Tio Gerbúlio tinha ido à cidade comprar algumas coisas de que precisava no bar. Como tinha pressa na volta, correu a pegar um ônibus que ia saindo do Terminal Central. O ônibus estava vazio na frente e apenas alguns passageiros ocupavam uns bancos próximos da porta de trás, que era a entradada de antigamente. Tio Gerbúlio respirou fundo e arrumava as sacolas quando percebeu que havia uma discussão no ônibus.
De pé, um homem baixo, gordo, muito exaltado, falava a um outro, alto e loiro, que lhe levava na ironia. Tio Gerbúlio, que pegou a história no meio dos acontecimentos, viu que o homem pequeno distribuía propaganda da igreja e discutia agora com o loiro que lhe respondia simplesmente, com voz mansa e pausada:
___Eu sou Jesus!
O tio sentou-se num banco de costa para o motorista, olhando os contendores de frente, muito seriamente na cara, mas muito risonho por dentro, saboreando a prosa que via e aliviando-se das sacolas pesadas.
O homem estendeu um folheto a Gerbúlio, que pegou logo, e voltou ao outro, agora mais exaltado, que era preciso respeito com as coisas do senhor.
___Eu sou Jesus, repetiu o loiro, com tom irônico e voz compassada.
O homem loiro tirou a identidade da carteira e tentava entregá-la ao outro, que parecia não vê-la, exigindo sempre respeito a palavra de Jesus.
O homem loiro, vendo que o tio se inteirava da conversa, passou-lhe o documento, dizendo:
___É verdade, eu sou Jesus!
Gerbúlio, muito curioso, leu para si o nome no verso do documento:
___Jesus Teixeira.
Tio Gerbúlio devolveu a identidade do homem e ficou um tempo ensimesmado, surpreso de encontrar ali, num ônibus, tão espirituoso, um Jesus Teixeira, que era a família mais rica e influente da parte Leste da cidade.
Jão Gerbulius Sobrinho
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