sábado, 10 de setembro de 2011

ANÚNCIOS PELA CIDADE

       "PROCURA-SE" dizia o título de anúncio em um cartaz de um poste, próximo à Câmara Municipal de São Paulo no viaduto Jacareí. Apreensivo a princípio, fui relaxando, no entanto, e logo o achei pitoresco. Era sobre uma dessas aves que falam ou tentam falar. Havia sumido fazia dias, era um xodó para a família, sentia-se falta em casa, em fim, dizia a palavra “tatá” e seria recompensado com dinheiro o bom coração que o achasse e o devolvesse. Demorei-me ali um instante e minha namorada veio também ler o anúncio e acabou-se rindo.
       Em caminho a um teatro da Brigadeiro Luis Antônio fui me lembrando de alguns anúncios antigos e curiosos que me ficaram à cabeça. Depois da época dos outdoors a cidade mudou de cara com a entrada em vigor em 2007 da “ Lei da Cidade Limpa”. Mas quem está habituado à cidade desde os anos anteriores vai se lembrar de como sua paisagem era diferente. Quem vai atualmente de São Paulo aos municípios da região metropolitana, ou faz o caminho inverso, sente rapidamente a diferença. Eu mesmo levei um susto há coisa de um ano quando fui a uma palestra em uma escola na entrada de Taboão da Serra, indo pela Avenida Francisco Morato, logo ali depois do Butantã. A escola funcionava em uma casa pequena e térrea, a rua era estreita e sem saída, a placa via-se a novecentos metros, com o nome e o lema da instituição em letras e cores chamativas.
       Um dos lugares de maior concentração de publicidade externa era os grandes corredores viários da cidade, como as Marginais Tietê e Pinheiros e a Avenida Radial Leste. Mas as avenidas menores não ficavam excluídas. Na Rebouças, na Avenida São
João, na Rua da Consolação, na Avenida Doutor Arnaldo largos espaços eram ocupados por outdoors, placas, faixas de vários tipos e tamanhos. Também as faixadas dos prédios eram pintadas com anúncios ou tinham cartazes gigantescos colados em suas laterais, de modo que muito antes de se entrar na cidade já se podia ler na parte alta dos prédios do centro propagandas de roupas, marcas de calcinhas e cuecas, nomes de galerias comercias e a insistente ordem para se tomar coca-cola.
       Mas a disputa por espaços não era harmônica nem benévola. Algumas marcas mais poderosas ocupavam os melhores locais ao longo de todo o ano. No entanto, em períodos eleitorais, mesmo marcas internacionalmente conhecidas não podiam disputar com alguns nomes tradicionais ou economicamente mais poderosos da política. No período da campanha as marcas comerciais cediam espaço às caras engravatadas dos candidatos. Mesmo alguns vereadores tinham propaganda em nível de candidato a prefeito. Era colossal.
      Algumas propagandas nos distraiam, é verdade. Outras eram aturáveis. Mas a maioria era um tédio. Tédio infernal às vezes, quando a mesma placa era posta em grande quantidade numa mesma via. Dessa estirpe eram aquelas propagandas do candidato de quem não gostávamos. E lá estava ele, enorme, dando-lhe jóia e olhando no fundo dos seus olhos, rindo-se; e você querendo chorar.
         Na parte da estratégia o publicitário não podia brincar. A concorrência era grande, o povo andava saturado, como ele iria captar atenção? Houve um de que me lembro bem, e nem sei como classificá-lo, que foi uma peça única. Numa segunda feira, ao entrar na Radial Leste, vi um outdoor de fundo branco com os dizeres garrafais: “ELE VEM A!”. Na verdade, foi espalhado por vários pontos da cidade. Na terça, ele não veio, nem na quarta; na quinta, já não tinha mais graça alguma. Mas na segunda feira da outra semana, ele lá estava no outdoor seguinte da série, firme e imponente: era um talco que fulminaria de vez com o chulé.
