O
superlativo não convém aplicar-se à feiúra,
nem o analítico e tampouco o sintético, cuja
compressão, neste caso, suprime a beleza que configura-se em
massa, disforme e densa. Mesmo que vista-se com o disfarce eufêmico
e colorido da fealdade, torna-se desumana ou no mínimo
deselegante.
Para
que classificar a feiúra em graus e degraus que a intensificam
mais e mais, como se ser feio estritamente já não
bastasse? Para que dizer que alguém é muito feio, ou
muitíssimo feio, feiíssimo?
O
superlativo tem seu assento assente nos meios denominados cultos e
atribuem-se belezas e elegâncias diversas. No entanto, seu uso
pode andar por via reversa. O cruel tem se tornado cruelíssimo
e até de modo cru vestido-se de crudelíssimo, mas vem
sempre triste, choroso e mal vestido, andarilho de via obscura.
O
nazismo, na Alemanha, o fascismo, na Itália e para onde correu
depois e perambula hoje, são dessas molduras. A intensificação do adjetivo leva sempre a eterna
pergunta: para que? Para que romper-se mortífero, já no
desumano e em si extremado, dos venenos atômicos que emudecem
a história?
“Os
pobres sempre estarão convosco”, diz Cristo aos discípulos-
mas para que se fazem paupérrimos? Para que as as distâncias
econômicas se agigantam tornando os miseráveis
miserabilíssimos?
A
questão lingüística torna-se mera capa da essência
atrofiada pela hipertrofia. Esticam-se superlativamente os
mentirosos, os ratoneiros- lábio-disfarçantes- em
crudelíssimos enganadores, em ancestrais do pai da mentira que
incham em grau extremo as casas parlamentares e executivas,
carcomidas por todos os vícios.
A
metáfora da miséria são os ossos secos que
insistem em por-se de pé. Sua insistência é a
pregação muda e corrosiva que penetra pela história,
que tentam maquiar inutilmente os políticos com seus discursos
e propagandas de “paz e amor” e promessas salvadoras. A história
tem seu subsolo descolorido, impermeável às tinturarias
da propaganda. Suas tintas perecem com sua passagem fétida.
Para
que roubar superlativamente um país inteiro? Infectar todo um
organismo com mazelas apadrinhadas, de bocas roedoras? Por que não
contentar-se com ações apenas feias? É preciso
levá-las a semântica do horrendo sem abrir mão do
radical?
Sou
pelo meio-termo, uma posição mediana entre o santo e o
pecador: para que se vestir de deuses se sabemos- até pelo
cheiro- que os diabos perfumam-se com enxofre e trazem a cara
horribilíssima, maquiada superlativamente com as cores da incoerência?
Elói Alves
Leia o primeiro capítulo de As pílulas
do Santo Cristo romance de Eloi
Alves:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html
Abaixo,
pode-se ler também o prefácio feito pelo escritor e mestre em Literautra
Comparada pela FFLCH-USP prof. Edu Moreira: http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html
Adquirir o livro:http://realcomarte.blogspot.com.br/p/as-pilulas-do-santo-cristo-adquiri.html
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Nossa língua tem destas coisas, não basta usar uma palavra para se expressar é necessário aumentá-la ou as vezes até diminui-la para se fazer entender ou dar uma enfase enorme a determinado evento. No ingles isso nao acontece, basta acrescentar uma palavra ao lado ou acrescentar um sufixo e pronto! um carro torna-se um carro pequeno (car e little car) o superlativo é feito por poucas palavras que se agregam a palavra e está feito o que vc quer enaltecer ou derrubar(big -biggest/ beautiful-the most beautifiul, assim, simples, sem medo de ser feliz. E ser feio ou não, é algo absolutamente desnecessário de se superlativar, mesmo por que o que é feio para mim é bonito para vc, somos seres semelhantes nunca fomos iguais, algum louco inventou esta história de ser igual a todo mundo rsrs. E cá pra nós ninguém precisa ser bonito, veja que as mulheres (digo com propriedade) escolhem, escolhem homens bonitos, deuses gregos, apolos e acabam com um servo da história, um escravozinho feinho (usando o recurso para amenizar a feiúra rsrs) porém este feinho é gostosinho hahaha e isso é o que interessa no fim das contas, claro que isso se aplica às mulheres também, quem já não ouviu dizer que "panela velha é que faz comida boa"? ou quem ama a feia bonita lhe parece? Príncipe Charles que o diga, o chifre mais revoltante do mundo!! kkkkkkkkk. Feio e horrendo mesmo é roubar descaradamente e chamar de Esperança. Esperança de bolsos cheios!
ResponderExcluirMuitíssimo grato Jane por ampliar o tema com seu comentário sempre rico e dialogando profundamente com o assunto, com seu estilo. Beijos gratos, querida!
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