quinta-feira, 8 de maio de 2014

DILMA DIZ QUE É A MUDANÇA, SERÁ? - Perguntero

       As recentes inserções da propaganda petista na tv trouxe a “Dilma da mudança”. O motivo da nova estratégia dos marqueteiros do partido é a queda nas últimas pesquisas da candidata à reeleição, seguida da subida de seus adversários.
        A questão não é tão simples porque, se seguir com esta nova tática, terá que mostrar qual é essa mudança e terá que dizer com que ela vai romper e que tipo de mudança ela quer representar.
       Será que seu grupo irá insistir que são eles a mudança em relação ao governo anterior ao petista que se foi há doze anos e esconder todo o período de seus dois governos com seus três mandatos?
       Mais ainda, será que Dilma ousaria mudar em relação ao seu próprio grupo com quem tem ela ligação tão íntima? Seria ela capaz de romper com seus indicados para estatais, como a Petrobras, seguidamente sob suspeição devido a seguidos desmandos que remontam ao governo de Lula, onde Dilma fora ministra? Romperia ela com seu próprio conselheiro e padrinho, a quem jura fidelidade constante e dele a recebe?
        Um outra questão delicada é a da economia, cujo modelo Dilma vem mantendo desde o início de seu mandato, com um regime que favorece o descontrole inflacionário e baixo crescimento com consequente empobrecimento dos assalariados, mas com incoerente aumento da arrecadação tributária, será que Dilma representa também a mudança  do modelo econômico que insistentemente vem mantendo sob o comando de seu guru Mantega?
        A questão não deixa de ser complica para os próprios marqueteiros de sua propaganda na campanha - que já está aí. Será que dirão que Dilma será a mudança da própria Dilma? Será?
 
Zé Nefasto Perguntero
 
Livros de Elói Alves

terça-feira, 6 de maio de 2014

O MAGNÍFICO ENTERRO DE PELEZINHO

        Falo de uma notícia velha. Há alguns meses, faz quase um ano, os jornais deram a notícia acima, não exatamente com estas palavras do título. Falavam, cada qual com seu enfoque, do atropelamento e do enterro de um menino que limpava vidros de carros no centro da cidade, perto de onde trabalho.
        Estava por ali já algum tempo, eu mesmo o vira algumas vezes. Tinha menos dez anos, baixo, sempre descalço e com calção e camiseta muito sujos. Quando os carros paravam, com o sinal que se fechava, levantava-se da guia e oferecia seu trabalho.
       -Posso limpar, moço?
        “Sim” e “Não”, “sim” e “NÃO!!!” e “não” e “NÃO!”, ia, assim, guardando suas moedas.
         Mas um dia, depois de um “sim” ou de um “não”, não sei bem, entre os carros, veio, muito rapidamente, uma moto, que, jogando-o ao chão, fê-lo bater com a cabeça e morrer ali mesmo.
         O agente de tráfego isolou o corpo e colou uma faixa, liberando a outra pista; mas os outros meninos iniciaram logo o barulho. Fecharam a outra pista com sacos de lixo e colocaram fogo em pneus. A polícia não demorou a aparecer, chamaram também a tropa de choque; mas antes de que houvesse bombas, balas de borracha e cassetetes, veio a imprensa que seguia a comitiva do governador, em campanha à reeleição.
         Depois da imprensa e dos correligionários, com bandeiras do partido e camisas com a foto do candidato estampada, apareceu o próprio governador, que, informado do caso, mandou que levassem o menino em um helicóptero. Mas como os policiais o informaram que já estava morto, encarregou a seus assessores que cuidassem junto à família da liberação do corpo e que fizessem o enterro com toda a dignidade possível.
        Ainda no local, questionado sobre a péssima condição social em que vivia o menino, o governador afirmou ser inaceitável deixar que esses meninos vivam pelas ruas, longe da escola, sem o mínimo para que vivam com dignidade, que é  o básico que o Estado deve prover, e que ele mesmo tomaria sobre seus ombros essa responsabilidade, elaborando, com todos os seus esforços, em seu novo mandato, se Deus o quiser o povo assim o escolher, um grande projeto de inclusão social que tiraria de vez todo esses meninos da rua.
        -Um projeto de carência zero!- concluiu o político.
 
         O enterro foi concorrido. Houve muitas flores, um caixão bonito e coroas enviadas por deputados candidatos também a novos mandatos. Chegaram também flores enviadas por dois candidatos que concorriam com o governador. Além das autoridades políticas, a imprensa entrevistou também os religiosos presentes que acordaram um culto ecumênico pela triste passagem do garoto
                                                           
                                                 ***
         Passado o tempo, não se falou mais no caso, e eu mesmo não me lembrava dele. Por um acaso, hoje cedo, veio-me tudo à lembrança. Pela hora do almoço, tendo que ir ao interior do Estado às pressas, resolvi comer apenas um lanche e nem mesmo quis me sentar. À porta do bar, enquanto meu lanche cozia na chapa, virei para a calçada e notei um garoto que riscava a calçada com um pedaço de rodo, como se se desenhasse algo no chão. Pareceu-me muito conhecido, mas minha memória não o ligava a nada. Ao seu lado tinha um pequeno balde. Ele notou que eu o examinava e abaixou mais a cabeça.
         -Não aceita um lanche, menino? E fiz sinal para que viesse.
        Veio logo, mas andando vagarosamente, com os pés nus sobre o chão de concreto.
         Dei a ele o lanche que o chapeiro me entregava e pedi que me fizesse outro. Quando o menino ergueu a cabeça, tudo me ficou repentinamente muito claro.
         -Você não conheceu um menino que vivia aqui pela rua? - arrisquei, mas ele não respondeu nada.
         -Que limpava os carros e que morreu, o pelezinho?
        O menino afastou-se de mim, com a cabeça baixa e disse já um pouco de longe e sem se voltar:
        -Era meu irmão.
 
Elói Alves

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