quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DEUS E O DIABO NO IMPÉRIO DO SILÊNCIO

       Outro dia, depois de assistir a um jogo nos Jardins suspensos de Parque Antártica, fomos, eu e um amigo, comer em uma lanchonete da Pompéia. Comemos pouco, bebemos muito. Já tarde, fomos para sua casa, dormir um pouco, na Marechal, próximo ao elevado. Mal encostei no sofá, entrei em sono profundo. Logo, Deus veio ter comigo ou fui eu que lá andei a encontrá-lo. Estava com as barbas crescidas, brancas, forte e envergando o tronco. Estava pacifico como um deus sem testamento, nem antigo nem moderno, sem a quem deixar como herdeiro seu. Repousou-se com os olhos num Jardim e encostou seu cajado, que, na falta de ovelhas, usava para se sustentar aos passos curtos. Parou frente a umas flores e sorriu sereno para um beijaflor, que lhe pousou no cajado suavemente e logo foi-se embora beijar flores. Sentou-se numa pedra lentamente e tirou um livro do jaquetão; era o Cândido, de Voltaire.
      Eu ia sentar-me com ele, quando tropecei nas próprias pernas. Fui levantando aos poucos, tentando me achar, às apalpadelas, até que encontrei o interruptor na parede. Calcei os chinelos e fui esvaziar a bexiga. Voltei do banheiro sonolento, escorando-me como cegobêbado.
      Dormi.
    Um som forte de música incompreensível de repente me perturbava. Um vento forte encheu toda a casa. Uns gemidos se misturaram ao vento e ao barulho em forma de música. Era o diabo! Reconheci-o pelas orelhas que se metamorfeseavam em chifres sujos e enormes, que nasciam do início do pescoço, indo para trás como chifres de cabra. Não era tudo. Arrepiei-me mais pelas formas do nariz, pontudo como um nabocanivete com três buracos na ponta, que esticava-se e diminuia seu tamanho conforme respirava. Estava acompanhado pela diaba, muito redonda e baixa, a cabeça e os pés sumiam-se e só lhe aparecia a voz arrepiante, gritando provérbios de repreensão moral religiosa. O diabo era austero e rígido, todo de preto, num manto litúrgico.
      Era o virar da tarde, quando ele, com uma grande borracha nas mãos, auxiliado pela diaba que pisava o pescoço dum diabinho, pequeno e orelhudo como o pai, ministrava uma seção com toda sua capacidade e poder. O diabinho teve a camisa rasgada pela borracha, que lhe bateu firme nas costas. A mulher agora esticava mais as estrofes dos provérbios, como se fosse mudar de adágio para música, mas terminava em gritos finos e longos, como um sapo eufórico num coral de brejo.
     De repente, a borracha partiu-se e foi ferir a diaba com uma ponta de arame, cortando-a na testa. Ela, num instante em que eu abri e fechei os olhos, tinha voado ao pescoço do diabo, como que para lhe chupar seu sangue.
     -Tecaia, gritou o diabo!
Neste pequeno espaço de tempo, o pequeno, com um pulo de gato, escapou por uma porta estreita, sumindo-se na escuridão. Eu, querendo segui-lo, dei um giro de cento e oitenta graus como um raio que some do oriente e aparece no ocidente num instante, num átimo, e dei uma trombada num poste onde o diabo pendurava sua borracha.
     A dor foi me despertando. Logo me peguei virando-me no sofá incomodado. Briguei ainda com o travesseiro, me virando sobre ele e me revirando sem chegar a consenso. Era o estômago reclamando certamente meus hábitos alimentares. Fui de novo ao banheiro, depois à janela. Estava uma madrugada fria. Fiquei ali olhando a noite. Um vazio penetrou em mim com o frio, com o frio veio uma sensação de tristeza. Lá embaixo na rua o silêncio era também triste, a metrópole do barulho sob o império do silêncio. Meu vazio aumentava mais com aquela temperatura baixa, faltava-me Deus talvez. Pensei ainda no Diabo, na borracha, na diaba sangue-suga...E se o diabinho fosse um menino que fugira para as ruas dessa metrópole? Olhei para rua outra vez. Lá de cima, do 13ºandar, via apenas vultos e neblina. Os vultos me lembraram crimes dispersos na escuridão da hisória. Na escuridão qualquer um pode ser um criminoso, pensei. E se eu também cometesse um crime? Olhei os céus, a neblina, a rua silenciosa, mais escura agora, como a escuridão onde o diabinho se metera, escapando aos guilhoes dos diabos. Intuitivamente levei uma mão ao parapeito e me aproximei mais da janela, que estava aberta, depois apalpei a barriga, quando senti um enorme frio, parecia que me ia congelando. O meu vazio era já um grande vácuo, talvez uma alma impreenchível. Virei-me um pouco para trás e vi de longe a geladeira. Corri para dentro e fui assaltá-la. Improvisei misturando presunto e queijo com pão de forma, que levei ao microondas. Saciado, fui procurar água e achei vinho tinto. Dormi tranquilo e não sonhei mais nada.
      Às nove horas fui acordado por um aroma delicioso, que me chegava ao olfato como incenso sagrado. Era o cheiro do café que vinha da cozinha. Levantei e fui anunciar que um assalto ocorrera de noite, à geladeira, e seria preciso comprar mais frios.

Elói Alves
 
 

domingo, 9 de outubro de 2011

PREFEITURA DE SÃO PAULO LANÇA O LIVRO "SOB CÉU DA CIDADE, DE AUTORIA DE PROFESSORES ESCRITORES


O secretário de educação da da cidade, Alexandre Alves Schneider (no centro)prestigiou o evento. Ao lado do secretário, de paletó, o autor Elói Alves com o filósofo e escritor Marciano Vasques, na extrema direita.

