O filme “O advogado do diabo", com Al Pacino, voltou à minha cabeça depois que ouvi as declarações do criminalista defendendo o que ele chamou de “ética da profissão” dos bandidos da USP, que são seus clientes. No filme o diabo que é dono de escritório de advocacia faz seu criminalista predileto ganhar causas de crimes pavorosos. A certa altura ele diz que com o número crescente de advogados o “cheiro ia chegar no ceu”. Era um meio de atacar a Deus, que podemos traduzir na sociedade como o bem.
O Brasil está cada vez pior no sentido de valorizar o bem, do trabalho honesto, do estudo, da dicação pessoal para vencer, do bem comum. Só quem deu seu suor dia e noite numa dedicação extrema para passar no maior e mais concorrido vestibular como da USP, onde eu também estudei, sabe o que é uma luta de superação extrema. Ai vem um bandido, um criminoso, assassino frio e articulado e sai pelas portas da frente da delegacia e seu defensor ridiculariza o sentimento de dor que é já de grande parte das pessoas de bem e não mais restrito à família enlutada e esmagada em todos seus sonhos. Eu tive que lutar em condições extremas para estudar e trabalhar. Fiz suplência e estudei na USP. Tenho de continuar estudando e trabalhando e dizendo ao meus alunos na escola pública que o bem compensa, que devem lutar para mudar suas vidas, que o maior esforço deve partir de cada um. E isso é muito difícil numa sociedade cujas instituições são precárias e o sistema jurídico permite que bandidos e assassinos se deem bem. O próprio Pimenta Neves pôde ficar solto vários anos, como os bandidos assassinos do meu colega de USP estudante da FEA.
Dos altos cargos do governo vem o pior exemplo onde pessoas como Palocci que voltou ao governo no principal cargo como ministro mesmo tendo saído do governo de Lula por violar o sigilo de um caseiro. O próprio ex presidente o tem na conta de grande homem e tal vez de bom exemplo. O governo não se preocupou em passar uma imagem exemplar para as pessoas e é impossível se viver em sociedade sem bons valores e, mais ainda, sem a sensação de que o bem compensa e vale a pena lutar por ele e de que deve existir para seu próprio bem e auto-sustentação, para que não se degrade de vez. Mas quando o governo importa assassinos, como no caso do italiano Battisti, condenado por uma justiça soberana na Itália, essa sensação é jogada para baixo, para o zero. A OAB que tem prestado bons serviços em várias oportunidades para sociedade não pode ser corporativista no caso de advogados que manchem a classe, que não corroborem com a boa imagem para o bem comum e deve contradizer a máxima de que “lupus non mordet lupum”. Além disso, deve-se investigar com qual dinheiro os bandidos pagam seus advogados, seria dinheiro limpo? Do jeito que vai a coisa, o cheiro vai mesmo chegar no céu e o diabo acaba tendo razão, por que no filme isso é crítica contundente. Para quem prefere ainda o bem e pode fugir antes que tudo piore, um outro lugar para se viver é uma boa saída.
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