Um homem magro
e alto, com chapéu na testa escondendo os olhos, entrou no bar mansamente. Gerbúlio tinha
ouvido um barulho de moto destrambelhada, mas só percebeu o homem quando já
estava dentro do bar. “Tipo esquisito”, pensou.
- Qual é a melhor bebida da casa? - perguntou
o homem erguendo o pescoço para ver o que tinha atrás do balcão.
- A que mais sai é a Batida do Vovô- disse
Gerbulio, estudando o homem, que virou de lado, escondendo a cara, e foi
sentar-se a um canto, de onde podia ver o resto do bar.
O bar, até
então vazio, começou a encher de gente que vinha beber e assistir à partida de
futebol. Tio Gerbúlio se sentiu melhor acompanhado, mas ainda assim ficou
apreensivo sem poder calcular o desfecho da coisa.
Quando recebeu
a batida, o homem de chapéu na cara mandou vir também uma porção de queijo.
- No capricho – disse. O dono do bar quis
avisá-lo que aquela mistura desarranjava o estômago quando percebeu que o homem
estava armado.
- Já trago! - disse e saiu discretamente.
De volta ao
balcão, Gerbúlio lembrou-se de uma notícia de dias antes sobre um homem
perigoso que fora solto pelo juiz, mesmo sem cumprir metade da pena, e que
havia sido perdoado pelo governo, recebendo indulto.
De repente todos ficaram pasmos diante do
homem que se levantara feito um cangaceiro, rodando duas pistolas nas mãos, e
gritou:
- Todos
quietos! Senhores clientes, passem todo o dinheiro e podem ficar com a vida.
Todo mundo
aceitou o negócio e logo começaram a fazer o que lhes cabia no acordo, enquanto
o homem, agora com um saco em uma das mãos e segurando uma das pistolas na
outra, fazia a coleta.
-O relógio
também- disse ele a um fiscal da Receita que bebia com os amigos.
Subitamente,
ouviu-se um barulho de explosão e algumas pessoas começaram a entrar em pânico.
- Quietos que
foi só um peido! - disse o ladrão.
Realmente o
meliante tinha peidado, mas não foi só isso. Quando foi guardar um bolo de
dinheiro dentro das calças, viu que estava todo molhado.
- Que merda! –
disse ele. - Estou todo borrado.
Logo houve
outro barulho, mas dessa vez não parecia tiro e sim um caminhão com as rodas
rodando num atoleiro.
- Desse jeito
não trabalho! – protestou o bandido.
Então,
largando o saco de dinheiro, dirigiu-se à porta, arrastando as pernas abertas,
e, subindo na moto, partiu dali como um foguete.
Um dos fregueses, que se levantou para
acompanhar a fuga do ladrão, perguntou, tapando o nariz por causa da fumaça
preta:
-Este barulho
é da moto que peida ou do bandido que caga?
Elói Alves
Do livro Histórias do Tio Gerbúlio, Editora Essencial
Com ilustrações do artista plástico Carlos Eduardo Diniz