sábado, 9 de julho de 2011
A ONÇA DE TIO GERBÚLIO E MACUNAÍMA
Uma das histórias mais recontadas por tio Gerbúlio , lá na varanda, era a da onça, sobre a qual ele dizia ter montado quando moleque, no interior do Paraná.
Era assim:
O povoado era pequeno, havia muito mato e muito morro. Um dia correu um boato de que uma onça enorme andava por aqueles matos à noite. Alguns diziam que já a tinham visto de dia.
Como o povo era medroso, ninguém se arriscou a ir lá verificar a verdade e apenas proibiram as crianças de ir à beira dos matos.
Mas Gerbúlio era curioso e teimoso desde muito cedo.
Passou a sondar o caso de perto, sempre com cuidado e sozinho. Quando amanhecia, ia para próximo dos matos. Logo achou uma boa árvore, e montou ali o seu quartel general. Depois de uns dias, viu a onça. Não era tão grande como tinham dito. Mas era verdade que tinham visto a bichona. Só que também não era pintada, como tinham dito.
___O povo mente muito, dizia o tio, interrompendo a história.
Como a onça se mexia pouco, concluiu que ela estava doente ou fazia-se de esperta. Gerbúlio resolveu testá-la. Pegou o estilingue e acertou-lhe a cabeça da bicha com uma das cinco pedrinhas que trouxera. A pequena pedra foi bater bem no meio da testa da onça
___Mas ela não tombou, feito o gigante da bíblia, alertou logo o tio.
. Ela levantou-se, bem devagar, e se foi sumindo dentro da mata, sem por no chão uma das patas de trás. Pronto, estava mesmo machucada!
__Resolvi não contar nada para ninguém
Gerbúlio tinha reflexão. Ou iam proibi-lo de voltar aos matos ou iriam todos juntos matar a onça machucada.
No outro dia acordou bem cedo. A bem dizer, pouco dormiu. No caminho para os matos, viu que a arapuca do Bimboca tinha pego um preá gordo e resolveu levar essa comida à onça. A bichona aceitou satisfeita. No dia seguinte, mais cedo, levou água e uma galinha e, no terceiro, montou no pelo escuro da amiga.
__Quando fecho os olhos, ainda vejo a danada, dizia.
Mas a onça sumiu de vez, e Gerbúlio só acordou o segredo depois de grande.
Uma vez que ele contava de novo a história, meu avó gritou lá da sala:
___Esse Gerbúlio é um Macunaíma!
Jão Gerbulius Sobrinho
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