Elói Alves
Pedro um dia riu-se com graça de uma senhora, muito idosa, que vinha vê-los na volta das consultas e dos exames médicos. Terminado o encontro, muito contente e emocionada, foi despedir-se deles, mas não achava as palavras que procurava, para as empregar:
− Muito agradecida, bispo, quer dizer, pastor, perdão, dou...
− Doutor, completou Teodoro, ajudando-a.
− Isso, doutores de Nosso Senhor! Muito agradecida, filhinhos! Que Nossa Senhora vos proteja!
Em uma outra semana, esta mesma senhora, vindo do médico, aproximou-se de Teodoro e pediu uma senha para falar a sós com o doutor Pedro. Ele lhe pediu que fi casse para o fi nal, que as senhas tinham acabado, mas Deus era grande. Silvano, informado por Teodoro, pediu a este que a trouxesse até ele. Com imenso cuidado, Silvano, vendo que estava nervosa, acalmou-a, conversando carinhosamente com ela e pedindo-lhe que ficasse tranqüila, que havia uma senha guardada, porque pressentira que uma necessidade especial surgiria e era certamente o caso dela. A senhora segurou as mãos dele e as beijou chorando.
− Acalme-se, por favor! O doutor atenderá a senhora! Não há necessidade de choro. Traz as mãos geladas, querida! Mas o coração está quente, tenho certeza − disse-lhe Silvano, procurando tranqüilizá-la.
A sós com Pedro, ela sentou-se em um banquinho que eles improvisavam e beijou as mãos dele comovida:
− Meu doutor de Deus!
− Fale, minha querida!
− Sabe que tenho muitas feridas aqui dentro.
− Sim...
− Muitas, doutor, por Deus!
− Não jure, não é preciso! Suas palavras são o bastante. Só é preciso que fale.
A velha senhora pôs-se a chorar sem parar. Pedro pegou uma caixa de lenços de papel, que trazia a propósito e, tirando uma porção deles, pediu que os usasse. Ela quis recusar, mas ele insistiu:
− Tome, querida! Não precisa mais chorar, hoje estou para escutá-la.
Pedro vendo que o tempo ia passando e que os outros dois o olhavam de lá à espera, para que lhe enviassem uma outra pessoa que aguardava, fez sinal a Silvano que esperasse.
− Continue, por favor! Fale para que eu possa ajudá-la.
Ela contou suas desilusões com a medicina e com os homens. Havia sofrido muitos anos com o marido doente. Corrido para todos os lugares, sem remédio, até que Deus o recolheu para si. Depois foi ela quem adoeceu. Não sabia há quanto tempo se tratava com médicos, sem, no entanto, curar-se.
Tinha freqüentado diversas religiões, nunca obtendo resposta alguma que a socorresse. Contou-lhe que tinha viajado aos Estado unidos e à Europa em busca de saúde e que os remédio de lá, como os de cá, foram tão frágeis como impotentes e que a deixaram apenas mais pobre e ainda mais desiludida, ao ponto de desanimar da vida. Passara-se quase meia hora. Pedro pegou em suas mãos delicadamente e, sentindo-lhe o pulso, disse de modo dócil:
− Eita, danada, mãos frias e coração quente!
− Graças a Deus, doutor!
− Olha bem, querida − retomou Pedro. Não se esqueça, estamos na Europa, guarda bem e com carinho este momento. Amanhã continuamos exatamente daqui. Dá um abraço aqui no doutor.
Pedro levantou-se devagar e estendeu as mãos para ajudá-la. Ao mesmo instante, fez sinal para que Silvano viesse levá-la.
Leia o capítulo quatro
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