         A Lei da Cidade Limpa surgiu com intenção de acabar com a poluição visual da cidade, proibindo a publicidade externa como autdoors, painéis em faixadas de prédios, backlights e frontlighs. Além disso, traz a proibição de anúncios publicitários em ônibus, táxis e bicicletas. Essas medidas e outras regulamentações da lei provocaram fervorosos debates na imprensa e em diversos setores da sociedade paulistana à época de sua promulgação e ainda hoje é tema importante e bastante recorrente.
         Uma implementação dessa altura gera naturalmente vários descontentamentos. Nem todos que são contrários à lei deixam de ter bons argumentos para criticá-la e, assim, suas razões. O empresário quer anunciar seus produtos, o comprador precisa de ter ciência de tal fato. O empresário para anunciar contrata um agência de publicidade; ambos pagam impostos com essas atividades; precisam ainda de funcionários para levar as tarefas a cabo, gerando emprego para a população; e, por sua vez, o proprietário que cede o espaço para a placa de publicidade ganha também o seu dinheirinho.
          Essas razões parecem ser boas e louváveis, mas também há o lado da cidade, de como fica ela em meio a tudo isso? É neste ponto que entra o papel da sociedade e do gestor público. Aí está a questão de ver o que é melhor para a cidade no seu todo. Como fazer a cidade mais limpa, como combater e diminuir a poluição visual e de outras naturezas, como melhorar a qualidade de vida dos que a habitam, que implica em resolver os problemas da cidade. Sem dúvida é uma questão complexa que exige firmeza e compreensão em seu enfrentamento.
         Um meio termo são boas alternativas. O administração pública pode combater a poluição visual por outros meios, menos rigorosos. Poderia recorrer a conscientização das pessoas em geral, do empresário. Poderia ainda oferecer incentivos fiscais aos empresários de boas ações. Por outro lado, o empresário poderia anunciar também por outros meios. Há hoje a mídia eletrônica, a internet, as redes sociais, blogs, microblogs, além de torpedos por meio dos quais se pode atingir novos consumidores, inovar em seus meios de comunicação com seus clientes. Além disso, estão aí à disposição os velhos espaços dos classificados dos jornais, das revistas especializadas, o rádio e a televisão.
        A cidade de São Paulo é com efeito um microcosmos, um mundo dentro do mundo onde as coisas fervem e borbulham, onde os interesses são vários e diversos. Para isso está a administração pública, com a tarefa de regulamentar, normatizar e ordenar o espaço público, procurando ajustar-se ao bem da vida comum dos munícipes.
       Mas a Lei da Cidade Limpa tem uma tarefa árdua, pois, tanto organizações de todos os tipos e tendências como os populares possuem um espírito propagador. Quando
não se contentam em anunciar verbalmente, como faziam os arautos dos reis antigos, usam os inventos de Gutemberg, isto é, o papel e a tinta, que é mais interessante por ser mais moderno, sobretudo quando combinados com outros meios ou técnicas de imprensa ou de publicidade..
       Mesmo depois dessa nova regulamentação, tenho saboreado vários anúncios jocosos dos quais lembrarei apenas um. Era de um jornalzinho do centro sem boa diagramação onde se dizia ter perdido certa quantia de dinheiro, que não era muito. Sem maiores provas, dava apenas as ruas por onde havia passado no dia em que o perdera. Tinha ido da baixada do Glicério à praça do Patriarca e andado por outras ruas imediatas. Lamento mesmo que tenha andado tanto e não vejo nada de inverossímil em que se perca dinheiro entre tantos milhares e até milhões de transeuntes que se esbarram e até se atropelam na correria do dia-a-dia no centro. O que me parece mais difícil, para dizer pouco, é alguém conseguir achar algum, e, se o achar, ter o tempo suficiente de abaixar para pegá-lo.
Elói Alves