Na última sexta feira, dia 7, a Prefeitura de São Paulo realizou cerimônia de lançamento do livro SOB O CÉU DA CIDADE, de autoria de professores escritores que atuam na cidade de São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade. Várias autoridades da área cultural prestigiaram o evento que contou também com a apresentação de músicas clássicas no auditório da Biblioteca. Os textos do livro são crônicas que falam sobre a cidade, escolhidas no concurso literário Valeu Professor 2011. Elói Alves é um dos co-autores do livro.
(Há outras fotos do evento na página "Prêmio literário 2011" deste blog)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MÚSICA, TEATRO E DANÇA NO MERCADÃO CENTRAL NA PRÓXIMA SEXTA

Dia sete, sexta feira próxima, haverá evento do "Professor em Cena", da Prefeitura de São Paulo. Haverá diversas apresentações com músicas, danças e teatro das 20 horas do dia sete até a uma da manhã do sábado. Eu apresentarei o monólogo "O debate com suas excelências" por volta das 22 horas. A entrada é livre. O mercadão Municipal Paulistano fica na Rua da Cantareira, 306, próximo à Rua 25 de Março e ao Pq D. Pedro II.
Elói Alves

sábado, 1 de outubro de 2011

TIO GERBÚLIO, NOSSO AVÔ E A CACHAÇA MINEIRA

O almoço de domingo era muito animado e a comida era servida numa mesa grande, feita de peroba. Tio Gerbúlio tinha ascendência moral nas conversas e dividia a palavra com nosso avô, que usava um tom mais sério. Como as conversas eram mais pitorescas, Gerbúlio se saía mais.
Nosso avô voltara do Sul de Minas adoentado e o médico disse que era a água da roça.
Ainda assim, chegou-se à mesa, devagar, e comeu aos poucos e calado.
Quando terminou, levantou um copo e dis
-Bota aqui, Gerbúlio, dessa cachacinha mineira.
Dona Eudésia protestou furibunda, pois não era o diabo de uma água que lhe tinha feito mal.
-Larga os diabos, mulher, devolveu ele com o copo à boca! Água que deu, água que leve!
Jão Gerbulius Sobrinho

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

NOVO IMPOSTO PARA A SAÚDE. SAÚDE DE QUEM? (Perguntero)

O governo federal e sua base no congresso estão procurando meios de recriar um imposto para a saúde. Mas devido aos desgastes políticos com a extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), que teve outros destinos e não ajudou a melhorar o Sistema de Saúde, eles estão mais cautelosos nas declarações. O Brasil é hoje um dos países mais ricos e que mantém os maiores tributos, que não voltam em benefícios para a sociedade. Mas, por que há esta necessidade de um novo imposto? O governo precisa de mais dinheiro? Será ele mais um necessitado, como as multidões que nos pedem dinheiro pelas ruas? Será mesmo para a SAÚDE o novo imposto? Se sim, para saúde quem?

Zé Nefasto Perguntero

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ESTADOS UNIDOS VETARÃO ESTADO PALESTINO. ESTADO DE ISRAEL SURGIU COM VOTO DE UM DIPLOMATA BRASILEIRO


Discurso do Ex-chanceler brasileiro Celso Amorim na ONU - diplomacia brasileira tem papel histórico nas relações internacionais

O Conselho de Segurança da Nações Unidas (ONU) está reunido para examinar o pedido de adesão da Palestina como membro da ONU na condição Estado. O Conselho de Segurança é formado por quinze membros, sendo cinco deles membros permanentes com direito a vetar quaisquer decisões tomadas por este órgão. Em uma decisão democrática a Palestina poderia intergrar-se como membro com apenas nove dos quinze votos. Mas o problema está no poder de veto dos Estados Unidos, um dos cinco membros que possuem este poder e que está totalmente fechado à adesão palestina pela ONU. O presidente Obama declarou que o caminho não é uma declaração nem uma Resolução das Nações Unidas e sim o diálogo bilateral entre Israel e Palestina. Ao assumir a presidência dos EUA, Obama se mostrava como uma esperança para questões como um possível Estado palestino, mas sua política tem se tornado a mesma da era Bush. Israel também declarou que as manifestações de países da América do Sul, como Brasil, a favor do Estado palestino é entendida como uma intervenção indevida na região. Esta manifestação de Israel é bastante desrespeitosa para com a atitude da diplomacia brasileira, que foi responsável pelo voto decisivo que permitiu a criação do Estado de Israel, com o voto de desempate de Osvaldo Aranha em 1948.

Elói Alves do Nascimento

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TIO GERBÚLIO E O ASSALTO À LIVRARIA

Envergado sobre o balcão da livraria Padre Dimas, na rua São Francisco, o gerente embrulhava com cuidado os livros de padre Gelfrido, que tio Gerbúlio fora buscar.
Os ponteiros de um velho relógio na parede marcavam dez horas da manhã e a livraria estava vazia. Apenas Gerbúlio, que agora olhava um quadro da crucificação, fazia companhia para o gerente.
Muito calmo, apareceu um rapaz magro que foi ao balcão e disse secamente:
-Um assalto!
-De que autor, perguntou o gerente, sem tirar os olhos do embrulho
-Eu mesmo, devolveu o rapaz, mostrando-lhe o revólver.
Um policial civil, que via tudo do outro lado da rua, deu voz de prisão ao assaltante, à saída da livraria.
Tio Gerbúlio, sem entender bem o que se passara, recebeu o embrúlho do gerente que lhe disse baixinho:
-Livros não são feitos para bandidos.

Jão Gerbulius Sobrinho

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