domingo, 8 de outubro de 2017

O LADRÃO COM CAGANEIRA – Histórias do Tio Gerbúlio

Um homem magro e alto, com chapéu na testa escondendo os olhos,  entrou no bar mansamente. Gerbúlio tinha ouvido um barulho de moto destrambelhada, mas só percebeu o homem quando já estava dentro do bar. “Tipo esquisito”, pensou.
 - Qual é a melhor bebida da casa? - perguntou o homem erguendo o pescoço para ver o que tinha atrás do balcão.
 - A que mais sai é a Batida do Vovô- disse Gerbulio, estudando o homem, que virou de lado, escondendo a cara, e foi sentar-se a um canto, de onde podia ver o resto do bar.
O bar, até então vazio, começou a encher de gente que vinha beber e assistir à partida de futebol. Tio Gerbúlio se sentiu melhor acompanhado, mas ainda assim ficou apreensivo sem poder calcular o desfecho da coisa.
Quando recebeu a batida, o homem de chapéu na cara mandou vir também uma porção de queijo.
 - No capricho – disse. O dono do bar quis avisá-lo que aquela mistura desarranjava o estômago quando percebeu que o homem estava armado.
 - Já trago! - disse e saiu discretamente.
De volta ao balcão, Gerbúlio lembrou-se de uma notícia de dias antes sobre um homem perigoso que fora solto pelo juiz, mesmo sem cumprir metade da pena, e que havia sido perdoado pelo governo, recebendo indulto.
 De repente todos ficaram pasmos diante do homem que se levantara feito um cangaceiro, rodando duas pistolas nas mãos, e gritou:
- Todos quietos! Senhores clientes, passem todo o dinheiro e podem ficar com a vida.
Todo mundo aceitou o negócio e logo começaram a fazer o que lhes cabia no acordo, enquanto o homem, agora com um saco em uma das mãos e segurando uma das pistolas na outra, fazia a coleta.
-O relógio também- disse ele a um fiscal da Receita que bebia com os amigos.
Subitamente, ouviu-se um barulho de explosão e algumas pessoas começaram a entrar em pânico.
- Quietos que foi só um peido! - disse o ladrão.
Realmente o meliante tinha peidado, mas não foi só isso. Quando foi guardar um bolo de dinheiro dentro das calças, viu que estava todo molhado.
- Que merda! – disse ele. - Estou todo borrado.
Logo houve outro barulho, mas dessa vez não parecia tiro e sim um caminhão com as rodas rodando num atoleiro.
- Desse jeito não trabalho! – protestou o bandido.
Então, largando o saco de dinheiro, dirigiu-se à porta, arrastando as pernas abertas, e, subindo na moto, partiu dali como um foguete.
 Um dos fregueses, que se levantou para acompanhar a fuga do ladrão, perguntou, tapando o nariz por causa da fumaça preta:
-Este barulho é da moto que peida ou do bandido que caga?
Elói Alves

Do livro Histórias do Tio Gerbúlio, Editora Essencial

Com ilustrações do artista plástico Carlos Eduardo Diniz




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