As pílulas do Santo Cristo, romance de Elói Alves

Prefácio:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/11/prefacio-de-as-pilulas-do-santo-cristo.html

Primeito capítulo:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-1-capitulo.html

Segundo Capítulo:
http://realcomarte.blogspot.com.br/2012/10/as-pilulas-do-santo-cristo-2-capitulo.html

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

NÃO HOUVE MUDANÇA (change) E OBAMA ESTÁ CAINDO


Por Elói Alves do Nascimento

A difícil situação econônica dos Estados Unidos tem levado a uma desaprovação de Obama pelos americanos, que o consideram responsável pelo fracasso da economia do país. Nesta semana, o jornal americano The Washington Post publicou uma pesquisa que indica uma desaprovação de 60% dos eleitores no modo como o presidente americano vem conduzindo o processo econômico do país. Como tem sido demonstrado reiteradas vezes, a questão econômica tem sido decisiva para os projetos eleitorais em diversos países. Aqui mesmo, a chegada de Lula se deveu à crise econômica no segundo mandato de FHC e o crescimento da economia no segundo mandato de Lula levou Dilma a sucedê-lo. Deste modo, a disputa pela presidência nos Estados Unidos não será algo fácil para Obama, na tentaiva de um segundo mandato, devido exatamente à crise econômica.
Na verdade, o que se esperava de Obaba era a mudança (change) tão propagada em sua capanha. E não só na economia a mudança não veio, como também não ocorreu na condução da política externa americana, onde o presidente anterior, W. Bush, cometeu tantos erros. Um erro que se mostrou depois absurdo foi a crença de que seria fácil instituir no Iraque uma democracia de modelo ocidental, como se espera agora para Líbia.
A política externa americana de Obama mostrou muita semelhança com seu antecessor. Em 2009 houve em Honduras um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos, já na era do atual presidente americano. A própria ONU (Organização das Nações Unidas) considerou, na Resolução da Assembleia Geral, o ato como Golpe Militar, uma vez que o exercito de Honduras se prestou ao serviço de expulsar do país o presidente Zelaia, ainda de pijamas. Além do que a constituição hondurenha proibe a entrega de qualquer cidadão do país a autoridades do exterior.
Na questão dos bombardeios da Líbia pela OTAN também houve um descumprimento da resolução do Conselho de Segurança da ONU, que não permitia ataques a alvos na Líbia, exatamente como Bush, com sua doutrina de “ataques preventivos” a potenciais inimigos. Bush também havia patrocinado um golpe militar na Venezuela, que chegou a tirar Chaves do poder por dois dias em abril de 2002.
Com a situação complicada, principalmente no setor econômico, Obama terá uma tarefa muito dura na tentativa de se reeleger, seja qual for o republicano que vier a disputar a presidência com ele. O certo é que terá que trabalhar muito antes para interomper seu declínio na aprovação dos eleitores.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

DO MANUAL DOS GRANDES CORRUPTOS

ALGUMAS FRASES ESTRAÍDAS DO MANUAL DOS GRANDES CORRUPTOS:

‎"Estamos apurando todos os indícios e vamos até o fim neste processo. Se preciso for, cortaremos na própria pele, doe em quem doer, sangre quem sangrar".
Revelação de um ex-motorista parlamentar

domingo, 4 de setembro de 2011

DIÁLOGO SOMBRIO

-Olá! Que cara é esta?
-Soube que vou morrer.
-Que história é esta? Cada um tem seu dia, é óbvio. Mas...
-Um vidente me falou. Minha vida corre contra o relógio. Pereço-lhe mal?
-Não, não! O que foi que lhe disse?
-Disse-me que via a morte em meu caminho, adiante de mim.
-Sim...
-E que via uma sombra.
-Uma sombra...?
-Sim, escura e móvel, quase a me encobrir.
-Não compreendo...
-Às vezes ela se fazia altíssima.
-Hum...
-Disse-me também que meus dias estão contados, que se vão diminuindo, como o bate-bate do relógio.
-Nossa!
-Antes de consultá-lo, já havia me sentido mal.
-Por que não vai ao médico?
-Não vem ao caso a medicina tradicional. Três vezes por semana, vou à clinica espiritual do vidente.
-E sua família?
-Estão todos contra mim. Graças a Deus, o vidente me compreende. Se não melhorar, modificarei meu testamento, destinando-o à clínica onde me trato. Adeus!
Elói Alves do Nascimento

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