terça-feira, 8 de novembro de 2011

QUEM TIRIRICOU NAS ELEIÇÕES?

       A democracia garante e deve garantir o direito a tiriricar. E também o de não o fazer, como eu, que não tiririquei e, pelo que imagino, em questão de preparo e adequação ao cargo, deva ser o meu escolhido a posto político, jamais tiriricarei.
       Mas no Brasil não se vota pela capacidade e preparo nem por princípios éticos ou administrativos, geralmente. Severino Cavalcante sempre deu péssimas entrevistas, mostras de toda arrogância e preconceitos contra as diferenças, gaguejava ao ler diante das câmaras e ao mesmo tempo foi forte rei do “baixo clero" no congresso federal até o “grande dia” em que foi levado ao topo para presidi-lo. Foi derrubado pelo “mensalinho”, já pelo nome uma corrupção equivocadamente considerada menor. Na verdade havia perdido a sustentação política. O primeiro governo do PT havia batido cabeça, apoiou mais de um candidato à presidência do congresso e, frente ao seio enfermado pela bagunça, teve de beijar a face de Severino, de quem já se dizia seria sempre “governista”, como o foi de fato.”. Obrigado a renunciar, Severino teve espaço e posto políticos garantidos, sendo eleito prefeito de sua cidade, com o apoio do presidente Lula.
       O já diplomado deputado Tiririca não é ingênuo. Não tem grande preparo em questões de ciência política nem muito contato com a cultura letrada, o que é necessário em quaisquer altos cargos na complexidade do mundo atual. No entanto, ele sabe o que quer e não é ingênuo; sabe cativar, sobretudo nas camadas sociais em cujo mundo a complexidade do raciocínio cartesiano é estranha e até repelível. Ademais, a simplicidade é atributo fundamental a qualquer orador, seja a um Marco Túlio Cícero, com De oratore, seja a um Tiririca.
      O que poderia ser chamado estranho é que no Brasil a irresponsabilidade da brincadeira, do protesto inócuo, da inconseqüência, a descrença nas instituições e na classe política e até a indignação são misturadas no mesmo lugar; o que leva a uma confusão até gente com alguma maior capacidade e certa formação acadêmica. No limite há aí também a ideia de que a política não é séria. E esta questão não é simplista e esteve presente na campanha de Tiririca .
       Além do mais, os grandes campeões de voto no período da abertura política tem sido os candidatos que apelam a estratégias que passam longe do preparo para com as coisas republicanas. Coisas que por serem públicas exigiriam mais rigor de todos, mas não no Brasil. O dr Eneas apelou muito mais ao aspecto fantástico e extraordinário que ao seu preparo intelectual. Tornou-se campeão de votos literalmente no grito. Não ia às ruas, dizia seu nome a partir da tv e o povo votava. Quase foi presidente; como deputado, elegeu a si e a outros que não tinham votos. Quando teve mais tempo no horário eleitoral, não elaborou o discurso pela via da coisa pública, mas preferiu apenas referir-se a barba que havia retirado, por motivo de doença. A final, “com barba ou sem barba” o seu nome era “Eneas”. Por certo ângulo elaborou um perfil que lembrava o fascismo.
       Nos últimos anos, um grande equívoco de percepção política tomou conta do país. Na verdade isto é do antigo jogo do “faz de conta”. A mudança de pessoas, como a chegada de Lula ao poder no Brasil, bem como a de Obama nos EUA, de Cristina na Argentina ou de Evo na Bolívia, de Zapatero, do partido socialista obrero, na Espanha e ainda Lugo no Paraguai não produz mudanças estruturais no mundo. O controle econômico, o controle institucional, o controle das áreas estratégicas, como o decisivo monopólio das redes de comunicação, o acesso à complexa jurisprudência, das carreiras mais importantes nas primeiras universidades do mundo está reservado a uma classe restrita. À classe média em suas subdivisões sobram conformadamente coisas menos importantes e a outros as migalhas permitidas pelo incontestável crescimento econômico e científico-tecnológico do mundo moderno.
       Algumas coisas referentes a macro e micro estruturas do Brasil são fáceis de se verificarem. Nas questões econômicas, basta ver em que áreas o pais domina e quem são as pessoas ou famílias que dominam essas áreas. Ainda na primeira, veja-se o controle dos meios de comunicação. Na outra ponta, o povo brasileiro é frágil e alegre e ingenuamente aberto ao conducionismo político e religioso. Não é a toa que o país é grande produtor de ideologias de tipo teológico, de magias e curandeirirsmo e ao culto das faclilidades mais adaptáveis que lembram As Raizes do Brasil, de Buarque de Olanda. E os paises que importam esses produtos são os menos desenvolvidos, sobretudo da África. Na maioria das universidades se ensinam conteúdos como ortografia e regência. Na administração de Paulo Renato, um analfabeto foi aprovado em vestibular para direito no Rio de Janeiro, o que o obrigou a baixar uma portaria específica que exigia redação. O atual ministério não foi ainda capaz de organizar com eficiência uma prova como o ENEM. Bom, dizem que o Brasil está de mudança, para onde será que vai, além da UNASUL?
Elói Alves
 
Leia o prefácio do romance "As pílulas do Santo Cristo" de Elói Alves
Primeito capítulo:
Segundo Capítulo

3 comentários:

  1. Nosso país será arrendado pela FIFA para a copa do mundo!!!
    Seria esta, a mudança?
    Precisaremos abdicar de nossas próprias leis, por vezes tão impróprias!
    Fico a imaginar este privilégio bem conduzido, que paraíso seria... e nós filhos da terra, vivendo de quimera!
    Parabéns Escritor, excelente esse seu texto!

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  2. Gratíssimo, Iraci, pela dedicação e leitura. Estou de acordo, estaremos sob as ordens da rainha. Abraço, amiga!

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  3. Da querida Marilene Ribeiro:"Bom dia,Elói! Permita-me fazer alguns trocadilhos.Li seu texto que para mim é completo, pois quem o escreveu possui uma visão muito ampla de todos de diferentes assuntos ligados: política, economia, educação... vejo como acompanha o que acontece no Brasil e no mundo, acho incomum, alguns se dedicam à uma determinada área e dela se ocupa,você diversifica, por isso que acho que você foi um belo "achado", tenho aprendido muito contigo. Por maior que tenha sido a vida difícil quando pequena, aprendi com meu pai mesmo se comunicando muito pouco, algumas coisas que julgava importante pois tratava destas questões com mt orgulho e achando digno de ser sguido: pedetista, brizolista e flamenguista. Assim acreditei por anos a fio que esse era o caminho, falasse o que falasse,mas para mim era uma verdade que não poderia mudar. Até que as situações mostraram que verdade nem sempre é absoluta, depende da forma como as vemos. Assim, abandonei alguns "istas" prejudiciais a minha vida e da sociedade não abrindo mão do "ista" de flamenguista. De lá para cá venho tentando entender melhor as coisas e procurando não me inclinar ante aos apelos dos "tiriricandos" em suas campanhas. Uns aparecem como engraçados, outros como galãs, aguns a favor dos pobres e necessitados, mas todos almejando o mesmo fim , que na verdade é um" fim neles mesmos", então, para muitos atualmente " tiriricar",tem sido uma maneira de protesto, mostrando a insatisfação, o descrédito diante de tantas mazelas que estes grupos de "tiriricadores" vem causando. Bjs!"

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