No domingo, depois da missa, tio Gerbúlio disse para a mulher, à porta da igreja:
-Vai aprontando o almoço, que vou dar uma volta com o menino.
Dona Prudência rumou para casa com os vizinhos, que iam descendo, e o marido entrou pela rua da feira com o Gerbulinho.
O menino, aos seis anos, já dava mostras que seria bom de garfo como o pai. Na barraca do japonês, comeram cada um dois pasteis e tomaram caldo de cana. Quando tio Gerbúlio o chamou para ir andando, ele falou, decidido:
-Espera, pai, agora quero mais um de carne.
-Vai comer mesmo? Olha que em casa vai ter que almoçar, senão sua mãe me mata.
-Almoço sim, pai. Não almocei no domingo passado?
E era verdade. Na semana anterior, a mesma cena já havia se passado.
Os dois caminharam ainda olhando as barracas. Tio Gerbúlio tinha comprado algumas frutas, que gostava de ter em casa. Já no fim da feira, lembrou-se da barraca de doces. Foi até lá e comprou um pote de marmelada. Era um mimo para agradar a mulher.
Na entrada de casa, separou a marmelada das frutas e disse:
-Trouxe um docinho da feira pra você, meu bem. Tá uma delícia, quase igual a doçura do teu beijo!
Dona Prudência, que não gostava muito das prosas do marido, respondeu de dentro:
-Traz logo esse doce pra eu comer um pedaço, homem! E vê se larga de bestagem!
Jão Gerbulius Sobrinho
(Este texto faz parte das histórias do tio Gerbúlio)
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