grande vitória desse
movimento não está restrita às reduções
das tarifas do transporte público. Muitíssimo longe
disso, ela deve ser vista pelo quadro maior do sentimento da
população em relação à situação
política, social e econômica do país.
Sobre
esse sentimento, é histórica a atribuição
de grande apatia política e da ausência de um espírito
crítico dos brasileiros, que demonstraram ao longo dos tempos
um apreço pelos “pais e painhos políticos”, uma
postura de “endeusamento” dos agentes políticos,
desprovidos de uma atuação continuamente crítica
e de cobrança responsável desses administradores
públicos, demonstrando uma aceitação das coisas
“como elas são”.
É exatamente isso que se rompeu
nestes últimos dias em uma parcela da população,
que saiu às ruas, em São Paulo e em várias cidades do país, a pretexto do valor das tarifas do
transporte, para cobrar, com energia política incomum, com
espírito crítico histonicamente apartidário, os
que possuem mandatos outorgados pelo voto dos cidadãos a
responsabilidade com a qual devem arcar e denunciar seus abusos.
Para muito além de todos os avanços, da notoriedade
dessas ações cívicas pelo mundo, da redução em si, o
despertamento, a publicidade da indignação, a recuperação da auto-estima cívica, cobrança
efetiva, não se deixando intimidar, a coragem de transformar em ação o sentimento
da injustiça dentro de uma consciência cívica é,
sem dúvida, o que houve e há de melhor e que precisa,
devido a seu preço, ser muito bem regado.
Elói
Alves
Leia o prefácio do romance "As pílulas do Santo Cristo" de Elói Alves
Primeito capítulo:
Segundo Capítulo:
Cada dia mais afiado em seus textos tão apropriados!!! parabéns admirável amigo por sua atuação neste momento histórico você tem contribuído sobremaneira para o nosso despertar!
ResponderExcluirGrato, Ira; acordemo-nos uns aos outros! abraço
ResponderExcluirConcordo com a Iraci,quanto a sua contribuição do nosso despertar,Elói!lembro-me bem dos primeiros textos lidos o efeito que causavam e do desejo que todos lessem também;Creio está sendo uma ótima culminância a iniciativa do povo em ir às ruas,saido do estado de inércia.Que bom que podemos vivenciar tudo isto neste tempo,que o povo continue acreditando que pode mudar o rumo da situação,por hora os projetos absurdos por votar e posteriormente nas urnas,aprendendo a votar.Parabéns ,meu amigo!!
ResponderExcluirElói e Boechat a nos puxar!!! rs
ResponderExcluirSim Sim, Ira, muita gente trabalhando pelo país , mas a reação conservadora tá ativa também; a luta continua rs; bjos, amiga
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