Tio Gerbúlio vivia a vida dentro do bar, de que era dono. De vez em quando pegava em uns doces e ia lá em casa ver os sobrinhos. Logo que chegava, ia para a varanda, onde se fazia uma reunião aos seus pés. Os pequenos vinham pelos doces, os graúdos, pelas histórias, e todos ficavam por ali, a escutá-lo.
Certa vez, veio com esta:
Um homem estranho, que nunca falava, apareceu um dia no bar, ao pé da noite. Pediu uma cerveja, três copos e bebeu dela calado. Pagou e saiu. Voltou na tarde seguinte; depois, na outra e virou freguês. Mas Gerbúlio achava o homem ainda mais estranho. Esperou uma oportunidade discreta e perguntou se era promessa a algum santo.
__Não! Disse o homem. É que somos três irmãos, e como nunca nos vemos, bebemos um pelos outros.
Depois disso, estendeu os dias calado e cabisbaixo. Sempre a cerveja e três copos. Bebia quieto, não olhava para ninguém e saía olhando o chão como tinha entrado. Passou-se assim um tempo.
Um dia, quando já o tinham esquecido a um canto, causou, porém, um espanto., Ao entrar, pedira a cerveja e só dois copos. Tio Gerbúlio ia falar, mas espremeu as palavras, exatamente como fazia o homem taciturno. No outro dia, no entanto, como o homem insistiu nos dois copos, nosso tio se chegou de manso e fazendo cerimônia:
__O amigo vai bem? Aconteceu alguma coisa como algum dos nossos irmãos?
__Está tudo bem!
__Mas... só tem dois copos...
__Ahh!, Fez o homem, explicando-se. É que eu parei de beber.
João Gerbulius Sobrinho
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