Chamam-me Aziraldo e estou agora de férias e em repouso. E meu repouso agora se estenderá para além dos meus dias de folga.
Mas acham que estou sob meus planos? Pois que não. Se querem saber quais eram, já lhes digo: ia à praia, escrever uns sonetos na areia.
Mas eis que choveu no primeiro dia. E choveu a tal ponto que recolhi as malas a um canto e fui à janela ver se passava. Mas as ruas foram se enchendo, mais e mais. No segundo e no terceiro dia pouco mudou. Parava a chuva, vinha a garoa. Cessava o trovão, vinham os raios.
-Que venha o dilúvio, seu São Noé!
Mudei de planos: fui à estante e peguei de um livro. Mas, hahhhh! Pensam que eu perco o pique? Fui atrás de umas redes que ganhei de uns índios quando fui anos atrás à Amazônia. Coisas boas e invejáveis! Todas trançadas artisticamente no cipó. Mas onde andavam? Os cipós ainda tinham pernas.
Não perdi tempo. Fui à cama e puxei do lençol, que me veio sorrindo, malicioso. Oh, terei minha rede, pensei.
Finquei-o entre a janela, dando-lhe um nó cego, e um gancho na parede oposta. Saquei do livrinho, e para que ler..., se eu podia comtemplar a chuva e me vingar dela, superiormente?
Foi o que fiz. A tal ponto que relaxei e balancei.
Vezes e vai!
Vezes e vem!
Já chego ao Japão,
já volto ao Brasil!
Quando meu primo entrou pela sala, lancei-lhe as poesias levemente pelos ares e lhe gritei:
-Oh, Luis, vais de Camôes?
Ele não ia nem foi. Correu ao meu encontro, quando viu que o lençol se rompia, ralando na coluna da parede. E, antes de qualquer coisa, fui eu imediatamente ao chão.
Abrevio, caro amigo e simpática amiga. Escrevo-lhes do hospital. Estou de bruço e enfaixado por toda as costas, que é agora navegada por umas coceiras irritantes que não acabam nunca e que não posso coçar.
Meu primo, pensando em amenizar meus dias sobre essa cama estreita, trouxe-me as poesias de volta; porque, certamente, serviria agora mais a mim que a ele, que ia à praia, já que o sol saiu e já queima forte.
Mas espera! Deixa fazer que estou dormindo, que a enfermeira lá vem com remédio amargo e sopa sem sal.
Elói Alves
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Eloi
ResponderExcluirRi pacas de seu Azarado.
estava na cara que aqule lençolzinho malicioso andava planejando alguma coisa.
Parabéns
Elis
Muito grato, Beth, beijão!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFoi removido por mim mesma,por erros de escrita.
ExcluirNossa, coitado do azarado começar o ano assim com tanta má sorte e burrice kkkk ninguém merece !!!da onde ele tirou essa idéia de que lençol serve para fazer rede !!! uma coisa ele acertou, ele queria repousar balançando na rede né, então ele conseguiu tá repousando bastante nas férias todo quebrado kkkkk.
ResponderExcluirMuito legal meu amigo esse texto, tô vendo que esse ano a sua inspiração tá bastante aguçada,e vamos ter bastante textos legais como esse para ler !! Mil beijos meu amigo.
Não se trata de azar e sim de escolha! ao invés de querer vingar-se superiormente da chuva, tivesse optado pela deliciosa leitura ao som do inspirante gotejar e com certeza a improvisada rede não teria se rompido vez que não se balança ao ler a fim de evitar enjoo. Ampliou-se suas férias o que para brasileiro isto não é azar! rs. Amei Elói, bem pitoresca!
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