Alguém já disse que, se vivesse na antiguidade e tivesse que louvar a um dos deuses antigos, louvaria a Hefesto: o deus do fogo. Hefesto é hoje inconsciente e constantemente invocado como único meio de purificar amplamente o homem. O velho pacto incluiu a purificação da espécie humana pela água, mas o dilúvio foi logo rejeitado como meio satisfatório e eficaz. Sodoma e Gomorra surgiram depois, e o meio de depuração da corrupção dessas cidades foi sabidamente hefestiano. O dilúvio assusta mas não causa mudança. A inundação de Nova Orleans assustou certamente, mas não levou os americanos a um comportamento muito melhor diante da situação ambiental. Mesmo a premiada pregação de All Gore, em sua "Verdade Inconveniente", vinda depois, ecoou no vazio; nem o autor poderia, como se pertencesse à linhagem de um João Batista, oferecer a cabeça por sua verdade. Uma das destrezas de Hefesto está no seu poder de eliminação da memória, e o homem moderno tem prezado esse esquecimento. Os Estados Unidos têm horror particular pela história, mas esse atributo está disseminado na humanidade. Uma humanidade cada vez mais fragmentada, centrada no imediato.
A idéia de que o tempo é cada vez mais escasso e precioso inclui a objetividade que impõe a superficialidade e rapidez no quotidiano. Mesmo num curso de literatura, muita gente se assusta quando um grupo de jovens aparentemente lúcidos e inteligentes resolve se dedicar ao estudo do latim. Não é preciso dizer que o número deles é sempre reduzido e sempre redutível ainda. Além de um saber impenetrável para quase a totalidade dos homens de hoje, a língua latina é considerada morta. Como as chamas de Hefesto que não se contentam e não podem ser saciadas, o homem moderno aspira à condição e a qualidades totalizantes de um ser divino, através do domínio da razão. Assim ele adquiriu aquela insaciedade eterna e, não sendo de fato um deus, sentou-se à mesa do consumismo para saciar o seu vazio com coisas vazias. Esse vazio é o vazio da própria existência na vida moderna.
Entre as inquietudes do homem, entre os dilemas de dor e prazer do dia-a-dia, surge a questão da finitude da vida humana. E não é nova a idéia de se estender a vida para a eternidade, que expressa o desejo de imortalidade. De fato o homem sempre almejou ampliar os seus dias. O anseio de uma vida eterna já aparecia na antiguidade. Viver apenas algumas décadas nunca pareceu o suficiente. Certos autores da Antiguidade Clássica se propuseram a imortalidade pela produção de grandes obras, obras que seriam capazes de vencer o próprio tempo. Igualmente na versão do Gênesis, a assustadora longevidade dos primeiros homens aponta para o fantástico...(...)
Este texto tem um pouco mais de dez páginas e continua no link "OS DILEMAS DO HOMEM E O MUNDO - ENSAIO CRÍTICO, que encontra-se na parte superior deste blog, ou colando este link: http://realcomarte.blogspot.com/p/os-dilemas-do-homem-e-o-mundo-ensaio.html
Elói Alves do Nascimento
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Admiro seus textos, complexo e instigante! Os temas sempre com embasamento em fatos..., bem estudados. Poderias ser historiador meu jovem pensador! Parabéns, não abandones nunca esse seu enorme talento!
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